Obra reúne mais de 2 mil poemas, incluindo cerca de mil inéditos do autor, que, em 2007, conquistou o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras. O lançamento será no dia 19 de dezembro, terça-feira, a partir das 19h, na Livraria da Vila Fradique Coutinho, em São Paulo.
Por Martim Vasques da Cunha, em dezembro de 2017.
A obra de Alberto da Cunha Melo (1942-2007) é similar ao mito grego de Anteu. Filho dos deuses Gaia e Poseidon, o gigante era poderoso porque seu corpo não se descolava da terra-mãe que o criou. O mesmo ocorre com os versos do autor de “Yacala”, um dos maiores poemas narrativos já feitos em língua portuguesa. Há neles a busca sincera pela realidade concreta e o horror pela abstração intelectual que lhes dão uma força ímpar – e o leitor finalmente terá a chance de descobrir isto, ao ser presenteado com esta "Poesia Completa".
No caso de Alberto, o solo que lhe dava a matéria poética não era somente o das suas queridas cidades de Jaboatão, Olinda e Recife, mas o do Brasil como uma nação a ser descoberta. Para ele, a poesia era o veículo perfeito para uma travessia rumo ao imprevisível, dentro de um país que ainda precisa ser decifrado. Por isso, não hesitou em ser também um experimentador radical do estilo literário, sem se esquecer da tradição que o sustentou, na conquista de formas próprias para expressar seus impasses pessoais – como recuperar a métrica do octossílabo branco, nos poemas da primeira fase, e a criação inovadora da “retranca” (onze versos distribuídos em estrofes seguidas de um quarteto, um dístico, um terceto e, finalmente, um novo dístico), durante o seu período de maturidade.
Como se a ousadia formal não bastasse, Alberto da Cunha Melo era igualmente corajoso na variedade dos temas abordados. Discorreu sobre o fazer artístico (em seu inigualável “Oração Pelo Poema”); a finitude da existência (em “Meditação Sob os Lajedos”); a paixão amorosa (no belíssimo ciclo chamado “Clau”, em homenagem à sua musa, a artista Cláudia Cordeiro, também organizadora deste corpus que o leitor tem em mãos); as feridas sociais de um Brasil que não sabe se explicar a si mesmo (como percebemos nas duas partes de “Noticiário”); e, last but not least, sobre a sua própria biografia, marcada pelo “conhecimento na desgraça” que o transformou em um grande poeta.
A partir de agora, esta é a tarefa hercúlea do leitor: o reencontro com um gigante da nossa literatura que usou o solo da poesia como um “escudo doloroso” – e assim transformou a queda de todos nós em uma ascensão.
Alberto da Cunha Melo teve quinze livros de poesia publicados e mais de mil poemas escritos. Participou de 25 antologias, sendo duas delas internacionais. Como jornalista, colaborou com o Jornal do Commercio, o Jornal da Tarde e as revistas Pasárgada e Continente Multicultural.
Cláudia Cordeiro Tavares da Cunha Melo é inventariante e curadora da obra do poeta. Professora, antologista, ensaísta e revisora de textos literários, dedica-se também a projetos e edição de sites culturais e redes sociais de alguns escritores.
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