O programa "Mariana Godoy Entrevista" da última sexta-feira recebeu o prefeito eleito de São Paulo João Doria Júnior. Ele falou sobre os principais temas da administração pública na cidade de São Paulo e deu "dicas" sobre como deve governar a maior cidade do país.
A primeira pergunta feita ao prefeito eleito foi se ele se candidatará ao Governo do Estado em 2018. Ele garantiu que não: "Eu fui eleito para ser prefeito da cidade de São Paulo e vou ser prefeito durante quatro anos e sem reeleição, porque eu sou contra a reeleição". O político foi enfático e afirmou que vai trabalhar em dobro para cumprir suas promessas: "Vou transformar quatro anos em oito". Doria se definiu como um "workaholic" e disse que sua diversão é trabalhar.
O prefeito eleito de São Paulo comentou alguns dos grandes eventos culturais do calendário da cidade. Ao Carnaval, tanto de rua, quanto no sambódromo, Doria fez muitos elogios, mas garantiu que é possível melhorar tudo. "Gosto de Carnaval e organizei o Carnaval de São Paulo. Fui secretário de Turismo do Mário Covas". Ele explicou que pretende fazer algumas alterações nos festejos de rua, que fizeram muito sucesso na cidade nos últimos anos: "Vamos descentralizar um pouco mais para evitar o excesso que houve nesse ano. Os blocos podem continuar, de forma um pouco mais organizada". Sobre a Parada do Orgulho LGBT, Doria foi enfático: "A parada gay vai continuar tendo o apoio da Prefeitura de São Paulo e estarei lá, inclusive". O prefeito eleito elogiou a Virada Cultural e afirmou que foi uma ótima iniciativa do ex-prefeito José Serra: "Vamos continuar com a Virada Cultural, mas vamos acrescentar a Virada dos Bairros". João Doria falou, ainda, sobre a abertura da Avenida Paulista aos domingos: "Vamos manter, a ideia é boa, a ideia é positiva. Foi da gestão Haddad, mas foi uma boa iniciativa". O prefeito eleito garantiu não ter problemas em admitir quando um adversário político tem uma boa iniciativa. Sobre o Minhocão, ele garantiu: "Vamos manter também, a ideia é boa, vamos incrementar um pouco as atividades musicais e a gastronomia".
Sobre a gastronomia, inclusive, Doria se comprometeu a facilitar o trabalho dos pequenos e microempreendedores, como os proprietários de food trucks: "Tudo vai ser mais fácil, a cidade é muito burocrática, eu sou contra a burocracia". Ele falou sobre a criação de um projeto chamado "Facilita São Paulo", que pretende justamente apoiar os micro e pequenos empreendedores da cidade, com desburocratização na concessão de liberações de alvarás de funcionamento e reforçou que pretende fazer uma gestão moderna da cidade.
Os compromissos assumidos pelo prefeito eleito são audaciosos e, por isso, ele foi questionado sobre como fará o serviço público ter a agilidade que deseja, haja vista que essa não é uma prática corrente. O tucano garantiu conhecer o funcionamento da máquina pública e disse que soube agir nesse sentido quando foi preciso: "Já fiz (agilizar os serviços públicos), fui secretário do Mário Covas em 1982, 1983 e 1984". Doria citou iniciativas que, segundo ele, ajudaram nesse sentido. Ele citou iniciativas que teve nesse período e garantiu: "Se você quer ser um bom gestor, motive as pessoas, crie oportunidades".
João Doria afirmou que aparecerá nas repartições de surpresa e, apesar de garantir que a ideia não é fiscalizar o trabalho do funcionalismo público, deixou um aviso: "Vou aparecer e ai se o pessoal não estiver lá trabalhando". Ele afirmou, também, que pretende sair às ruas da cidade com frequência para analisar o funcionamento de tudo.
O tucano disse qual será o principal foco de sua administração: "A prioridade numero um é saúde, número dois é saúde, número três é saúde. Depois vem educação, mobilidade urbana, habitação popular, segurança pública". Doria elogiou os CEUs, criados na gestão de Marta Suplicy e deu a entender que deve usá-los como referência para a instalação de novos aparelhos de educação na cidade. O prefeito eleito fez questão, também, de elogiar os rivais no pleito e, sobretudo, a transição acertada com o atual prefeito de São Paulo, o petista Fernando Haddad. Doria agradeceu a elegância e a disponibilidade do atual gestor da cidade e afirmou que, apesar de difícil, a campanha à prefeitura teve um bom nível. Doria afirmou que a transição será muito "republicana" e disse que está sendo feita "política com civilidade, com grandeza" na cidade: "Você pode ter diferenças ideológicas, partidárias, como de fato temos, mas tem que ter civilidade".
