Por Luiz Gomes Otero
Em dezembro de 2016
Músico e produtor musical, Bozzo Barretti teve parte de sua história ligada à fase inicial do grupo Capital Inicial. E quis o destino que, ao fundar uma nova banda, a Brotheria, ele unisse forças com outro ex-integrante do antigo grupo, o santista Murilo Lima e outros amigos, em busca de um resgate do som dos anos 80, de um tempo em que o rock nacional estava mais em evidência na mídia. Em entrevista para o Resenhando.com, Barretti conta detalhes dessa nova fase e sobre o início da careira. "Se você não correr atrás dos seus sonhos, você nunca saberá se nasceu para aquilo".
BOZZO BARRETTI - Minha passagem pelo Capital iniciou quando fui chamado para co-produzir o primeiro LP que eles gravaram. Eu já era um arranjador bem conhecido e vinha da Vanguarda Paulistana. O Vinicão, que produziu o primeiro disco do Capital, precisava de um músico tecladista que gostasse de rock e que pudesse co-produzir com ele. Eu havia trabalhado no "Festival dos Festivais", da Globo, com ele (fui arranjador, inclusive, da música que ganhou o Festival: "Escrito nas Estrelas"). Assim, conheci a galera do Capital em estúdio. À partir do segundo disco, "Independência", já fazia parte da banda. Minha formação passava pela USP, onde me tornei Bacharel em Composição Erudita. Com o Capital, voltei meu olhar pra composição de músicas pop, coisa que eu fazia muito quando era moleque. Nas parcerias com a banda, fui me interessando e desenvolvendo mais habilidades para compor esse tipo de música. Acabou ficando no meu paradigma de recursos que eu possa lançar mão quando vou compor. E acabei compondo muitos sucessos nesta área com o Capital.
Você ainda mantém contato com os demais integrantes do Capital?
B.B. - Sim. Pouco, mas, sim. Durante um período a ruptura foi total. Mas, todos nós estamos bem adultos e hoje, quando nos encontramos, sempre fico muito feliz. No final de novembro, recebi uma ligação do Loro Jones querendo que eu participe do próximo CD dele. O que será uma honra, para mim! Recentemente, Murilo Lima e eu participamos, como convidados, do "Tributo ao Charlie Brown Jr.", da 89 FM, que o Dinho participou também e nos encontramos: Dinho, Flávio, Fê e eu! Foi muito bom!
B.B. - O projeto surgiu como uma revisão da minha carreira e uma vontade de escrever algo que se assemelhasse a uma Ópera Rock. Contava a minha visão de música, passando, sempre pelo rock. Chama-se "A Idade do Rock" (que, talvez, ainda possa ser posto em prática). Foram anos buscando parceiros, até encontrar o Dino Verdade, baterista da Brotheria, que me ajudou formatar um maneira de criar a banda com pessoas que estivessem com disponibilidade. Se não tinha tempo pra banda, não poderia estar na banda! Simples assim. Já no projeto original, muitas músicas passavam pela estética dos anos 80, que para mim se resume a canções que são tocadas com pegada de pop rock. Vieram Geraldo Vieira, baixo, Carlos Pera, guitarra e por fim Murilo Lima. A banda começou a crescer em espírito de banda. Todos queriam um som autoral. Eu comecei a compor compulsivamente e as canções foram surgindo. Algumas com uma pitada de MPB ou bossa e outras com sotaque de anos 70, mas, a linha principal acaba tendo um toque de anos 80, porque foi a época que mais compus música pop e se encorporou na minha maneira espontânea de composição.
Como surgiu a sua amizade com o santista Murilo Lima, integrante e vocalista do Brotheria?
B.B. - Eu produzi a Banda Rúcula, da qual o Murilo fez parte, em 1990. De lá para cá, cruzei poucas vezes com ele. Mas, num determinado dia, fiquei sabendo que eles estavam de volta e fariam um show numa FNac. Fui lá pra ver! Curti demais o Murilo cantando no palco. Esperei quase dois anos pra convida-lo a entrar na Brotheria, porque não queria atrapalhar o Rúcula. Quando fui convida-lo, descobri que só haviam feito aquele show (risos)! E aí, ele aceitou de primeira. Aí, sim, nossa amizade passou a existir no nosso dia a dia!
Nos tempos atuais, de internet e downloads, como tem sido trabalhar com música?
B.B. - Você tem que se adequar. Eu tive o privilégio de trabalhar para várias gravadoras e, de uma certa forma, me acomodava a isto. Com a falência deste modus operandi, você tem que buscar alternativas. A concorrência ficou bem maior, porque todos estão no jogo e antes, com as gravadoras, uma vez que você fizesse um bom trabalho para essa ou para aquela, acabava criando nome e as opções de nomes eram bem menores. Os valores de hoje são ridículos. Um download não te dá praticamente nada. O compositor passou a ser um cara que ajuda outros fazerem sucesso, mas, raramente, isso se transforma em bens financeiros. Os artistas fazem shows, ganham e muitas vêzes muito, mas isto não chega até o compositor. Por outro lado, há uma democratização do sucesso. Se você tiver sorte de cair no gosto de um bom número de pessoas e se transformar num viral....bingo!
O CD ainda é viável como forma de divulgar o trabalho de uma banda? Ou será que o formato MP3 seria hoje a melhor opção?
B.B. - Só serve como cartão de visitas. Aqueles que ainda têm um CD Player podem curtir pegar um CD e manusear a capa, mas, via de regra, o que vale é o download ou o clipe nas redes sociais. O formato MP3, como som, é uma porcaria! É uma compressão dos dados originais dos áudios. Mas poucos estão preocupados com a qualidade sonora nos dias de hoje. Querem saber se gostam ou não da música. E as redes sociais são a melhor vitrine nos dias de hoje.
Como estão os planos de divulgação desse novo trabalho?
B.B. - Fizemos uma boa divulgação em um pedaço do Estado de São Paulo, que é a nossa sede, passando por mais de 20 cidades do interior e suas respectivas rádios. Em algumas delas, a música está muito bem. As rádios foram muito receptivas ao nosso trabalho. Chegamos a atingir o primeiro lugar em uma cidade de interior. Mas a divulgação do dia a dia da gente é via redes sociais. Falar com os fãs, postar novidades da banda. Temos uma parceria com uma produtora, a Baobá Art, que nos facilita fazer clipes pra postar nas redes também. Por isso, nos focamos nisto também.
Que mensagem você gostaria de deixar para quem está começando a buscar um espaço na música?
B.B. - Eu tinha tudo pra não ser um músico, apesar de tocar desde os cinco anos de idade, de ouvido, diga-se de passagem. Mas fui vendedor em lojas, contato em em uma grande empresa... porém o que eu sempre quis foi fazer música, viver da música, viver música! Se você não correr atrás dos seus sonhos, aquele que seu livre arbítrio escolheu, você nunca saberá se nasceu para aquilo ou, se vai viver daquilo. Quando você se arrisca, a sorte está lançada, mas se você não se arriscar, nenhuma sorte irá te procurar! Esforce-se pra fazer o seu melhor e use as redes pra divulgar seu trabalho: quem sabe, milhares, milhões de pessoas podem vir a curtir aquilo que você faz! A pior frustração é perder o jogo por não jogá-lo.
Luiz Gomes Otero é jornalista formado em 1987 pela UniSantos - Universidade Católica de Santos. Trabalhou no jornal A Tribuna de 1996 a 2011 e atualmente é assessor de imprensa e colaborador dos sites Juicy Santos, Lérias e Lixos e Resenhando.com. Recentemente, criou a página Musicalidades, que agrega os textos escritos por ele.
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