Por Helder Miranda
Em outubro de 2016
Durante uma entrevista concedida há algum tempo, Paola Carosella declarou que “quem pensa que é a nova revelação da gastronomia” não deveria ir para um reality show, mas para um restaurante. Com a premissa de revelar o maior "chef de cozinha profissional" do país, "MasterChef Profissionais" começa com essa incoerência, já que um de seus jurados fez esta declaração, mas promete entretenimento puro nas noites de terça-feira com (Eric) Jackin, (Henrique) Fogaça, a própria Carosella e Ana Paula Padrão.
Como ainda não são muitos participantes, não vou me ater a nomes. Eu sempre imaginei os candidatos do "MasterChef" no nível dos participantes do "Hell's Kitchen", transmitido pelo SBT, que já trabalham na área de gastronomia. Eis que esse dia chegou e a Band nos presenteia com uma edição apenas sobre "chefs" profissionais. O resultado é a combinação bombástica de assédio moral e diversão que pode ser enquadrada naquela série de "guilty pleasures".
"MasterChef" é tudo o que os programas culinários, qualquer um deles, queriam e deveriam ser - do elenco de chefs escalados para o júri até a apresentação competente e carismática de Ana Paula Padrão. Na prévia do programa, aquele resumo que é colocado para esperar a novela da Globo acabar, sai o vice-campeão da segunda temporada do talent-show e entra Léo Young, acompanhado da atriz e apresentadora Fernanda Paes Leme que, pouco aproveitada na Globo, passa a ser figura onipresente na programação da Band.
Tal qual qualquer reality show, desfilam pelas praças da cozinha toda uma gama de estereótipos, como o galã, o "santista desencanado" (depois de Raul Lemos, isso virou uma tradição?), os vilões, a participante metida a humorista que faz comentários espirituosos (isso funcionou com a vencedora da segunda edição, Izabel) e os vilões. Nesse quesito, há três candidatos a vaga. Ivo, o chef com mais de 25 anos de experiência, foi o mais marcante deles.
Criador do melhor prato na primeira prova, ele foi convidado a ajudar a participante Izadora, que estava em apuros e acabou sendo eliminada. Na verdade, foram três eliminações frenéticas no primeiro programa - alguém sabe se serão três por programa ou só no de estreia?
A "ajuda" de Ivo, confundida com "machismo" pela internet, pode ser interpretada por dois lados: ele realmente quis ajudar e desestabilizou a loira que estava em apuros, ele quis mostrar serviço e agiu como faria em uma situação de gerenciamento de risco, só que encontrou uma "chef rainha do drama", ou ele é realmente mal-educado com quem considera estar em abaixo dele. Junte uma jovem que está desestabilizada e que chora durante e prova para a bomba-relógio explodir. só poderemos concluir o que aconteceu com o andamento do programa.
Mas o que chamou a atenção foi o veneno de duas participantes em especial, uma de cabelos castanhos, óculos e olhos claros que detonava todo mundo e uma loira de olhos azuis que soltou a pérola, ao se referir à profissão de Izadora: "personal chef nada mais é que chef desempregado". Repescagem já para Izadora voltar "rainha" e ter tempo de mostrar a que veio.
Muito se alardeou sobre o desacato que Paola Carosella teria sofrido de um dos participantes, mas há uma diferença entre "desacato" e "desobediência". Mas, quando ela diz: "faça o que quiser", ela retira a ordem de que um participante deixe de fazer o que ele estava fazendo, e o libera para que ele, literalmente, faça o que quiser. Dentro dessa premissa, Paola foi apenas contrariada por um participante que, no final das contas, mostrou que estava certo. Ele não só conseguiu terminar a sobremesa, como foi o melhor dos pratos que foram servidos. Ele ter ignorado, como as redes sociais disseram sobre o machismo, em minha opinião, não está relacionado à essa vitimização no ambiente corporativo feminino. Tem a ver com você estar ocupado e ter uma pessoa, seja ela homem ou mulher, gritando na sua cara.
Sobre o autor
Helder Miranda é editor do Resenhando.com há 12 anos. É formado em Comunicação Social - Jornalismo e licenciado em Letras pela UniSantos-Universidade Católica de Santos, e pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela USP. Atuou como repórter em vários veículos de comunicação. Lançou, aos 17 anos, o livro independente de poemas "Fuga", que teve duas tiragens esgotadas.
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