sábado, 14 de abril de 2018

.: "Ala de Criados" é um imperdível espetáculo reflexivo

Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em abril de 2018


"Ala de Criados", apresentada em sessão única no Sesc Santos, na noite de sexta-feira 13, é um espetáculo dos "retratos" da alta sociedade e das inevitáveis relações com seus súditos. Por meio de metáforas e comparações, os personagens Tatana (Maria Manoella), Emilito (Gabriel Miziara) e Pancho (Rodrigo Scarpelli) mostram o poder dos endinheirados, que não precisam trabalhar para sobreviver. Sem ter preocupação com as finanças, trio de primos que leva o sobrenome Guerra -não Guerrinha-, usa e abusa -literalmente- do empregado e comerciante emergente Pedro Testa (Eduardo Pelizzari).

O texto do dramaturgo argentino Mauricio Kartun, traduzido por Cecilia Boal e Rodrigo Arreyes, com a devida direção de Marco Antonio Rodrigues, é um tremendo soco no estômago ao disparar provocações a respeito da desigualdade. Embora cutuque descaradamente certos posicionamentos perpetrados na sociedade, há muita leveza na história. O uso do sarcasmo bem interpretado no palco transforma a carga dramática em gracejo. E o público se deixa envolver e se diverte também!

Numa interpretação vigorosa que domina o palco, Maria Manoella (a irmã Mirtes, da novela "Deus Salve o Rei"), mesmo quando não é a narradora de "Ala de Criados", como única mulher presente na trama, toma o posto de dona da história, pois transita livremente pelas figuras masculinas e costura todas as situações em cena -sempre roubando a atenção para o que acontecerá com ela na sequência. De fato, o espetáculo é um excelente folhetim!

Envoltos de regalias, no universo em que mandam e desmandam, os alienados Guerra, de férias, em um clube diante do Mar Del Plata, sem "defender" o sobrenome, apenas querem aproveitar o lado bom da vida, incluindo bebidas, banhos de Sol e jogos de tiros. Contudo, o enredo que está longe de ser mastigado para o público é reflexivo. Não há dúvida de que "Ala de Criados" é consistente, pois tem como pano de fundo um momento histórico da Argentina: a Semana Trágica, quando paralisaram a capital com greves e repressões

O trio, totalmente dependente de criados, coloca Pedro na posição de alguém necessário. Logo, assume o papel de empregado, amante e, por fim, de eliminado, ou seja, enquanto segue o que os figurões mimados desejam, não há problemas. Por outro lado, quando as diferenças sociais e ideais despontam, chega o momento de se livrar da "pedra", isto é, o Pedro de Eduardo Pelizzari, que está no meio do caminho e, não tem mais serventia. Retrato da prática de usar e jogar fora!

Assim, o trabalhador do clube remete, em determinados momentos, ao Johnny Castle de Patrick Swayze, no filme "Dirty Dancing". Fortão, que lida com frequentadores do clube de verão e faz serviços extras. Entretanto, Pedro vai além e Pellizzari representa muito bem o desejo da liberdade -tanto quando o dos pombos que mantém em cativeiro para a prática de tiros. No entanto, Pedro está preso, assim como os animais com asas que mantém. Alguns enjaulados, outros mantidos amarrados em rochas fortes, mas que não podem sair do lugar -tanto é que, em cena, a entrada de Pedro acontece de trás do grande material rochoso. Tal qual uma rocha, Pedro luta por seus ideais, mas termina longe da solidez. Afinal, a força dos que ordenam e têm dinheiro no bolso é a que vence.  

Além do texto de qualidade, das atuações fortes, em "Ala de Criados", o toque da sonoplastia com cliques fotográficos e a pausa -literal- dos atores no palco, enriquecem a narrativa de Tatana sobre os novos Guerra. Outro ponto positivo da montagem é a iluminação. No telão ao fundo, a troca de cores, gera um efeito belíssimo que é refletido nas garrafas e copos usados pelos atores, enquanto que a rocha, representando a resistência ganha novas cores de contornos, sem poder sair de seu lugar de origem. 

Embora o texto de Mauricio Kartun seja sobre um acontecimento de 1919, as implicações permitem que haja uma atemporalidade suficiente para que, até mesmo o público brasileiro, consiga se ver retratado. Enfim, a direção de Marco Antonio Rodrigues está irretocável! 


Serviço
"Ala de Criados"
Teatro
Não recomendado para menores de 14 anos
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*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura e licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos. Twitter: @maryellenfsm






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"Ala de Criados" é um imperdível espetáculo reflexivo * * * * * * * * "Ala de Criados", apresentada em sessão única no Sesc Santos, na noite de sexta-feira 13, é um espetáculo dos "retratos" da alta sociedade e das inevitáveis relações com seus súditos. Por meio de metáforas e comparações, os personagens Tatana (Maria Manoella), Emilito (Gabriel Miziara) e Pancho (Rodrigo Scarpelli) mostram o poder dos endinheirados, que não precisam trabalhar para sobreviver. Sem ter preocupação com as finanças, o trio de primos que leva o sobrenome Guerra -não Guerrinha-, usa e abusa -literalmente- do empregado e comerciante emergente Pedro Testa (Eduardo Pelizzari). O texto do dramaturgo argentino Mauricio Kartun, traduzido por Cecilia Boal e Rodrigo Arreyes, com a devida direção de Marco Antonio Rodrigues, é um tremendo soco no estômago ao disparar provocações a respeito da desigualdade. Embora cutuque descaradamente certos posicionamentos perpetrados na sociedade, há muita leveza na história. O uso do sarcasmo bem interpretado no palco transforma o carga dramática em gracejo. E o público se deixa envolver e se diverte também! Carrossel de fotos 📸📷 Leia o texto na íntegra em Resenhando.com #ResenhandoIndica #Resenhanders #teatro #SescSantos #espetáculo #dudupelizzari #mariamanoella #rodrigoscarpelli #marcoantoniorodrigues @marcoantoniorodrigues
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