quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

.: Final entre Dayse e Marcelo confirma vocação do "MasterChef"

Marcelo olhando as cinco vitórias de Dayse e pensando na final do "MasterChef Profissionais"
Por Helder Miranda
Em dezembro de 2016

Com a final entre Dayse e Marcelo, o "MasterChef" confirmou a vocação de ter finais "vazadas" para o público antes de elas irem ao ar. E, nesta edição, aconteceu um fenômeno interessante e contrário ao que se esperava durante a evolução do reality: a ascensão de dois azarões que, em princípio, ninguém apostava. 

Pode parecer contraditório, mas Dário se prejudicou ao ganhar a primeira prova do "MasterChef Profissionais". E Marcelo, ao contrário dele, foi favorecido ao ter começado mal no início da temporada. Daquele distante primeiro episódio, ao último, o da semifinal, Dário vivenciou uma surpreendente derrocada que começou no auge e foi fazendo com que ele diminuísse de tamanho. Os competidores, por aquela primeira vitória, passaram a enxergar nele um talento indiscutível na cozinha quando Dário era somente um bom cozinheiro, talvez nem tanto merecedor daqueles "louros" todos. E não há nada de pejorativo nisso, ele só não deveria ter acreditado tanto no que pensavam dele para não ceder à ilusão de pensar que era melhor do que realmente é. 

O próprio Dário se pensava mais do que os outros e demonstrou isso quando não aceitou perder para Dayse que, segundo ele, tem menos técnica do que outros que foram eliminados antes -em uma clara citação à Ivo, que foi chefe de Dayse e era muito próximo dele. Paola Carosella definiu Dário como um rebelde que tinha necessidade de quebrar regras e complementou: "Para quebrá-las, é preciso conhecê-las". O recado dado (até para os telespectadores) foi: "leia os clássicos". Há muitas referências no passado e, para construirmos o que virá a ser futuro, é necessário tê-las. 

Marcelo, pelo contrário, começou na berlinda e foi ganhando espaço com ousadia e pratos autorais. Há na maldade de Marcelo, quando ele esbraveja contra Dayse e dispara impropérios para uma voz que ele pensa ser interna mas ecoa para todos, uma espécie de santidade. Dos tolos, dos ingênuos, dos loucos,  dos puros e daqueles que são pretensos aspirantes à vitória. Marcelo também se perdeu pelo caminho, mastigando vitória a vitória uma esperança de exibir o prêmio na mão sem ainda tê-lo de fato - e esse excesso de confiança, que ele não tinha ou não demonstrava no início, pode derrotá-lo na próxima terça-feira. Deveria, sim, fazer um tutorial de como perder uma torcida expressiva pelas atitudes em um único programa. 

Há quem defenda o jogo de Marcelo tentando prejudicar Dayse na penúltima prova. Dá até um pouco de saudosismo da primeira edição, quando participantes queriam vencer - não se sabe se por hipocrisia ou senso crítico - que deveriam vencer por serem melhores e não porque outro participante se saiu mal em determinada tarefa.  

Por essa espécie de trapaça, previsível e até aceitável em um reality show, já que para um ganhar todos têm de perder, Dayse ela cresceu tanto fora da cozinha do "MasterChef". Durante a exibição do programa em que ela claramente foi prejudicada por Marcelo, Dayse ganhou três mil seguidores. E agora, a partir do eco da audiência da TV, que deve ser levada em conta na escolha feita pelos jurados para definir quem é o primeiro "MasterChef Profissionais", ela pode sagrar-se a vencedora, confirmando a trajetória bem-sucedida de mulheres na competição culinária. Ou você acredita que Marcelo sairá impune de tudo o que ele falou e fez no programa?

Dayse começou como a aspirante a humorista sem graça do programa (esse posto já foi de Izabel, vencedora da segunda edição da versão amadores do "MasterChef") e seguiu como uma participante mediana, caminhando em banho-maria sem chamar atenção. Ao contrário de Izabel, nunca se fez de coitada, tampouco fez a cara do "Gato de Botas". Há pouco, o público soube de sua trajetória de esforço, de sair de sua cidade e de pegar ônibus para ir ao trabalho, como tantos brasileiros. Ela sobreviveu à perseguição de Marcelo nos últimos programas e à torcida contrária do chef Ivo, de quem foi aprendiz. Ganhou apoio da audiência maciça quando interpretaram a tentativa de rasteira de Marcelo como um ato machista que, na verdade, foi a mistura de percepção de que ela se sairia melhor que Dário na final. 

A favor dela, a postura de respeitar os oponentes, e não se sentir a vencedora, ao contrário dos outros que chegaram perto disso. Quando Dário, na berlinda, a parabenizou por ela ter ido à final quando ainda desconhecia o resultado, ela respondeu: "Calma, você não sabe". Ou seja, não sofreu por antecipação e, muito menos, comemorou antecipadamente. Essa é a principal característica daqueles que vencem.

Sobre o autor

Helder Miranda é editor do portal Resenhando há 12 anos. É formado em Comunicação Social - Jornalismo e licenciado em Letras pela UniSantos -Universidade Católica de Santos, e pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela USP. Atuou como repórter em vários veículos de comunicação. Lançou, aos 17 anos, o livro independente de poemas "Fuga", que teve duas tiragens esgotadas.

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