Por Luiz Gomes Otero*, em janeiro de 2018.
Conheci Ruy Faria no ínício dos anos 2000, quando ele ainda integrava o grupo vocal MPB-4. Conversamos pelo telefone e lembro de ter feito uma entrevista que me mostrou um músico comprometido com a qualidade de seu trabalho. Que não se preocupava com modismos ou com a obtenção de um sucesso fácil, mas sim com o que iria apresentar para o público, com a mensagem a ser transmitida para as pessoas.
Aliás a trajetória do grupo também seguiu nessa mesma linha. Desde os anos 60, Ruy, ao lado de Antonio Waghabi (o Magro), Aquiles e Miltinho desenvolveu uma carreira pautada pelo bom gosto e pela qualidade das canções escolhidas, além é claro das maravilhosas vocalizações criadas pelos quatro integrantes.
Essa impressão que tive permaneceu nos anos seguintes, mesmo depois de sua conturbada saída do MPB-4 em 2004. Nesse período ele concluiu o curso de Direito e se tornou advogado. Também gravou um disco em parceria com Carlinhos Vergueiro que rendeu muitos elogios da crítica especializada e encheu as casas por onde se apresentou.
Recentemente, quando completou 50 anos de carreira, fiz uma nova entrevista com ele, para o portal Resenhando.com (que pode ser conferida neste link). E senti um tom melancólico em suas declarações, motivado talvez pelos rumos que a classe artística vem tomando nos últimos anos, e pela falta de espaço para divulgar a música de qualidade. Mas ainda assim ele mantinha a esperança e a convicção de divulgar esse tipo de trabalho. Uniu forças com a ex-esposa Cynara Faria, a irmã dela, Cyva, e mais o seu filho, Chico Faria, para formar o CYB4, um projeto musical que trazia uma proposta na linha do MPB-4, com vocalizações harmoniosas e um repertório rico de nossa música popular.
No dia 11 de janeiro deste ano, Ruy faleceu no Rio de Janeiro. Estava internado desde dezembro, em função de uma pneumonia. Tinha 80 anos e muitos projetos para serem concretizados. Mas creio que a sua principal contribuição tenha sido a luta pela divulgação da nossa autêntica música popular brasileira. Sua partida deixa uma lacuna na arte de interpretar canções. Mas seu legado permanecerá como referência para futuras gerações.
"Amigo É Pra Essas Coisas" - Ruy Faria e Chico Buarque
*Luiz Gomes Otero é jornalista formado em 1987 pela UniSantos - Universidade Católica de Santos. Trabalhou no jornal A Tribuna de 1996 a 2011 e atualmente é assessor de imprensa e colaborador dos sites Juicy Santos, Lérias e Lixos e Resenhando.com. Criou a página no Facebook Musicalidades, que agrega os textos escritos por ele.
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