“O ódio que você semeia” ficou na lista de mais vendidos no New York Times e teve leitura recomendada para escolas e bibliotecas. No livro, menina negra testemunha morte de seu melhor amigo por um policial e vive os dilemas de morar num gueto e estudar numa escola onde a maioria dos alunos é branca
Trayvon Martin, Philando Castile, Tamir Rice, Alton Sterling, Oscar Grant, nos Estados Unidos. Roberto Silva de Souza, Wilton Esteves Domingos Júnior, Carlos Eduardo Silva de Souza, Wesley Castro Rodrigues, Cleiton Correa de Souza, no Brasil. O que essas pessoas têm em comum? Todas são negras. Todas viraram notícia depois de serem mortas pela polícia. Nenhuma delas estava armada. Os assassinatos de jovens negros inspiram movimentos como o Jovem Negro Vivo, aqui, e o Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), lá. Provocam reação, protestos e também arte, música, cinema e literatura.
Foi depois de saber da morte de Oscar Grant, em 2009, que a americana Angie Thomas começou a pensar em escrever um livro. Outros conterrâneos negros foram morrendo e, da raiva e da vontade de gritar, surgiu “O ódio que você semeia”, um romance sobre Starr, moradora de um gueto nos Estados Unidos que, ainda na adolescência, testemunha a morte por arma de fogo de dois de seus melhores amigos. Um deles, Khalil, foi assassinado por um policial, numa blitz.
Antes de morrer, Khalil e Starr estão ouvindo Tupac, um rapper americano que fez sucesso com seu ativismo nas décadas de 80 e 90. Ele canta Thug life (vida bandida) e Khalil explica a Starr que Thug é a abreviação de “The hate u give little infants fucks everybody”, ou “O ódio que você passa pras criancinhas fode com todo mundo”. O diálogo sobre a música, que inspirou o nome do livro de Angie Thomas, que foi rapper na adolescência, volta no capítulo Dez. Nele, Starr conversa com o pai, um simpatizante dos Panteras Negras, ex-traficante e atual dono de mercado, sobre a violência no bairro. O assunto é racismo, falta de oportunidades e um sistema feito para ferrar os negros. “É mais fácil conseguir crack do que uma boa escola por aqui”, desabafa o pai.
Três dos documentários que concorreram ao Oscar deste ano discutiram o sistema racista americano. Um deles, “13ª Emenda”, mostra como a criminalização das drogas multiplicou a comunidade carcerária, em sua grande maioria negra, nos Estados Unidos, nas últimas décadas. “Eu não sou seu negro” é sobre o escritor negro James Baldwin e seu ensaio sobre três líderes que lutaram contra o racismo: Martin Luther King, Malcolm X e Medgar Evers.
E o vencedor “O.J.: Made in America” reconta a história de como o julgamento do jogador negro suspeito de matar a ex-mulher e um amigo foi influenciado pela discussão racista e o ódio da comunidade negra contra a polícia violenta de Los Angeles. O filme vencedor, Moonlight, também tem protagonistas negros e é sobre um menino filho de uma viciada em crack que vira traficante para se defender da violência em seu bairro.
O livro mostra também os dilemas de Starr, que, com os irmãos, estuda numa escola de elite, em outro bairro, onde a maioria dos alunos é branca. Suas duas melhores amigas de lá são brancas. Ela também tem um namorado branco. Quando está com eles, tenta ser uma outra Starr, evita os palavrões, qualquer gíria que possa associá-la ao gueto e qualquer gesto que possa parecer violento. Os negros como Starr, ensinam seus pais, têm que aprender desde cedo a se defender. Inclusive da polícia. Não reagir, não reagir, não reagir. Para não ser morta.
Mas nem tudo é simples. Starr identifica racismo nas falas de uma de suas amigas. Depois da morte de Khalil, ela está mais sensível. Com a insistência de seu tio policial, vai depor na delegacia. Conhece uma advogada, Ofrah, que trabalha numa instituição de defesa dos negros. Mas não quer contar para todo mundo que ela é a testemunha-chave do caso. Nem para seu namorado, que não entende suas reações. Starr quer ser só uma adolescente que curte (ama, pra dizer a verdade) Harry Potter e os jogos de basquete da NBA. Mas, de onde vem e o que viu, nada disso pode ser ignorado.
