terça-feira, 3 de janeiro de 2017

.: “Antropofagias”, dois poemas e um fluido poético de Mariana Basílio


Abaixo, um fluxo poético (“Antropofagias”), dois poemas (“Sombras & Luzes”) e um fluido poético (“Uma Canção de Mim Mesma no Mar”) da obra "Sombras & Luzes", da poeta Mariana Basílio:

II

os nascimentos; as antropofagias; as artérias são todo o plus sobre o
pavor dos ossos e do tempo; os mapas e as lacunas que nos libertam
entre escutas e escritas – assim vamos planos, vamos de novo ver o
pôr-do-sol

(Fluxo II, da primeira seção, “Antropofagias”, p. 37)



VI 

“Cada um é a medida das coisas”
Paul Valéry

Espiritual. A profundidade do inesperado no
vislumbre das coisas. Aos retratos d’água.

Cada um é a medida das coisas.
Cada um é a medida das almas.

Quando penso total, quando penso
atemporal. Somos lampejos sob
lampejos. Espirituais, em lampejos!

Na energia da noite que são sustentos.
A tudo que se move por entre as coisas.

Desencarnam-se os órgãos, criam-se enlaces.
Espiritualmente, o amor corta-nos em faces.
Fazendo-nos mar, fazendo-nos milésimos
de pares. O amor-passo que afunda lama
nos ares frágeis são vivas substâncias.

A profundidade do inesperado. Profundidade.
Um espanto, uma passagem. E a canção renasce.
Na medida dos mármores. Na medida do retrato.

Cada um é a medida das coisas. Cada um é.
Como encanto descontente, como celeiro em
pontes e a fábula que se pensava distante.

Somos matéria cósmica. Somos hibridas esferas.

A vida é constelação.



XLVII

Todo escritor é um país estrangeiro.
Quando ultrapassa os limites do
seu coração ao cutucar
o fundo de um
silêncio, que
escapa aos
próprios
sentimentos.

Um estrangeiro de flores
rasgadas no fundo do peito.
Nos pomares desérticos de
antigos pensamentos.

Mesmo sendo poeira.
Mesmo tendo um ar pueril
que dissecaria um oceano.

Caminhando no céu
que engole,
na vida que esgana as
contas de sangue,
as gotas do tempo –
que não perdoam
o côncavo dos dedos.

Estrangeiro.
Ao sonhar alto demais
num topo de voz
que não se ouve
e
que
nunca
se imaginaria
tão luzente.

Em arqueiros
de nuvens
a dançar
ruas
e
carmins
em
futuros
passos.

Aos berros dos
pedregulhos,
nos acalantos
de casas que
apertam
nossas palavras
contra o peito.

A escalar
o silêncio das águas.
A ser navegante,
a ser

Correnteza.

(Poemas VI e XLVII, da seção principal, “Sombras & Luzes”, p. 76 e 153)



VII

Há de se ter consciência do mar.
É o que digo de melhor.
Mesmo que nunca saibamos
tocar o profundo de seu
corpo amargo.
O mar tem
um limite oceânico.
E todos nós não temos também?
Um mar dentro do estômago.
Um mar dentro dos olhos.

(Fluido VII, da última seção do livro, “Uma Canção de Mim Mesma no Mar”, p. 261)

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