Acabou entrando num trem por engano, atravessou o país e foi parar em Calcutá, uma das maiores cidades da Índia. Depois de sobreviver sozinho nas ruas, foi levado para uma agência e adotado por um casal australiano. Apenas 26 anos depois, já adulto, é que ele conseguiu reencontrar sua cidade e sua família perdida.
É o próprio Saroo quem narra sua história em “Uma Longa Jornada Para Casa”, que chega às livrarias pela Record no fim de janeiro. O relato também deu origem a “Lion – Uma Jornada Para Casa”, filme que estreia nos cinemas brasileiros em 16 de fevereiro e está indicado ao Oscar nas categorias Melhor filme, ator coadjuvante (Dev Patel), atriz coadjuvante (Nicole Kidman), roteiro adaptado, direção de arte e trilha sonora original.
No livro, Saroo evoca suas lembranças da infância na Índia. Conta que os cinco dormiam em lençóis sobre o chão formado por lama, esterco de vaca e palha. Às vezes, não tinham comida em casa e era preciso pedir aos vizinhos. Os irmãos mais velhos passavam o dia nas ruas, tentando arranjar dinheiro e alimento. E foi numa dessas incursões que o menino se perdeu. O autor lembra ainda dos dias que passou sozinho pelas ruas de Calcutá, das dificuldades e das pessoas que o ajudaram; fala sobre a família e a vida na Austrália; do tempo que passou tentando descobrir suas origens; e, enfim, da viagem de reencontro.
Por causa da pouca idade, Saroo não sabia nem o nome do local onde morava, nem mesmo seu próprio sobrenome. Foi apenas 26 anos depois de sua adoção, com a ajuda do Google Earth, que ele conseguiu buscar sua velha casa. E a jornada para rever – e se reintegrar com – sua família biológica foi ainda mais intensa do que ele imaginava. O livro traz também um encarte com fotos do autor ao lado de suas duas famílias e ao longo de sua viagem de redescoberta pela Índia.
Dirigido por Garth Davis (da série “Top Of The Lake”), o filme “Lion – Uma Jornada Para Casa” já havia sido indicado a quatro Globos de Ouro. O longa é protagonizado por Dev Patel, de “Quem Quer Ser Um Milionário?”, e tem ainda Nicole Kidman e Rooney Mara no elenco.
Trecho:
“Uma hora, acordei e percebi que tínhamos parado – havíamos chegado a uma estação. Fiquei em êxtase, pois pensei que poderia chamar a atenção de alguém na plataforma. Mas não se via vivalma na estação sombria. As portas continuavam trancadas. Esmurrei-as e gritei e gritei até não poder mais, enquanto o trem, num arranco, voltava a se mover.
Acabei me cansando. Não se pode permanecer para sempre em um estado de completo pânico e terror, e eu já havia passado por ambos. Desde então, passei a acreditar que talvez seja por isso que choramos: nosso corpo tem de lidar com algo que a mente e o coração não conseguem absorver sozinhos. Todo aquele pranto tinha cumprido sua finalidade – eu havia deixado meu corpo processar meus sentimentos e agora, surpreendentemente, começava a me sentir um pouco melhor. A experiência tinha me esgotado, e eu dormia e acordava. Hoje, quando penso em retrospectiva e revivo mentalmente o completo pavor de ficar preso sozinho, sem nenhuma ideia de onde estava e para onde ia, é como um pesadelo. Guardo tudo aquilo em flashes: eu acordado olhando pela janela, horrorizado; ou encolhido, dormindo e acordando. Acho que o trem parou em algumas estações, mas as portas nunca se abriam e, de alguma forma, ninguém me via.”
Saroo Brierley nasceu em Khandwa, na Índia, e hoje vive em Hobart, na Tasmânia, onde gerencia com o pai a empresa da família, a Brierley Marine. A história de sua vida já foi publicada em diversos países.
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