*Artigo escrito pelo cineasta Daniel Bydlowski e publicado no jornal A Tarde
Woody Allen mais uma vez nos traz aquele tipo de história que há tempos somente ele parece ter a capacidade ou o desejo de contar, com personagens e cenários excêntricos dos anos 50, cheio de complexidades, metáforas, conflitos e, como sempre, um tom de humor. "Roda Gigante" também é marcado pela participação da Amazon em sua produção.
A fotografia do filme conta com o talento de Vittorio Storaro, que foi o responsável pelas belas imagens de produções como "Apocalipse Now", "O Último Imperador" e ainda "Último Tango em Paris", fazendo com que Roda Gigante seja um dos filmes mais belos tecnicamente. Além disso, Allen permite que a fotografia seja muitas vezes parecida com as obras de Bernardo Bertolucci, que sempre trabalhou com Storaro. Este tipo de homenagem a títulos distantes dá complexidade pra produção presente, que mistura estilos de diferentes épocas da carreira de Allen.
Para o público acostumado com produções que tentam chegar perto da realidade em sua linguagem cinematográfica, Roda Gigante irá parecer teatral, como se o diretor tivesse abandonado o cinema atual para voltar no tempo quando o teatro ainda influenciava o cinema. Além disso, o tipo de enredo lembra um Woody Allen de antigamente, aquele de "A Rosa Púrpura do Cairo", por exemplo.
Este aspecto é reforçado pelo cenário imaginativo do filme, onde a personagem principal Ginny, interpretada por Kate Winslet, vive. A personagem é uma ex-atriz e atual garçonete em busca de algo mais. É casada com Humpty (Jim Belushi), um homem que parece vindo da máfia italiana dos anos 50 e que trabalha no parque de diversões que serve como pano de fundo para a realidade do casal. A roda gigante do parque, título do longa, é o que Ginny enxerga de sua casa, bloqueando sua visão para o algo mais que quer encontrar em sua vida.
A diferença entre Ginny e seu marido naturalmente faz Roda Gigante caminhar a um enredo muito familiar do diretor: aquele do triângulo amoroso. Não amando seu marido, ela conhece e se apaixona por Mickey (Justin Timberlake), um salva vidas que aspira ser dramaturgo. Sua profissão e aspirações caem como uma luva com os desejos-por-algo-mais de Ginny. Além disso, ele não poderia ser mais diferente de seu marido. Mickey também ganha um papel especial no longa, já que o personagem fala diretamente com a câmera e tem trejeitos que lembram aqueles do próprio Woody Allen, dando ao público um ponto de vista específico para entendermos o filme.
O triângulo amoroso se forma de maneira definitiva quando Carolina (Juno Temple), uma filha afasta do primeiro casamento de Humpty, vai ao encontro do pai para pedir abrigo e um lugar para se esconder da máfia que seu ex-namorado pertence (já que, possivelmente, foi testemunha de um crime). Assim, ela começa a trabalhar como garçonete ao lado de Ginny. O problema é quando Mickey a encontra, ele rapidamente esquece de seus sentimentos por Ginny e se apaixona por Carolina. Toda a vulnerabilidade e complexidade que fizeram com que Mickey se interessasse pela uma mulher casada se dissipam na nova paixão com a jovem.
Cheio de metáforas e com uma fotografia vibrante, o filme não é um que se encaixe muito bem no tipo de produção que esperamos de um Woody Allen dos anos 2000. Porém, embora uma produtora nova como a Amazon esteja por trás de Roda Gigante, seus personagens nos apontam para um Woody Allen antigo e que alguns espectadores já haviam esquecido.
Daniel Bydlowski é cineasta brasileiro e artista de realidade virtual com Masters of Fine Arts pela University of Southern California e doutorando na University of California, em Santa Barbara, nos Estados Unidos. É membro do Directors Guild of America. Trabalhou ao lado de grandes nomes da indústria cinematográfica como Mark Jonathan Harris e Marsha Kinder em projetos com temas sociais importantes. Seu filme NanoEden, primeiro longa em realidade virtual em 3D, estreia em breve.