“Papai me disse uma vez que tem uma fúria que é passada para todos os negros pelos ancestrais, gerada no momento em que eles não conseguiram impedir que os donos de escravos machucassem suas famílias. Papai também disse que não tem nada mais perigoso do que a hora em que essa fúria é ativada”, diz Starr, depois de ver o pai sendo abordado violentamente por um policial em frente ao mercado. O que ela vai fazer? Protestar? Dar entrevistas contando a sua versão? Vai se desnudar para os amigos e o namorado da escola branca? Ou vai se calar e desonrar a vida de seu melhor amigo, que está sendo acusado de ser traficante e culpado pela própria morte?
“O ódio que você semeia” é um livro escrito para jovens. As cenas da ficção, narradas em forma de diálogos, são inspiradas na vida real e, guardadas as devidas diferenças de cultura entre os Estados Unidos e o Brasil, poderiam se passar em qualquer comunidade brasileira. Como aconteceu com os meninos Roberto, Wilton, Carlos, Wesley e Cleiton, mortos com mais de cem tiros, por policiais, em Costa Barros, zona oeste do Rio de Janeiro.
SOBRE A AUTORA: Angie Thomas nasceu, foi criada e ainda vive em Jackson, no Mississipi, o que se percebe pelo sotaque. Quando adolescente, era rapper e sua maior conquista foi ter escrito um artigo sobre si mesma na Right-On Magazine (com foto). É bacharel em Creative Writing pela Belhaven University e possui um diploma não oficial em Hip Hop. Ela ainda sabe fazer rap, se for preciso. Seu livro de estreia, O ódio que você semeia (The hate U give), foi o primeiro a vencer o Walter Dean Meyers Grant, em 2015, na categoria We Need Diverse Books. O romance será adaptado para o cinema, pela Fox, e chegou ao primeiro lugar da lista do New York Times na semana do seu lançamento.
Leia no blog trechos da obra: http://bit.ly/2gXZTqr
“Maravilhoso. Um clássico de nosso tempo.” — John Green (A culpa é das estrelas)
“Essa história é necessária. Essa história é importante.” — Kirkus Review
“Um livro que é um tapa na sua cara.” — The Horn Book
Livro: O ódio que você semeia
Autora: Angie Thomas
Tradução: Regiane Winarski
Páginas: 378
Editora: Galera / Grupo Editorial Record
Trayvon Martin, Philando Castile, Tamir Rice, Alton Sterling, Oscar Grant, nos Estados Unidos. Roberto Silva de Souza, Wilton Esteves Domingos Júnior, Carlos Eduardo Silva de Souza, Wesley Castro Rodrigues, Cleiton Correa de Souza, no Brasil. O que essas pessoas têm em comum? Todas são negras. Todas viraram notícia depois de serem mortas pela polícia. Nenhuma delas estava armada. Os assassinatos de jovens negros inspiram movimentos como o Jovem Negro Vivo, aqui, e o Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), lá. Provocam reação, protestos e também arte, música, cinema e literatura.
Foi depois de saber da morte de Oscar Grant, em 2009, que a americana Angie Thomas começou a pensar em escrever um livro. Outros conterrâneos negros foram morrendo e, da raiva e da vontade de gritar, surgiu “O ódio que você semeia”, um romance sobre Starr, moradora de um gueto nos Estados Unidos que, ainda na adolescência, testemunha a morte por arma de fogo de dois de seus melhores amigos. Um deles, Khalil, foi assassinado por um policial, numa blitz.
Antes de morrer, Khalil e Starr estão ouvindo Tupac, um rapper americano que fez sucesso com seu ativismo nas décadas de 80 e 90. Ele canta Thug life (vida bandida) e Khalil explica a Starr que Thug é a abreviação de “The hate u give little infants fucks everybody”, ou “O ódio que você passa pras criancinhas fode com todo mundo”. O diálogo sobre a música, que inspirou o nome do livro de Angie Thomas, que foi rapper na adolescência, volta no capítulo Dez. Nele, Starr conversa com o pai, um simpatizante dos Panteras Negras, ex-traficante e atual dono de mercado, sobre a violência no bairro. O assunto é racismo, falta de oportunidades e um sistema feito para ferrar os negros. “É mais fácil conseguir crack do que uma boa escola por aqui”, desabafa o pai.
