quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

.: Resenha crítica do sensível "Estrelas além do tempo"

Por: Mary Ellen Farias dos Santos
Em janeiro de 2017



"Estrelas Além do Tempo" (Hidden Figures) é mais do que uma aula de história sobre os Estados Unidos nos anos 60 e a marcante segregação das raças. O longa dirigido por Theodore Melfi retrata acontecimentos importantes como a corrida espacial travada entre Estados Unidos e Rússia durante a Guerra Fria, o nascimento do gigantesco computador IBM e a, aparente eterna, luta para as mulheres trabalharem -e até terem a chance de estudar- em postos dominados -tão exclusivamente- por homens -de pele branca. 

Contudo, é no auge da corrida espacial que uma equipe de cientistas da NASA, composta somente por mulheres afro-americanas, vira a mesa sendo o elemento crucial que faltava na equação para a vitória dos Estados Unidos contra a Rússia. Assim, a história das três amigas Katherine Johnson (Taraji P. Henson), Dorothy Vaughn (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe), torna a trama mais emocionante. Em postos diferentes, elas vencem as batalhas e tornam-se heroínas da nação.


A produção, que é uma adaptação do livro de Margot Lee Shetterly, traz muitas carinhas conhecidas pelo público, seja Taraji (a protagonista Cookie Lyon, de "Empire"), Kirsten Dunst (a menina que foi mordida por Brad Pitt em "Entrevista com Vampiro" e cresceu), Jim Parsons (Sheldon Cooper, de "The Big Bang Theory"), Glen Powell (Chad, de "Scream Queens") e até Kevin Costner (eterno "Dança com Lobos" e "Robin Hood: O Príncipe dos Ladrões"). 

Entretanto, "Estrelas Além do Tempo" põe os atores diretamente fora de suas caixinhas. Aqui, Taraji na pele de Katherine não lembra a mulher de fibra que adora barraquear e gritar em "Empire", é praticamente o oposto. A inteligente mulher dos cálculos sabe se impor enquanto age com muita doçura. Como não se emocionar com o desabafo acalorado ao chefe Al Harrison (Kevin Costner) a respeito do andar até o banheiro de negros, que fica fora do prédio em que trabalha. De fato, "Colored Ladies Room" é somente uma placa, mas com uma simbologia imensa.


Contudo, Glen Powell mostra o quão versátil consegue ser ao dar vida ao astronauta John Glenn. Do bobão Chad de "Scream Queens" e Finnegan de "Jovens Loucos e mais Rebeldes", ele vai além nessa produção. Até lembra os pilotos inesquecíveis retratados nos clássicos "Top Gun: Ases Indomáveis", "Armagedom" e "Pearl Harbor". Já a cantora Janelle Monáe, do sucesso "Tightrope", deixa claro que sabe atuar e ter ares de uma mulher dos anos 60 ao interpretar a engenheira Mary Jackson.

Octavia Spencer brilha na pele da matemática Dorothy, especialista em computação e programação, mas não deixa de lembrar a força da personagem Minny em "Histórias Cruzadas" e a sentença inesquecível: "Eat my shit!". Sim! Seria cabível dar uma torta desse tipo para a esnobe Vivian Michael (Kirsten Dunst). Dorothy é a mulher que luta, aprende, ensina e defende o seu grupo de trabalho. É uma perfeita chefe, tem conhecimento para estar à frente de um grupo, logo não se sente ameaçada. O que é bastante diferente para Paul Sttaford (Jim Parsons).

Parsons chama a atenção na pele de Sttaford. O asco dele em trabalhar com uma mulher e ainda negra extrapola nas cenas com Katherine. A cada puxada de tapete dada na dominadora dos números, a irritação aumenta. Dá até vontade de entrar no filme e estapeá-lo. Não há nada do irritantemente inteligente e hilário Sheldon Cooper. Bom trabalho do ator.

É do salto alto que entra no chão de grades ao simples direito de estudar. "Estrelas Além do Tempo" não é somente sobre a segregação entre negros e brancos, mas também sobre a evolução da mulher e o direito em trabalhar, ter uma família e estudar. Não há dúvida de que as conquistas delas, nos anos 60, refletem nos dias atuais. Por outro lado, é preciso ter mais visão para que a humanidade não sofra um medonho retrocesso, pois é preciso que figuras como essas não sejam escondidas!


Curiosidades:

* A situação banheiros não foi vivenciada por Katherine Johnson, interpretada por Taraji P. Henson, mas por Mary Jackson, personagem de Janelle Monáe, que se recusou a utilizar os banheiros segregados. 

Uma das discriminações sofridas por Katherine em trabalho foi a exigência de que ela utilizasse um pote de café separado. Na área de café do escritório, o material é da marca "Chock Full o'Nuts". Marca importante no contexto histórico, pois em 1957, a empresa foi uma das primeiras grandes corporações de Nova York a contratar um executivo negro como vice-presidente corporativo.

* Na cena em que Paul Stafford (Jim Parsons) fala com os engenheiros da NASA, no meio da multidão está Mark Armstrong, filho do astronauta Neil Armstrong. Ele foi convidado por Ken Strunk para aparecer na cena e se juntou aos outros atores que representam os engenheiros da NASA.

* A casa de Dorothy Vaughn na trama é histórica. Localizada em Atlanta, no local, Ralph Abernathy e Martin Luther King Jr. já se encontraram.

* Octavia Spencer e Jim Parsons já trabalharam juntos no episódio "The Euclid Alternative" do seriado de comédia americano The Big Bang Theory (2007).

Octavia Spencer e Kevin Costner também trabalharam juntos em "Preto e Branco" (2014)

* Mahershala Ali e Janelle Monáe trabalharam em "Moonlight: Sob a Luz do Luar" (2016).



Filme: Estrelas Além do Tempo (Hidden Figures, EUA)
Gênero: Drama/Comédia dramática 
Diretor: Theodore Melfi
Duração: 2h 07m
Elenco: Taraji P. Henson (Katherine Johnson), Octavia Spencer (Dorothy Vaughn), Janelle Monáe (Mary Jackson), Jim Parsons, Kirsten Dunst, Kevin Costner, Glen Powell entre outros
Ano: 2016

Música composta por: Pharrell Williams, Hans Zimmer, Benjamin Wallfisch
Data de lançamento: 2 de fevereiro de 2017 (Brasil)


*Editora do site cultural www.resenhando.com. É jornalista, professora e roteirista. Twitter: @maryellenfsm


Trailer do filme

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