sexta-feira, 5 de maio de 2017

.: Resenha crítica do filme "A cabana", com Octavia Spencer

Por: Helder Bentes


Eu não gostei de "A Cabana". Assisti-lhe por indicação de dois ex-alunos que eu respeito muito, também porque a sinopse me parecia interessante desde a época em que eu era associado ao Círculo do Livro. O livro de William P. Young me era oferecido em catálogo, mas eu nunca o comprei para ler. Acabei conhecendo o drama do protagonista Mackenzie Allen Phillips já adaptado para o cinema. 

Entendi a proposta do diretor, mas continuei não gostando. Fora os recuos no tempo da narrativa, todo o restante, pra mim, não teve nada de extraordinário. Nenhuma subversão inovadora da gramática cinematográfica, enredo linear e comprometido até o pescoço com a ideologia judaico-cristã, apesar de apresentar evidentes influências espíritas nos elementos de composição narrativa, cujo conflito desfecha-se a partir de uma experiência de quase morte. 

Achei que a presença do "maravilhoso" não sustentou a verossimilhança da mensagem, e o que havia de relevante no filme, sua proposta reflexiva, ficou no nível da fantasia, comprometendo o efeito purgativo e humanizante da obra, a transmissão de um conhecimento verdadeiramente universal e o meu prazer. Ficou igual a uma pregação do Silas Malafaia, que só agrada a quem já acredita, porque se universaliza pela negação das particularidades da fé alheia. 

Há uma contradição tremenda, que anula aqueles recursos pretensos de que a Divindade não teria sexo e não se subordinaria aos modelos religiosos de representação do Sagrado no imaginário social: O Deus do filme é o Deus judaico-cristão, e a fé NESSE DEUS é defendida como "conditio sine qua non" (condição sem a qual) não se superam mágoas e culpas, não se consegue perdoar, nem alcançar a paz interior. Então a tentativa de desmitificar a noção ordinária da Divindade foi frustrada pelo comprometimento ideológico.


O público do filme fica restrito àqueles cristãos que têm uma fé piegas que beira a autoajuda. Sabe? Tipo fé pentecostal ou da renovação carismática? Pois é. Pessoas que têm fé noutras entidades que não sejam o Deus de Abraão ou de Jesus, ateus e agnósticos continuam excluídos ATÉ da recepção do filme. Na minha opinião, esse tipo restritivo de arte compositora de um signo univalente é um desserviço à vida social. Sobretudo em tempos de combate à intolerância religiosa. 

Lembrei-me de Pedro Lyra, que em "Literatura e Ideologia" (editora Vozes), afirma que uma das finalidades da obra de arte é infundir a ideologia de seu autor. Eu não sei se William P. Young (escritor do livro A Cabana, que inspirou o filme homônimo) ou se o diretor Stuart Hazeldine (que adaptou o livro para o cinema) são cristãos. Fato é que se ratifica, na apreciação crítica de A Cabana, a análise de Lyra, segundo a qual a infusão da carga ideológica independe da intenção do artista.


Filme: A Cabana (The Shack, EUA)
Gênero: Fantasia, drama
Duração: 2h 13 minutos
Data de lançamento: 7 de abril de 2017 (Brasil)
Direção: Stuart Hazeldine
Música composta por: Aaron Zigman
Roteiro: John Fusco
Adaptação de: A Cabana
Classificação: 14 anos
Elenco: Sam Worthington, Radha Mitchell, Octavia Spencer, Ryan Robbin

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