terça-feira, 27 de dezembro de 2016

.: Antes de morrer, Carrie Fisher contou tudo em livro

O mundo foi surpreendido com a morte de Carrie Fisher, escritora e atriz, mais conhecida pela princesa Leia de “Star Wars”, aos 60 anos, quatro dias após ser internada por sofrer um ataque cardíaco durante um voo que ia de Londres a Los Angeles.

Ela atuou ainda em outros filmes como “Shampoo” e “Harry e Sally – Feitos Um Para o Outro”. É autora de quatro romances best-seller nos EUA: “Surrender The Pink”, Delusions of Grandma”, “The Best Awful” e “Postcards from the Edge”.

Em “Memórias da Princesa”, ela contou sobre sua relação de altos e baixos com a franquia e com a fama, sempre com muito humor e ironia. Ela tinha apenas 19 anos quando foi escalada para viver o papel que definiria para sempre não apenas sua carreira, mas sua vida. “Star Wars” é um dos maiores fenômenos da história na cultura pop, e a Princesa Leia é até hoje vividamente lembrada por sua personalidade voluntariosa, seus coques laterais e seu biquíni dourado. 

No livro, recém-lançado pela editora BestSeller, a intérprete da famosa personagem narra com humor e ironia os bastidores desta experiência, conta histórias de sua vida e fala ainda sobre a volta à franquia, nos novos filmes produzidos por J.J. Abrams. A fama não era algo estranho a Carrie, filha da atriz Debbie Reynolds e do músico Eddie Fisher. A experiência familiar, inclusive, a ensinou desde cedo o lado ruim da popularidade: o pai ficou conhecido como o homem que deixou a mulher e a família para ficar com Elizabeth Taylor; a mãe acabou seus dias encenando musicais em clubes noturnos – nos quais Carrie começou a carreira artística, atuando como backing vocal.

No livro, ela detalha essas experiências com a família e conta da decisão de se matricular na Royal Central School of Speech and Drama, na Inglaterra, aos 17 anos. Ela acabou abandonando o curso para gravar “Star Wars”, dois anos depois, também em Londres. Carrie conta ainda como foi o processo de seleção para o filme: ela fez o teste diante de George Lucas e de Brian De Palma, que na época escalava o elenco de “Carrie, a Estranha”.

Uma seção inteira de “Memórias da Princesa” é dedicada a revelar o romance que a atriz viveu com Harrison Ford, seu companheiro de cena e par romântico no filme. A dupla nunca havia confirmado os boatos deste relacionamento – ele era casado na época. O texto narra os acontecimentos desde a primeira vez que os dois se beijaram, num carro, depois de uma festa surpresa de aniversário para George Lucas. Carrie, que tinha 19 anos e era 14 mais jovem que Harrison, mostra ainda trechos do diário que manteve durante as gravações, com direito a poesias, reflexões, sentimentos conturbados e declarações de amor.

Sua relação de altos e baixos com “Star Wars” é um dos destaques do livro. Ela fala sobre a fama repentina, a obsessão dos fãs, e os efeitos do fenômeno na personalidade de uma menina insegura de 19 anos. Em uma passagem engraçada, ela se lembra de passar de carro em frente a um cinema que exibia o filme, com filas que davam a volta no quarteirão, e gritar, da janela: “Ei, eu tô nesse filme! Eu sou a princesa!”.

Os problemas de autoestima da atriz e os detalhes da escolha do icônico penteado de Leia – que ela acha horroroso, por sinal – também são destrinchados no texto. Carrie não tem problemas em falar abertamente sobre a humilhação de “se vender” e “dar autógrafos por dinheiro”, e faz uma reflexão sincera sobre a fama e o modus operandi de Hollywood.

O livro traz ainda um encarte com fotos do set e dos bastidores do filme. O spin-off “Rogue One – Uma História de Star Wars” estreia nos cinemas em 15 de dezembro. Já o episódio XVIII da série, que contará com a presença de Carrie, chega às telas no fim de 2017. A tradução é de Patrícia Azeredo e Thaíssa Tavares.

Trechos:
“Pat McDermott foi designada para cuidar do meu cabelo no filme. Tendo usado apenas um penteado em Shampoo, eu não entendia como isso podia não ser uma tarefa simples. Coloque uma peruca, escove um pouco, fixe uns grampos e, voilá, cabelo pronto. O que poderia ser mais simples? Bom, essa tarefa simples acaba se complicando quando você pensa que o visual de Leia acabaria sendo copiado por crianças, travestir e casais envolvidos no que poderia ser considerado um ato sexual celebrado em Friends. Havia muito mais responsabilidade envolvida do que parecia à primeira vista. Claro que não tínhamos como saber isso no início. Então, Pat tentou providenciar o que lhe tinha sido pedido: um penteado incomum, para ser usado por uma garota de 19 anos que interpretava uma princesa.”

“Então, é com reserva e escrúpulos atípicos que vou suprimir todos os detalhes. Não sou tola a ponto de contar qualquer detalhe além das informações e descrições mais genéricas a respeito do que aconteceu entre o Sr. Ford e eu naquela fatídica noite de sexta-feira em maio de 1976. Isso se aplica também a tudo o que ocorreu entre mim e Harrison nas sextas-feiras subseqüentes em horários profanos, pois era assim que passávamos nosso tempo juntos, quando dormíamos agarradinhos, como os bons jovens fazem. Ah, passávamos tempo próximos durante o dia após o nosso tempo juntos à noite, como deveria ser. Acho que me lembro dele lendo o jornal enquanto eu... fingia fazer outra coisa.”

“Não consigo me lembrar bem de quando comecei a me referir a dar autógrafos por dinheiro como uma dança sensual das celebridades, mas tenho certeza de que não demorei muito para inventar isso. É dança erótica sem a parte de enfiar dinheiro na calcinha e sem os malabarismo no pole – ou o pole seria representado pela caneta?
Certamente é a forma mais elaborada de prostituição: a troca de uma assinatura por dinheiro, em lugar de uma dança ou esfregação. Em vez de tirar a roupa, as celebridades tiram a distância criada por filmes ou pelo palco. Ambos trafegam na área da intimidade.”

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