Uma das principais argumentações de Lilla é que os reacionários não são conservadores e que, à sua maneira, são tão radicais quanto os revolucionários
Mark Lilla é conhecido por seus estudos sobre os dramas ideológicos do século XX. Em “A mente imprudente”, ele retrata como pensadores se sentiram atraídos a apoiar realidades tirânicas, como as vividas na Alemanha nazista, na China, na União Soviética e na República Teocrática do Irã. Em “A mente naufragada”, que lança agora no Brasil, o historiador americano se dedica ao espírito reacionário e à forma como ele se relaciona com a nostalgia política.
Lilla afirma que os revolucionários alimentam expectativas milenaristas de uma nova ordem social redentora de seres rejuvenescidos enquanto os reacionários são obcecados pelo medo apocalíptico de entrar numa nova era de escuridão e, por isso, se comportam de maneira nostálgica. “A nostalgia baixou como uma nuvem sobre o pensamento europeu depois da Revolução Francesa e nunca mais se afastou totalmente”, escreve no livro.
Para abordar a nostalgia política, o autor apresenta três ensaios sobre pensadores do início do século XX (Franz Rosenzweig, Eric Voegelin e Leo Strauss) e examina dois movimentos intelectuais contemporâneos. Além disso, aborda os atentados de Paris em janeiro de 2015.
“Por um lado, havia a nostalgia dos assassinos, de baixo nível educacional, por um glorioso passado muçulmano imaginário que hoje inspira sonhos de um moderno califado de ambições globais. Por outro, a nostalgia de intelectuais franceses que viam no crime uma confirmação de sua visão fatalista sobre o declínio da França e a incapacidade da Europa de se afirmar diante de um desafio civilizatório”, completa.
“A mente naufragada” chega às livrarias neste fim de março pela Editora Record.
Trecho:
“A mente reacionária é uma mente naufragada. Onde os outros veem o rio do tempo fluindo como sempre fluiu, o reacionário enxerga os destroços do paraíso passando à deriva. Ele é um exilado do tempo. O revolucionário vê o futuro radioso que os outros não são capazes de ver, e com isto se exalta. O reacionário, imune às mentiras modernas, vê o passado em todo o seu esplendor, e também se sente exaltado. Sente-se em mais forte posição que o adversário por se julgar guardião do que de fato aconteceu, e não profeta do que poderia ser. Isso explica o desespero estranhamente arrebatador que permeia a literatura reacionária, seu palpável senso de missão, tal como exposto pela revista americana National Review em seu primeiro número, a missão consistia em ‘posicionar-se contra a história gritando pare’. A combatividade da sua nostalgia é o que torna o reacionário uma figura tipicamente moderna, e não tradicional. [...]
E os reacionários da nossa época descobriram que a nostalgia pode ser uma forte motivação política, talvez mais poderosa até que a esperança. As esperanças podem ser desiludidas. A nostalgia é irrefutável.”
Mark Lilla nasceu em Detroit, EUA, em 1956. É professor na Universidade de Columbia e escreve regularmente para a revista New York Review of Books e outras publicações ao redor do mundo. Em 2015, venceu o prêmio de melhor comentarista de notícias internacionais concedido pelo Overseas Press Club of America.
Livro: A Mente Naufragada (The shipwrecked mind: on political reaction)
Autor: Mark Lila
Tradução de Clóvis Marques
126 páginas
Editora Record (Grupo Editorial Record)
Mark Lilla é conhecido por seus estudos sobre os dramas ideológicos do século XX. Em “A mente imprudente”, ele retrata como pensadores se sentiram atraídos a apoiar realidades tirânicas, como as vividas na Alemanha nazista, na China, na União Soviética e na República Teocrática do Irã. Em “A mente naufragada”, que lança agora no Brasil, o historiador americano se dedica ao espírito reacionário e à forma como ele se relaciona com a nostalgia política.
Lilla afirma que os revolucionários alimentam expectativas milenaristas de uma nova ordem social redentora de seres rejuvenescidos enquanto os reacionários são obcecados pelo medo apocalíptico de entrar numa nova era de escuridão e, por isso, se comportam de maneira nostálgica. “A nostalgia baixou como uma nuvem sobre o pensamento europeu depois da Revolução Francesa e nunca mais se afastou totalmente”, escreve no livro.
Para abordar a nostalgia política, o autor apresenta três ensaios sobre pensadores do início do século XX (Franz Rosenzweig, Eric Voegelin e Leo Strauss) e examina dois movimentos intelectuais contemporâneos. Além disso, aborda os atentados de Paris em janeiro de 2015.
“Por um lado, havia a nostalgia dos assassinos, de baixo nível educacional, por um glorioso passado muçulmano imaginário que hoje inspira sonhos de um moderno califado de ambições globais. Por outro, a nostalgia de intelectuais franceses que viam no crime uma confirmação de sua visão fatalista sobre o declínio da França e a incapacidade da Europa de se afirmar diante de um desafio civilizatório”, completa.
“A mente naufragada” chega às livrarias neste fim de março pela Editora Record.
Trecho:
“A mente reacionária é uma mente naufragada. Onde os outros veem o rio do tempo fluindo como sempre fluiu, o reacionário enxerga os destroços do paraíso passando à deriva. Ele é um exilado do tempo. O revolucionário vê o futuro radioso que os outros não são capazes de ver, e com isto se exalta. O reacionário, imune às mentiras modernas, vê o passado em todo o seu esplendor, e também se sente exaltado. Sente-se em mais forte posição que o adversário por se julgar guardião do que de fato aconteceu, e não profeta do que poderia ser. Isso explica o desespero estranhamente arrebatador que permeia a literatura reacionária, seu palpável senso de missão, tal como exposto pela revista americana National Review em seu primeiro número, a missão consistia em ‘posicionar-se contra a história gritando pare’. A combatividade da sua nostalgia é o que torna o reacionário uma figura tipicamente moderna, e não tradicional. [...]
E os reacionários da nossa época descobriram que a nostalgia pode ser uma forte motivação política, talvez mais poderosa até que a esperança. As esperanças podem ser desiludidas. A nostalgia é irrefutável.”
Mark Lilla nasceu em Detroit, EUA, em 1956. É professor na Universidade de Columbia e escreve regularmente para a revista New York Review of Books e outras publicações ao redor do mundo. Em 2015, venceu o prêmio de melhor comentarista de notícias internacionais concedido pelo Overseas Press Club of America.
Livro: A Mente Naufragada (The shipwrecked mind: on political reaction)
Autor: Mark Lila
Tradução de Clóvis Marques
126 páginas
Editora Record (Grupo Editorial Record)
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