quarta-feira, 26 de outubro de 2016

.: O dia em que Marcelo fez Jacquin, Paola e a audiência chorarem

Por Helder Miranda
Em outubro de 2016

CONTÉM SPOILERS 

Uma pessoa que entra no "MasterChef Profissionais" e não sabe levantar uma batedeira. Outro que, ao saber de uma prova, diz que está "fodido" - e que depois reclama: "ferrou, como é que eu vou montar esse troço?". Alguém que diz que tem que se sair bem na prova de eliminação já que "foi esculachado" pelos jurados. O que impressiona nesta edição do "MasterChef" brasileiro, que gira em torno de gente que já trabalha em cozinha, é a falta de compostura diante de todo o Brasil.

O programa com o desafio de transformar sobras em alta gastronomia, na "Caixa Misteriosa". A primeira prova começou com Ana Paula Padrão repetindo a mesma ladainha dos prêmios que o vencedor irá ganhar, algo que não deveria passar pela edição depois de tantos anos. O telespectador sabe, não interessa a ele, e não serve nem para dar o clima do que será o programa, apenas deixa tudo um pouco mais maçante.
A tarefa com as sobras quis mostrar que o "MasterChef" não é só sobre criatividade e decisões básicas. É de superação e mostrar o talento com as referências que cada um têm até aquele momento. O que os levou até ali, que histórias transformaram a sua vida, por que eles se dedicam à gastronomia que, entre as principais atribuições, trata de servir o próximo?

Pessoas pobres lidam com a "xepa" diariamente e, sem reclamar, precisam fazer milagres para que todos de uma família consigam comer. Levar, para a mesa do pobre, alguma satisfação gastronômica não é nenhum desafio, eles sabem que cozinham bem e, sem problematizar, entregam comida gostosa e é o que vale. Quem não fez bem, não sabe lidar com a alma dos pratos brasileiros. A "xepa" é o reflexo de nossa diversidade, da riqueza e da pobreza de nossa gastronomia. Grande parte da população desse país consome com alegria porque tem algo de comer, muitos já passaram fome, e a maioria dos "chefs", afetados e fora da realidade em suas praças de restaurantes profissionais, não têm ideia de que isso acontece. 

A afetação veio por parte da maioria. "Dayse" foi uma delas mas, embora tenha se saído entre as melhores, perdeu alguns pontos ao tentar "fazer a humorista" nos depoimentos, como de costume. Até rende na edição, mas, algumas vezes, não soa bem. Outros participantes, como Priscylla, disseram: "Não sei nem o que fazer". A apresentadora, Ana Paula Padrão declarou: "Não conseguiria fazer absolutamente nada!" - mas ela, que não é cozinheira, não tem essa obrigação.

A prova da "xepa" era sobre construir sabores e o excesso de autoconfiança herdado da prova do programa anterior prejudicou Marcelo, que havia se mostrando um competidor forte e abusou de uma confiança que o fez criar uma gororoba no programa seguinte. Desde o purê de repolho caramelizado, em que foi chamado de idiota pelas costas por Priscylla, ele havia se levantado, para cair outra vez no programa seguinte. Talvez ter-se saído bem-sucedido foi a fagulha que faltava para colocar em prática a sua mente criativa mas, desta vez, não deu certo. Como o "MasterChef" é também sobre reinvenção, ele foi o melhor na prova de eliminação e fez o bolo "Operá", embora mais feio, mais saboroso. Quando revelou que era com o pai, falecido há quatro anos, com quem falava enquanto estava cozinhando, arrancou lágrimas dos jurados Erick Jacquin e Paola Carosella - sendo que tudo isso derrocou na queda de um dos participantes mais queridos. 

Priscylla, que chamou Marcelo de idiota, como chef deveria respeitar os colegas de profissão. Talvez por "charminho", não cansava de repetir que "estava em pânico", na primeira prova e na prova seguinte, o que qualquer um teria vergonha de dizer se fosse um cozinheiro profissional. Em que mundo esse pessoal vive? Protegidos, dentro da casca de seus restaurantes? 

Dário, o santista que sempre acredita que vai mal nas tarefas mas geralmente se sai bem, entendeu a prova e declarou, algum tempo antes, que a tarefa era muito bonita. João, o professor de culinária, reclamou de não estar entre os comente os melhores da primeira prova e acusou injustiça, assim como Ivo, o vilão em potencial que, do alto de seus 25 anos de experiência, não soube utilizar o tempo de profissão a seu favor - e achei justo que ele saísse, pois deveria entender minimamente o que deveria ter feito nesse tipo de prova. 

Fádia é muito parecida com a escritora Fernanda Young, o que não tem nada a ver com o comentário de que ela usou as referências de sua família árabe e contou uma história linda. Diferente da "venenosa" do primeiro programa, que se mantenha assim. Priscylla, que dividiu o veneno com Fádia nos comentários em relação aos participantes no primeiro episódio, foi para o outro extremo na prova de confeitaria. 

A pergunta que não quer calar é: como alguém é selecionado e entra no "MasterChef Profissionais" e não sabe fazer doce? Se foi prejudicada pela edição, ou não, os próximos programas irão responder. Mas, entre todos esses, saiu Rodrigo, o preferido da audiência, superestimado pela beleza, para desespero da audiência, que chorou. Mas "MasterChef" não é um concurso de misses. Além de pratos bonitos que abram o apetite, o que os espectadores querem ver são histórias de superação tendo como pano de fundo a comida. E na arte de contar alguma história, o programa já tem o seu possível vencedor: Marcelo.

Sobre o autor
Helder Miranda é editor do Resenhando.com há 12 anos. É formado em Comunicação Social - Jornalismo e licenciado em Letras pela UniSantos-Universidade Católica de Santos, e pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela USP. Atuou como repórter em vários veículos de comunicação. Lançou, aos 17 anos, o livro independente de poemas "Fuga", que teve duas tiragens esgotadas.

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2 comentários:

  1. Por conta do uso de termos chulos dos participantes... Eu me lembrei da franquia de programa "De Férias com o Ex", da MTv, emissora juvenil e paga. Enfim... Band é aberta e apresenta um programa com profissionais assim?

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