Por Helder Miranda, em fevereiro de 2017.
Uma praça de guerra é o que sintetiza o estabelecimento visitado por Erick Jacquin no início do segundo episódio de "Pesadelo na Cozinha". "Najjah" significa "sucesso" em árabe. Mas para o restaurante que tem esse nome, localizado na zona norte de São Paulo, era justamente o contrário.
Bastou Arthur, o proprietário, chamar Jacquin, o chef francês do "MasterChef" que vem brilhando como "a Super Nanny dos restaurantes" para a situação se tornar um verdadeiro inferno. E isso é só o começo do segundo episódio do reality show, que nada mais é do que um spin-off não-declarado do programa de mais audiência da Band. "Pesadelo", no entanto, vem contando histórias de superação em meio a bastidores bem barra-pesadas.
Aliás, sempre que os bastidores desses locais são mostrados, eu gosto cada vez mais de minha cozinha, e do modo em que a comida na minha casa é preparado. Jacquin encontra o restaurante aos pedaços, com os funcionários em pé de guerra, equipe desleixada e pouco asseada, e muitos pontos a menos na culinária, na higiene e até no atendimento.
A impressão que foi transmitida, pelo que foi mostrado na TV, é que os funcionários são escolhidos porque aceitam ganhar pouco e estão ali apenas até encontrar algo melhor. Mineiro, o cozinheiro sem dente na frente, dá a impressão de que as condições que são dadas aos profissionais que ali trabalham é menos do possível para alguém viver com o mínimo de dignidade. No entanto, ele é o mais doce, humilde e fácil de lidar. Fosse outro, diante aos gritos de Jacquin, teria perdido a cabeça.
Youssef, refugiado sírio de guerra, pelo contrário. É desrespeitoso, indisciplinado, insubordinado e mimado. Parece ter uma raiva difícil de decifrar, e pareceu ser o mal do restaurante. Se a Band for esperta, recicla esse rapaz para a quarta temporada do "MasterChef" brasileiro. Mas, no que demonstrou em "Pesadelo", Youssef não teve uma postura aceitável com Jacquin, falando manso na frente dele e mostrando o dedo do meio quando ele virava as costas. Para dizer o mínimo, Youssef não aceita críticas e, geralmente, está errado.
Sem contar que todos, até a mãe piedosa do proprietário, com pena do filho, levaram tudo para o lado pessoal. "Pede para sair", gritou Arthur, o proprietário, imitando o Capitão Nascimento de "Tropa de Elite". Depois, imitou o Hulk ao quebrar o chão, ou tradições milenares como a cigana e a grega, um caos total. A raiva contida era tanta, que Jacquin o levou para treinar jiu-jitsu com profissionais para que o explosivo rapaz colocasse para fora de alguma maneira. No final, muito agradecido, tatuou o nome do chef francês, arrancando uma lágrima dele. "Ninguém nunca fez isso", disse ele, emocionado.
Claro que o roteiro de "volta por cima" é seguido à risca. Mas, para levar uma consultoria gratuita e a reforma no restaurante, paga-se um preço alto. Afinal, nenhum almoço, ou jantar, vem de graça.
Sobre o crítico
Helder Miranda é editor do portal Resenhando há 12 anos. É formado em Comunicação Social - Jornalismo e licenciado em Letras pela UniSantos -Universidade Católica de Santos, e pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela USP. Atuou como repórter em vários veículos de comunicação. Lançou, aos 17 anos, o livro independente de poemas "Fuga", que teve duas tiragens esgotadas.
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