Três dos documentários que concorreram ao Oscar deste ano discutiram o sistema racista americano. Um deles, “13ª Emenda”, mostra como a criminalização das drogas multiplicou a comunidade carcerária, em sua grande maioria negra, nos Estados Unidos, nas últimas décadas. “Eu não sou seu negro” é sobre o escritor negro James Baldwin e seu ensaio sobre três líderes que lutaram contra o racismo: Martin Luther King, Malcolm X e Medgar Evers.
E o vencedor “O.J.: Made in America” reconta a história de como o julgamento do jogador negro suspeito de matar a ex-mulher e um amigo foi influenciado pela discussão racista e o ódio da comunidade negra contra a polícia violenta de Los Angeles. O filme vencedor, Moonlight, também tem protagonistas negros e é sobre um menino filho de uma viciada em crack que vira traficante para se defender da violência em seu bairro.
O livro mostra também os dilemas de Starr, que, com os irmãos, estuda numa escola de elite, em outro bairro, onde a maioria dos alunos é branca. Suas duas melhores amigas de lá são brancas. Ela também tem um namorado branco. Quando está com eles, tenta ser uma outra Starr, evita os palavrões, qualquer gíria que possa associá-la ao gueto e qualquer gesto que possa parecer violento. Os negros como Starr, ensinam seus pais, têm que aprender desde cedo a se defender. Inclusive da polícia. Não reagir, não reagir, não reagir. Para não ser morta.
Mas nem tudo é simples. Starr identifica racismo nas falas de uma de suas amigas. Depois da morte de Khalil, ela está mais sensível. Com a insistência de seu tio policial, vai depor na delegacia. Conhece uma advogada, Ofrah, que trabalha numa instituição de defesa dos negros. Mas não quer contar para todo mundo que ela é a testemunha-chave do caso. Nem para seu namorado, que não entende suas reações. Starr quer ser só uma adolescente que curte (ama, pra dizer a verdade) Harry Potter e os jogos de basquete da NBA. Mas, de onde vem e o que viu, nada disso pode ser ignorado.
“Papai me disse uma vez que tem uma fúria que é passada para todos os negros pelos ancestrais, gerada no momento em que eles não conseguiram impedir que os donos de escravos machucassem suas famílias. Papai também disse que não tem nada mais perigoso do que a hora em que essa fúria é ativada”, diz Starr, depois de ver o pai sendo abordado violentamente por um policial em frente ao mercado. O que ela vai fazer? Protestar? Dar entrevistas contando a sua versão? Vai se desnudar para os amigos e o namorado da escola branca? Ou vai se calar e desonrar a vida de seu melhor amigo, que está sendo acusado de ser traficante e culpado pela própria morte?
“O ódio que você semeia” é um livro escrito para jovens. As cenas da ficção, narradas em forma de diálogos, são inspiradas na vida real e, guardadas as devidas diferenças de cultura entre os Estados Unidos e o Brasil, poderiam se passar em qualquer comunidade brasileira. Como aconteceu com os meninos Roberto, Wilton, Carlos, Wesley e Cleiton, mortos com mais de cem tiros, por policiais, em Costa Barros, zona oeste do Rio de Janeiro.
SOBRE A AUTORA: Angie Thomas nasceu, foi criada e ainda vive em Jackson, no Mississipi, o que se percebe pelo sotaque. Quando adolescente, era rapper e sua maior conquista foi ter escrito um artigo sobre si mesma na Right-On Magazine (com foto). É bacharel em Creative Writing pela Belhaven University e possui um diploma não oficial em Hip Hop. Ela ainda sabe fazer rap, se for preciso. Seu livro de estreia, O ódio que você semeia (The hate U give), foi o primeiro a vencer o Walter Dean Meyers Grant, em 2015, na categoria We Need Diverse Books. O romance será adaptado para o cinema, pela Fox, e chegou ao primeiro lugar da lista do New York Times na semana do seu lançamento.
Leia no blog trechos da obra: http://bit.ly/2gXZTqr
“Maravilhoso. Um clássico de nosso tempo.” — John Green (A culpa é das estrelas)
“Essa história é necessária. Essa história é importante.” — Kirkus Review
“Um livro que é um tapa na sua cara.” — The Horn Book
Livro: O ódio que você semeia
Autora: Angie Thomas
Tradução: Regiane Winarski
Páginas: 378
Editora: Galera / Grupo Editorial Record
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