Woody Allen mais uma vez nos traz aquele tipo de história que há tempos somente ele parece ter a capacidade ou o desejo de contar, com personagens e cenários excêntricos dos anos 50, cheio de complexidades, metáforas, conflitos e, como sempre, um tom de humor. "Roda Gigante" também é marcado pela participação da Amazon em sua produção.
A fotografia do filme conta com o talento de Vittorio Storaro, que foi o responsável pelas belas imagens de produções como "Apocalipse Now", "O Último Imperador" e ainda "Último Tango em Paris", fazendo com que Roda Gigante seja um dos filmes mais belos tecnicamente. Além disso, Allen permite que a fotografia seja muitas vezes parecida com as obras de Bernardo Bertolucci, que sempre trabalhou com Storaro. Este tipo de homenagem a títulos distantes dá complexidade pra produção presente, que mistura estilos de diferentes épocas da carreira de Allen.
Para o público acostumado com produções que tentam chegar perto da realidade em sua linguagem cinematográfica, Roda Gigante irá parecer teatral, como se o diretor tivesse abandonado o cinema atual para voltar no tempo quando o teatro ainda influenciava o cinema. Além disso, o tipo de enredo lembra um Woody Allen de antigamente, aquele de "A Rosa Púrpura do Cairo", por exemplo.
Este aspecto é reforçado pelo cenário imaginativo do filme, onde a personagem principal Ginny, interpretada por Kate Winslet, vive. A personagem é uma ex-atriz e atual garçonete em busca de algo mais. É casada com Humpty (Jim Belushi), um homem que parece vindo da máfia italiana dos anos 50 e que trabalha no parque de diversões que serve como pano de fundo para a realidade do casal. A roda gigante do parque, título do longa, é o que Ginny enxerga de sua casa, bloqueando sua visão para o algo mais que quer encontrar em sua vida.
A diferença entre Ginny e seu marido naturalmente faz Roda Gigante caminhar a um enredo muito familiar do diretor: aquele do triângulo amoroso. Não amando seu marido, ela conhece e se apaixona por Mickey (Justin Timberlake), um salva vidas que aspira ser dramaturgo. Sua profissão e aspirações caem como uma luva com os desejos-por-algo-mais de Ginny. Além disso, ele não poderia ser mais diferente de seu marido. Mickey também ganha um papel especial no longa, já que o personagem fala diretamente com a câmera e tem trejeitos que lembram aqueles do próprio Woody Allen, dando ao público um ponto de vista específico para entendermos o filme.
O triângulo amoroso se forma de maneira definitiva quando Carolina (Juno Temple), uma filha afasta do primeiro casamento de Humpty, vai ao encontro do pai para pedir abrigo e um lugar para se esconder da máfia que seu ex-namorado pertence (já que, possivelmente, foi testemunha de um crime). Assim, ela começa a trabalhar como garçonete ao lado de Ginny. O problema é quando Mickey a encontra, ele rapidamente esquece de seus sentimentos por Ginny e se apaixona por Carolina. Toda a vulnerabilidade e complexidade que fizeram com que Mickey se interessasse pela uma mulher casada se dissipam na nova paixão com a jovem.
Cheio de metáforas e com uma fotografia vibrante, o filme não é um que se encaixe muito bem no tipo de produção que esperamos de um Woody Allen dos anos 2000. Porém, embora uma produtora nova como a Amazon esteja por trás de Roda Gigante, seus personagens nos apontam para um Woody Allen antigo e que alguns espectadores já haviam esquecido.
Daniel Bydlowski é cineasta brasileiro e artista de realidade virtual com Masters of Fine Arts pela University of Southern California e doutorando na University of California, em Santa Barbara, nos Estados Unidos. É membro do Directors Guild of America. Trabalhou ao lado de grandes nomes da indústria cinematográfica como Mark Jonathan Harris e Marsha Kinder em projetos com temas sociais importantes. Seu filme NanoEden, primeiro longa em realidade virtual em 3D, estreia em breve.
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