Nenhum resumo poderia revelar a verdadeira face de Dorian Gray. Ela está nas páginas do romance, e lá que ela se apresenta em sua complexidade. Pelos olhos de lorde Henry, Dorian era "mesmo muito bonito, os lábios escarlates bem torneados, os olhos azuis, claros, os cabelos dourados, encaracolados. Havia algo, naquele rosto, que fazia que se acreditasse nele imediatamente. Ali estava toda a candura e também a pureza passional da juventude. Sentia-se que o jovem se mantivera inatingido pelo mundo". Lorde Henry chega a compará-lo com as obras de mármore gregas. É essa imagem de uma beleza clássica que fica. Dorian encarna, em todos os aspectos, o ícone da beleza: quando seu retrato passa a envelhecer em seu lugar, ele quase se torna uma figura fria, vazia, como uma estátua.
Ele passa a ser uma espécie de discípulo de lorde Henry, com sua ideias sobre a beleza eterna, sobre o hedonismo, com seus aforismos sobre todos os assuntos mundanos (e que agradavam tanto ao próprio Oscar Wilde). Dorian vai aos poucos entrando nesse fluxo de ideias, abandonando toda e qualquer paixão real que não seja pela beleza eterna. Chega a ser aflitiva a forma como ele recebe a notícia do trágico suicídio da jovem Sibyl Vane, a atriz por quem ele se apaixonara e depois rejeitara quando ela atuou mal em "Romeu e Julieta", de Shakespeare. Essa experiência dramática não o marca, de forma nenhuma.
Uma reflexão de lorde Henry parece revelar a conduta que o jovem irá seguir: "A experiência não possui qualquer valor ético; não passa de um nome com os homens designaram os próprios erros. Os moralistas, como regra geral, sempre a consideraram um modo de alerta, sempre reivindicaram para ela uma certa eficácia ética na formação do caráter, enalteceram-na como algo que nos ensina o que seguir e nos mostra o que evitar. Mas a experiência não possui qualquer força motriz".
Wilde joga toda essa experiência para o retrato que Basil Hallward fez de Dorian. O pintor é uma espécie de contraponto dos pensamentos tanto de lorde Henry como de Dorian, o aluno extremado. Em Hallward, a moral, a ética, a experiência são fundamentais, para sua arte. Ele busca a beleza, mão não abandona o mundo por esse ideal. No entanto, Wild o pinta como um ingênuo, uma figura menos sagaz e menos interessante do que Wotton ou Dorian Gray.
A beleza do romance de Wild está na confluência dessas figuras, cujas atitudes vão sendo apresentadas e confrontadas ao longo da narrativa. O retrato, que dá ação ao enredo, parece conter a experiência que procura encontrar um lugar neste mundo sufocante de jantares, concertos e passeios. A verdadeira tragédia é recolhida nessas camadas de tinta, em toda a sua crueza, algo que um esteta como Dorian e seu mestre Wotton jamais suportariam.
Texto retirado do livro "O Retrato de Dorian Gray", de Oscar Wild; tradução de José Eduardo Ribeiro Moretzsohn. - São Paulo: Abril, 2010. 304p. - (Clássicos Abril Coleções; v.4)
Ele passa a ser uma espécie de discípulo de lorde Henry, com sua ideias sobre a beleza eterna, sobre o hedonismo, com seus aforismos sobre todos os assuntos mundanos (e que agradavam tanto ao próprio Oscar Wilde). Dorian vai aos poucos entrando nesse fluxo de ideias, abandonando toda e qualquer paixão real que não seja pela beleza eterna. Chega a ser aflitiva a forma como ele recebe a notícia do trágico suicídio da jovem Sibyl Vane, a atriz por quem ele se apaixonara e depois rejeitara quando ela atuou mal em "Romeu e Julieta", de Shakespeare. Essa experiência dramática não o marca, de forma nenhuma.
Uma reflexão de lorde Henry parece revelar a conduta que o jovem irá seguir: "A experiência não possui qualquer valor ético; não passa de um nome com os homens designaram os próprios erros. Os moralistas, como regra geral, sempre a consideraram um modo de alerta, sempre reivindicaram para ela uma certa eficácia ética na formação do caráter, enalteceram-na como algo que nos ensina o que seguir e nos mostra o que evitar. Mas a experiência não possui qualquer força motriz".
Wilde joga toda essa experiência para o retrato que Basil Hallward fez de Dorian. O pintor é uma espécie de contraponto dos pensamentos tanto de lorde Henry como de Dorian, o aluno extremado. Em Hallward, a moral, a ética, a experiência são fundamentais, para sua arte. Ele busca a beleza, mão não abandona o mundo por esse ideal. No entanto, Wild o pinta como um ingênuo, uma figura menos sagaz e menos interessante do que Wotton ou Dorian Gray.
A beleza do romance de Wild está na confluência dessas figuras, cujas atitudes vão sendo apresentadas e confrontadas ao longo da narrativa. O retrato, que dá ação ao enredo, parece conter a experiência que procura encontrar um lugar neste mundo sufocante de jantares, concertos e passeios. A verdadeira tragédia é recolhida nessas camadas de tinta, em toda a sua crueza, algo que um esteta como Dorian e seu mestre Wotton jamais suportariam.
Texto retirado do livro "O Retrato de Dorian Gray", de Oscar Wild; tradução de José Eduardo Ribeiro Moretzsohn. - São Paulo: Abril, 2010. 304p. - (Clássicos Abril Coleções; v.4)
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