quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

.: Entrevista com Mateus Ribeiro, o Peter Pan do Musical da Broadway


"Eu gosto de viver o presente".

Por Helder Moraes Miranda com a colaboração dMary Ellen Farias dos Santos , em fevereiro de 2018.

Nascido em Florianópolis, Mateus Ribeiro se prepara para viver o grande desafio de sua carreira. Ele interretará o emblemático personagem Peter Pan, na montagem brasileira do famoso musical da Broadway. 

Nos últimos anos, ele integrou o elenco de algumas das maiores montagens de teatro musical no Brasil, como ‘‘Cabaret’’, estreando profissionalmente nos musicais ao lado de Claudia Raia e de grandes nomes como Jarbas Homem de Melo e Marcos Tumura, "O Mágico de Oz", "Crazy For You", "Chacrinha - O Musical" e "Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos", com direção de Miguel Falabella.

Também atuou em “Meu Amigo, Charlie Brown” e “60! – Década de Arromba – Doc. Musical”. Nessa entrevista exclusiva, ele fala com profundidade sobre a Síndrome de Peter Pan e, entre outros assuntos, as vantagens e desvantagens das crianças e adultos.


RESENHANDO.COM - Como foi a preparação para interpretar um personagem tão emblemático quanto o Peter Pan?
MATEUS RIBEIRO - Bom, eu comecei a estudar bastante antes mesmo da época dos testes. A principio, comecei me preparando fisicamente, fazendo aulas de Ginástica Olimpica, pois em algumas montagens da Broadway o personagem exigia isso. Nessa época, cheguei a decorar todas as músicas e a ver todos os vídeos de montagens do musical pelo mundo. Após passar para o papel, eu foquei mais em conhecer o personagem melhor e tentar entender de onde vinham as referências do autor, J. M. Barrie. Li o livro, vi bastantes filmes e pesquisei muito sobre a historia, autor e a época. 


RESENHANDO - Em que você é mais parecido, e em que é mais diferente, do Peter Pan?
M.R. - O Peter é bem esquecido, chegando ao exagero, é uma caracteristica forte dele, apesar de não ser tão explorada nos filmes e musical, e eu também sou meio ruim de memória com algumas coisas específicas. Já de diferença, o Peter é muito egocêntrico, ele ama tudo que faz e "se acha" de um modo geral. Eu já sou bem crítico comigo mesmo (risos)


RESENHANDO - Se você pudesse escolher entre ser uma criança para sempre ou se tornar um adulto, o que você escolheria?
M.R. -  Depende muito da idade. Eu acho que até uma certa idade, é lindo ser criança, mas a partir de outra já chega a ser mais complicada. Eu gosto de viver o presente. Gosto muito de ter crescido e ter vivido cada idade que vivi. 


RESENHANDO - Quais as vantagens e desvantagens de ser uma criança? 
M.R. - As vantagens de ser criança até uma certa idade, é que a vida não tem peso. Você está preocupado em se divertir, ficar com a familia, fazer atividades que ama. Não existem problemas, expectativas e tem sempre seus pais por perto pra proteger. Agora chega uma certa idade em que as crianças começam a reproduzir aquilo que os adultos fazem e começam a desenvolver uma certa consciência sobre os assuntos, e ai nesse momento acho complicado. É nessa época que surge o bullying, os medos, as frustrações e as exigências pessoais baseado no que a sociedade impõe. 


RESENHANDO - E as de ser um adulto?M.R. - Ser adulto é mais complicado por que você tem que lidar com problemas, passa a ter responsabilidades e a vida fica um pouco mais complexa, porém ao mesmo tempo você normalmente já tem uma personalidade construída, podendo assim buscar ser aquilo que deseja e olhar a vida de uma forma única.


RESENHANDO - É cada vez mais comum homens apresentarem a "Síndrome de Peter Pan". Ou seja, aqueles que têm dificuldade em lidar com a vida adulta ou assumir compromissos. Isso já foi um problema para você? 
M.R. - Olha, acredito que não. Existem, sim, momentos em que ter muitos compromissos e obrigações pode acabar deixando a gente cansado de tudo, mas eu sempre gostei muito de ter minha independência e de andar com meus próprios passos. Tive pais muito amorosos, mas que sempre confiaram em minhas escolhas e me deram liberdade para segui-las. Moro sozinho em São Paulo desde os 17, começei a trabalhar aos 11 em campanhas publicitárias. 


RESENHANDO - O que você aconselharia a quem passa por isso?
M.R. - Acredito que o conselho que posso dar é para a pessoa se conhecer, tentar ajuda profissional se for o caso, e tentar ver o lado bom de cada momento. Crescer pode ser lindo, só depende de como enxergamos.