Voltando a falar sobre educação, Doria disse que é preciso aumentar o número de vagas, tanto no ensino fundamental, quanto nas creches e explicou como pretende fazer isso nas duas frentes. Ele defendeu, ainda, o ensino em período integral. O prefeito eleito de São Paulo mostrou inclinação a retomar o projeto 'Escola da Família': "Vamos reimplementar o que já foi um sucesso no passado".
Ao ser informado por Mariana Godoy de que as promessas são muitas para um curto espaço de tempo Doria se mostrou confiante: "É minha obrigação. Eu recebi 53% dos votos. Eu tenho isso como obrigação, é minha determinação". Ele ainda reafirmou que pretende ser o prefeito de todos os paulistanos: "Eu quero governar não só para aqueles que me elegeram, mas também para aqueles que não me elegeram".
O tucano comentou a quantidade de votos nulos e brancos nas eleições: "Se você olhar, nacionalmente, esse é o reflexo. Há um cansaço da população, de forma geral, com a classe política". Doria disse ver essa situação com desconforto, pois, segundo ele, coloca-se bons e maus homens públicos em um mesmo patamar.
O prefeito eleito contou um pouco de sua história familiar, para assegurar que sabe bem o que é estar na pele do paulistano mais carente. Ele lembrou o tempo em que viveu no exílio com a família e reforçou uma das marcas de sua campanha, a imagem do trabalhador. "De uma vida próspera e boa, passamos a andar de ônibus, passamos a ter muito cuidado com o que tínhamos para comer, várias vezes ficamos sem luz em casa". Ele relembrou que começou a trabalhar aos 13 anos e garantiu que sabe bem o que é viver com dificuldades.
O político falou sobre o que viu na cidade e disse ter se surpreendido com a miséria que, para ele, era algo desconhecido: "A campanha me trouxe alegrias e tristezas, ao ver esse cinturão de pobreza em torno de São Paulo. Eu não conhecia. O extremo da zona sul é muito pobre e falta tudo". Doria usou como exemplos, também, os extremos leste e norte da cidade para explicitar suas impressões sobre a pobreza em São Paulo. Depois disso, ele se comprometeu: "Vou fazer uma gestão muito determinada para ajudar as pessoas mais pobres". Ele disse que se não conseguir resolver todos os problemas, vai se empenhar para fazer o máximo possível por essas pessoas. Ele voltou a enfatizar a sua prioridade na gestão do município: "Saúde é obrigação, nós temos que dar saúde a essa população". Doria fez uma promessa ousada: "Vamos zerar a fila da saúde". Ele se referia à demora para a realização de consultas e exames da população paulistana.
Doria retomou o tema educação e admitiu: "Se não tivermos educação no Brasil, não teremos um país soberano. Educação é oportunidade". Ele ainda afirmou que o país não pode ficar refém dos projetos de assistencialismo e citou a educação como uma porta para escapar da pobreza.
Ao falar sobre a transição da gestão Haddad para a sua, Doria elogiou a postura do atual prefeito de São Paulo e disse como está sendo esse processo, iniciado na última sexta-feira, 7 de outubro. "Muito tranquila, muito democrática, muito republicana. Eu acredito que é possível fazer política em alto nível". Ele voltou a elogiar os candidatos derrotados na eleição, citando seus principais oponentes, um a um. Doria contou como foi a reunião com Haddad e sobre o que trataram nesse primeiro encontro e explicou que conversaram sobre a parte mais imediata e de médio prazo: "Mas falamos de todas as áreas". Ele elogiou o atual gestor da cidade: "Estou muito feliz com a reação e a atitude do prefeito Fernando Haddad. Tenho certeza de que ele vai entregar a prefeitura em boas condições".
O prefeito eleito reafirmou uma de suas principais promessas de campanha: "Na semana seguinte à nossa posse as velocidades nas marginais Tietê e Pinheiros serão alteradas". Doria mostrou não estar totalmente de acordo com as pesquisas que indicam que a redução das velocidades máximas nas marginais foi a principal causa da redução expressiva de acidentes e de mortes na cidade e deu outras razões para a queda acentuada que, segundo pesquisa recente, foi de cerca de 15% na capital contra aproximadamente 5% no estado. Doria garantiu que as velocidades na parte interna da cidade serão mantidas e reconheceu os méritos de Fernando Haddad nessas alterações que reduziram a mortalidade: "Esse crédito o prefeito Haddad tem e eu reconheço. Tudo aquilo que for bom pra cidade será mantido". Doria reforçou, no entanto, que a cidade precisa de mais educação de trânsito e criticou a atual gestão nesse sentido: "Não quero condenar, estigmatizar a atual prefeitura, mas nesses quatro anos não houve nenhuma campanha". Ele se comprometeu com o tema: "Vamos fazer muitas campanhas educativas de orientação no trânsito em São Paulo".
