quarta-feira, 7 de março de 2018

.: Crítica: "MasterChef" estreia com duelos e promete histórias marcantes


Por Helder Moraes Miranda, em março de 2018.

Novos personagens, novas histórias e novos sonhos. No primeiro programa, vimos uma psicóloga, um advogado frustrado, segundo palavras dele, e um major disposto a recomeçar. Mas o que me intriga é porque há tanta gente disposta a recomeçar... Por que não escolheram a cozinha primeiro, antes de tentar outras coisas? Seria sonho mesmo ou a visibilidade que o programa proporciona? Muita gente bonita e disposta a aparecer. E as recompensas aumentaram...

A novidade para entrar no programa foram os duelos. E eu duvido que eles realmente se pautem "apenas" pelo sabor das comidas. O que querem mostrar, mais do que talento na cozinha, são histórias e vida e de superação. Não entendi o critério de escolha dos duelos, e também as receitas que foram cobradas. Foram aleatórias? Não foi explicado. As conversas dos chefs - Erick Jacquin, Henrique Fogaça e Paola Carosella - com os competidores, acredito, mais atrapalham do que ajudam. Mas seria também essa a função dos jurados: desestabilizar em nome do entretenimeto? Talvez.

O primeiro duelo foi entre Roccini e Dalvio. Roccini disse que se preparou por muito tempo, o que imagino que é a realidade de muita gente hoje: preparar-se para participar do "MasterChef". Enquanto preparavam os pratos em 45 minutos, respondiam perguntas dos jurados. A provocação de Dalvio com o concorrente, no entanto, além de ridícula, fez com que ele perdesse a torcida ali, afinal, comida é, também, energia. Mas no final, ele venceu, vamos ver por quanto tempo, se continuar com essa postura competitiva. Só no Brasil mesmo para um oriental fazer uma massa fresca, e essa mistura é linda! Também teve humor involuntário, quando Henrique Fogaça confundiu o nome de Roccini por... Duxelle?

Teve uma disputa entre um Major da Polícia Militar do Rio de Janeiro e uma personal trainer, que se cortou. Uma disputa de sobremesas entre maçãs, em que Valentim, o talentoso assistente administrativo, e Vinícius, o Belo consultor de marketing, precisavam se destruir para ganhar um avental. Vinícius, que não disfarçou o nervosismo, disse que era mais ousado. Valentim rebateu com uma resposta atravessada de que a sobremesa dele seria mais saborosa. Shades, e eu me senti em um "Rupaul's Drag Race" gastronômico... No final, ganhou a beleza. Não que isso queira dizer que Vinícius não é talentoso, veremos no decorrer do programa, mas que Valentim, aparentemente, teria muito mais a mostrar durante a competição.

A coreana Yulia e a modelo Crisleine, de Cabo Verde, representaram o embate internacional. Aliás, como se chama quem nasceu em Cabo Verde? Mas Jacquin veio com um papo de quem cozinha melhor, gente da África ou da Ásia, e rolou um discurso meio politicamente incorreto e, até, racista. Yulia não será a bilíngue da temporada, mas Crisleine, lacrimosa desde o início, mostrou uma autopiedade que não me agradou. Tomara que consiga conquistar o público ao longo da temporada.

Mais adiante, Aristeu e Jaime competiram. Enquanto o primeiro levou leveza, o segundo trouxe um peso estranho à competição. Não sei por quê, mas pensei que a escolha de um ou outro daria o tom da quinta temporada. Gostei da escolha dos jurados, é melhor assistir alguém leve no fim da noite do que alguém que possa colaborar com pesadelos.

Descendentes de alemães, Ana Luíza e Rui disputaram a supremacia de quem cozinha melhor. Mas era mais que uma competição entre representantes da Alemanha, era uma guerra dos sexos. E, nesse caso, ganhou um homem. Ambos cozinharam um schnitzel, prato típico, mas com a postura de "já ganhei". Torcia por ela, mas não gostei do que ambos apresentaram.

O ator carioca Gabriel e Cauê, artista de rua, que levou um bambolê prosseguiram com as apresentações. Mas por que alguém leva um acessório desses para apresentar um prato para os jurados? De qualquer maneira, Carlos, o emprsário, metido a tirar sarro de outro competidor, Pablo, um estagiário jurídico, também não apresentou a melhor das posturas. A edição confusa de mostrar duas disputas ao mesmo tempo confundiu e, no final, ganharam o avental Cauê e Carlos.

Anielle e Katleen, duas mineiras disputaram a receita que é preferência nacional de muitos estrangeiros: o pão de queijo. Mas pão de queijo é frito? Eles, os jurados, não pregam que o clássico não pode ser mudado? Anielle, a que perdeu, entregou um pão de queijo. Katleen entregou uma outra coisa, talvez até mais saborosa, que não era um pão de queijo, talvez um salgadinho.

A inovação veio por conta da entrada de um Padre, Evandro, na competição. Ele, como já havia sido divulgado antes, chegou repleto de expectativas do público e disputou com Césare, um veterano, a receita de pratos de carne. Será interessante ver como um padre irá se comportar dentro do programa, se tem rompantes de perda de paciência, ou se vai manter a competição na "santa paz de Deus". Na disputa com Césare, ele se mostrou extremamente competitivo. Aliás, Césare, um falastrão de primeira, também seria diversão na certa. Cheguei a torcer por ele, o Padre parece "meio chatinho". Mas imagine o tempo correndo solto dentro de uma prova e Césare querendo conversar com os outros competidores?

Em muita coisa o "MasterChef" não muda: o carisma dos jurados e dos cozinheiros escolhidos, a fome que dá assim que vemos os pratos sendo preparados, muita gente que está ali apenas para aparecer e outras insatisfeitas com a trajetória que levam e buscam novos caminhos. Em comum, todos eles têm sonhos que conduzem à glória. Chega a ser triste saber que apenas um irá vencer.


*Helder Moraes Miranda escreve desde os seis anos e publicou um livro de poemas, "Fuga", aos 17. É bacharel em jornalismo e licenciado em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura, pela USP - Universidade de São Paulo, e graduando em Pedagogia, pela Univesp - Universidade Virtual do Estado de São Paulo. Participou de várias antologias nacionais e internacionais, escreve contos, poemas e romances ainda não publicados. É editor do portal de cultura e entretenimento Resenhando.

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