RESENHANDO - O que o público pode esperar desse espetáculo? 
M.R. - Acho que as pessoas vão se surpreender. Essa é uma historia muito antiga e que esconde muitas singularidades. Mesmo o público conhecendo a historia por meio dos filmes ou livros, aqui temos ainda as músicas, as danças... que são incríveis e surpreendentes. Fora isso tem toda a questão lúdica que vem à tona. Temos seis atores voando e outros efeitos, coisas que nunca vi em montagens brasileiras. Saimos do óbvio em vários sentidos, então não tem como ninguém saber o que vai de fato assistir até ir ao teatro. 


RESENHANDO - Em que se assemelha, e em que se difere, da clássica animação da Disney?
M.R. - A Disney romantiza um pouco os contos e o filme veio bem depois do musical. O Walt Disney tinha uma paixão pela história e inclusive chegou a fazer parte de uma encenação na escola. No nosso musical, temos os personagens mais humanos, temos coisas do livro que foram cortadas para o filme, mas que estarão presentes no nosso espetáculo. É magica no palco!


RESENHANDO - Você já atuou em muitos musicais. Em qual deles sentiu mais prazer em atuar? 
M.R. -  Nossa, pergunta muito difícil. Todos os espetáculos que fiz me presentearam de formas diferentes. Tive a oportunidade de conhecer muita gente e crescer artisticamente. Foram todos especiais, mas para não deixar de responder à sua pergunta, eu vou destacar o "Meu Amigo Charlie Brown”, pois era um espetáculo que eu já amava há muitos anos, em que interpretei meu personagem favorito das tirinhas. Sem contar a equipe, que era pequena e incrível, e o fato de me apresentar para crianças, o que, pra mim, é encantador. Estou feliz de repetir essa experiência agora com o Peter. 


RESENHANDO - Em um de seus textos autorais, você afirma que ser ator, entre outras coisas: "É ter que perder papel por que na internet não é o rei da visualização". De que maneira, hoje, um artista pode ser taxado em um mundo em que se é medido por seguidores, likes e visualizações?
M.R. - Olha, essa questão da internet é algo bem complicado. Hoje em dia as coisas estão se misturando e muitas vezes produtores estão optando por números na internet, do que pelo talento em específico. Ao mesmo tempo o ser humano vem rotulando tudo, colocando em caixas, o que dificulta mais ainda, para todos os lados. Não tem problema alguém ser “o rei da vizualização” e pegar um trabalho como ator, desde que de fato seja ator e que tenha talento e vocação para isso. É triste e injusto deixar de passar em algo ou mesmo sequer ser chamado para um teste por conta de coisas desse gênero. Mas é isso, acredito ainda na arte e onde o talento e a determinação podem levar alguém. Prefiro acreditar nisso.


RESENHANDO - Em 2016, você ficou em cartaz com dois espetáculos simultâneos - “Meu Amigo, Charlie Brown” e “60! – Década de Arromba – Doc. Musical” - você fez sete sessões em um fim de semana. Como foi essa experiência?
M.R. - Foi uma loucura. Eram quatro sessões no sábado e três no domingo, sem contar as de quinta e sexta do "60!". Ao mesmo tempo em que a ideia de fazer isso me deixou  empolgado, eu fiquei muito preocupado na época. Tive que me preparar em vários aspectos para conseguir aguentar. Era o tempo contato para tudo, para sair de um teatro para outro, para comer e para dormir, mas se eu pudesse, faria de novo, sem dúvidas! Eu amo o que faço e vejo esse fato como um privilégio. Um dia, possivelmente ainda vou ficar abismado ao contar isso para os meus netos, mas vai ser uma boa memória (risos).


RESENHANDO - De Florianópolis para o estrelato: quais os maiores desafios e as dificuldades que um jovem e experiente ator, como você, enfrenta no dia a dia de São Paulo?
M.R. - Ser ator já é um desafio por sí só. É um ofício muito concorrido e muito complexo, chegando as vezes a ser até subjetivo e em outras injusto. São Paulo tem mais oportunidades e também mais concorrências. O desafio da carreira é sempre se manter em movimento. Não dá para saber o dia de amanhã, então é uma constante construção. Não se pode parar de estudar nunca, de correr atrás de novos projetos e de se reinventar. Tem que saber para onde quer ir também, por que se não, acaba se perdendo no meio do caminho, por conta de todas as possibilidades.



Fotos: Leo Aversa

Sobre os entrevistadores:
*Helder Moraes Miranda
 escreve desde os seis anos e publicou um livro de poemas, "Fuga", aos 17. É bacharel em jornalismo e licenciado em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura, pela USP - Universidade de São Paulo, e graduando em Pedagogia, pela Univesp - Universidade Virtual do Estado de São Paulo. Participou de várias antologias nacionais e internacionais, escreve contos, poemas e romances ainda não publicados. É editor do portal de cultura e entretenimento Resenhando
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*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura e licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos. Twitter:  @maryellenfsm



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