Outro tema polêmico foi abordado pelo político na entrevista, as concessões dos parques públicos à iniciativa privada. Ele foi categórico ao afirmar que todos serão geridos pela iniciativa privada e explicou parte de seu projeto. Doria garantiu que não haverá cobrança de ingresso para os parques e tentou tranquilizar os ambulantes que ganham a vida dentro de parques como Ibirapuera e do Carmo. Ele opinou sobre qual deverá ser a conduta das empresas que administrarão os serviços nos parques: "Vão dar prioridade àqueles que já são permissionários".
Ao ser questionado sobre a criação do Parque Augusta, na região central da cidade, ele foi direto: "Eu não fui eleito prefeito para fazer média. Fui eleito prefeito para prefeitar". E continuou: "Eu, em sã consciência, não vou gastar 200 milhões de reais para comprar um terreno para fazer parque. Vamos negociar com a Cyrela (dona da área) para que ela possa, como proprietária do terreno, usar 20% para seu empreendimento e permitir que 80% seja um parque público administrado pela iniciativa privada".
Sobre o autódromo de Interlagos, também foi direto: "Será privatizado. Continuará sendo o Autódromo Internacional de Interlagos,continuará sediando Fórmula 1 e vai ser a maior praça para espetáculos ao ar livre da América do Sul". Doria confirmou, ainda, que privatizará o Anhembi e que para o Pacaembu planeja uma concessão. O prefeito eleito falou sobre os custos de alguns desses polos para os cofres públicos e defendeu a prática de privatizações: "Não podemos ter medo de ser modernos. Precisamos sair do século XIX e achar que privatizar é ruim". Ele explicou como pretende usar o dinheiro oriundo desses negócios.
Doria não fugiu de opinar acerca das eleições presidenciais nos EUA: "Com todo respeito ao Donald Trump, mas o meu voto é Hillary Clinton". Ele afirmou que torce pelos Estados Unidos e disse que é o melhor para a América. Ele aproveitou para reforçar o compromisso de doar seus salários para caridade: "Vou doar 48 salários. Eu não preciso do dinheiro da Prefeitura, a minha condição me permite isso". Ele fez questão, no entanto, de reafirmar que não é uma crítica a quem precisa dessa remuneração.
O tucano falou como pretende resolver as questões de educação e saúde das crianças e adultos com necessidades especiais, com autismo, síndrome de down e outras situações que necessitem de um projeto mais específico. Doria afirmou que a prefeitura investirá em "educação inclusiva e também a saúde inclusiva. Vamos tratar isso com muita atenção e com muito carinho". Ele foi além: "O ideal é que todas as escolas públicas tenham a educação inclusiva". Ele aproveitou para dizer que o dinheiro das privatizações será usado, também, em projetos inclusivos.
Ao falar sobre transporte, Doria deu pistas de como deve ser a sua gestão: "Temos que melhorar a eficiência do transporte de ônibus, não necessariamente aumentar a frota". O prefeito eleito citou o projeto "Rapidão" que deve se utilizar dos corredores de ônibus e reforçou que deve manter as boas iniciativas do prefeito Fernando Haddad. Doria ainda citou como possibilidade a implantação do Bus Rapid Transit (BRT), sistema que já existe em algumas partes do Brasil e que, em teoria, prescinde do trabalho de cobradores, pois o pagamento é feito em cabines que permitem acesso aos pontos de ônibus. Doria fez questão de tranquilizar os profissionais que perderiam função: "Cobradores não vão perder o emprego, eles estarão nas estações e serão treinados para serem motoristas".
Em mais um momento de descontração, João Doria Júnior saboreou uma coxinha, tomou um pingado e se divertiu com algumas histórias de sua campanha. Ele ainda disse como pretende resolver um problema iminente: as enchentes e a queda de árvores na cidade, que devem afetar a sua gestão já nos primeiros dias de mandato.
Ao ser questionado sobre "ter lançado" Geraldo Alckmin como candidato do PSDB à presidência da República nas eleições de 2018, diferentemente do que fez ao comemorar sua eleição, Doria preferiu se esquivar: "Eu não fiz o lançamento, foram os militantes do PSDB que gritaram 'Geraldo Alckmin presidente', mas não é o momento de discutir isso. Até 2018 tem uma eternidade". Por fim, ao ser informado de que seria cobrado por suas ações à frente da prefeitura de São Paulo ele aceitou o desafio: "Tem que cobrar, é a minha obrigação é fazer".
*Crédito/Foto: Artur Igrecias/Divulgação RedeTV!
Assista ao programa na íntegra: http://www.redetv.uol.com.br/jornalismo/marianagodoyentrevista/videos/programas-na-integra
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