Por Helder Miranda
Em setembro de 2016
Marian Keyes tem um quê de iluminada. Não se sabe exatamente porque, mas estar perto dela é algo que faz perceber o quanto ela é evoluída. E tem tantos faz agradecidos pelo que ela fez por eles sem saber, com os livros publicados e as histórias de superação e empoderamento que é fácil, muito fácil, gostar dela . Tive a oportunidade de estar bem perto dela na Bienal do Livro de São Paulo, quando lançou, pela Bertrand Brasil, a edição comemorativa do romance “Melancia” e o novíssimo “Salva Pelos Bolos”.
Ao contrário dos anteriores, “Salva Pelos Bolos” não é um romance açucarado. Pelo contrário, é uma biografia. Não a biografia tradicional, que conta a vida dela ou de qualquer outra pessoa que a escritora irlandesa admire ou conviveu. É a história dela mesma que está em jogo, pois trata de um momento muito delicado, quando Marian passou por um colapse nervoso. A solução encontrada foi se dedicar à gastronomia e, como uma “formiguinha” assumida, resolveu fazer doces.
Sorte de principiante, ou talento nato, fez com que o contato com as massas, os recheios, os sabores tradicionais e exóticos, mas, principalmente as cores, fez com que Marian se recuperasse e, tais quais as personagens que elabora de sua mente inquieta, voltasse à vida feliz e mais forte.
Sobre a biografia que se faz a partir dos pratos que ela prepara, eu explico: ao mostrar o passo a passo das receitas de mais de 80 doces, Marian Keyes se autobiografa por completo. Ela revela gostos pessoais, conta histórias e os contextos em que as guloseimas ensinadas no livro estão inseridas. Não importa se ela faz o “Pudim de Caramelo ‘Puxa-Puxa’ do John” -aliás, você só vai descobrir quem é ele se ler o livro- , “Broas de Leitelho”, o“Bolo de Natal Sem Medo” -existe uma história por trás desse nome inusitado-, o “Bolo Brasileiro de Cerveja Preta” ou qualquer outra receita... As palavras que ela escolhe para contar cada saboroso episódio da vida dela antes de ensinar a receita detalhadamente revelam o ser humano por trás das letras.
Chama atenção o cuidado que a própria Bertrand Brasil tem com as obras de Marian Keyes. Sempre são capas bem coloridas e chamativas. Com “Salva Pelos Bolos”, não é diferente. O livro é todo em papel couché, ricamente ilustrado com fotos coloridíssimas das receitas, que dão água na boca e uma espécie de encorajamento para fazer o que está sendo ensinado.
O que posso dizer sobre as receitas? Fiz o teste de algumas e... dá certo. O que posso dizer é que como homem sem jeito para a cozinha, e inexperiente no ramo de doces, consegui fazer o “Bolo de Aniversário de Cola da Rita Anne”, a “Pavlova de Gengibre e Abacaxi da Shirley” e os “Corações Lebkuchen”. Quem provou, disse que estava ótimo. Claro que, nas primeiras vezes, não ficou tao bonito quanto nas fotos, mas sei, pelos realities culinários que assisto, que cozinha é treino, é dia, é estado de espírito.
Marian Keyes, para variar, cumpre sua função terapêutica de seus livros sem apelar para a autoajuda sem sutileza. Pelo contrário, ela é tao generosa que compartilha seus dramas pessoais sem medo nenhum de se expor. Deveria haver mais professoras de culinária como Marian Keyes.
Além disso, é um livro literalmente gostoso de ler, ver e, depois, saborear. Mas é de Marian Keyes, a maior escritora da atualidade e, só por isso, você deveria prestar atenção. Mesmo que não queira cozinhar, ou que não possa com a glicose, ou esteja de dieta. No final das contas, Marian descobre que o “colapso nervoso” que contou no início do livro era medo, muito medo, e que isso estava envenenando o cérebro dela. E isso não é spoiler, é vida real.
"Salva Pelos Bolos"
Marian Keyes
Tradução: Marina Slade
Páginas: 232
Editora: Bertrand Brasil/Grupo Editorial Record
Em setembro de 2016
Marian Keyes tem um quê de iluminada. Não se sabe exatamente porque, mas estar perto dela é algo que faz perceber o quanto ela é evoluída. E tem tantos faz agradecidos pelo que ela fez por eles sem saber, com os livros publicados e as histórias de superação e empoderamento que é fácil, muito fácil, gostar dela . Tive a oportunidade de estar bem perto dela na Bienal do Livro de São Paulo, quando lançou, pela Bertrand Brasil, a edição comemorativa do romance “Melancia” e o novíssimo “Salva Pelos Bolos”.
Ao contrário dos anteriores, “Salva Pelos Bolos” não é um romance açucarado. Pelo contrário, é uma biografia. Não a biografia tradicional, que conta a vida dela ou de qualquer outra pessoa que a escritora irlandesa admire ou conviveu. É a história dela mesma que está em jogo, pois trata de um momento muito delicado, quando Marian passou por um colapse nervoso. A solução encontrada foi se dedicar à gastronomia e, como uma “formiguinha” assumida, resolveu fazer doces.
Sorte de principiante, ou talento nato, fez com que o contato com as massas, os recheios, os sabores tradicionais e exóticos, mas, principalmente as cores, fez com que Marian se recuperasse e, tais quais as personagens que elabora de sua mente inquieta, voltasse à vida feliz e mais forte.
Sobre a biografia que se faz a partir dos pratos que ela prepara, eu explico: ao mostrar o passo a passo das receitas de mais de 80 doces, Marian Keyes se autobiografa por completo. Ela revela gostos pessoais, conta histórias e os contextos em que as guloseimas ensinadas no livro estão inseridas. Não importa se ela faz o “Pudim de Caramelo ‘Puxa-Puxa’ do John” -aliás, você só vai descobrir quem é ele se ler o livro- , “Broas de Leitelho”, o“Bolo de Natal Sem Medo” -existe uma história por trás desse nome inusitado-, o “Bolo Brasileiro de Cerveja Preta” ou qualquer outra receita... As palavras que ela escolhe para contar cada saboroso episódio da vida dela antes de ensinar a receita detalhadamente revelam o ser humano por trás das letras.
Chama atenção o cuidado que a própria Bertrand Brasil tem com as obras de Marian Keyes. Sempre são capas bem coloridas e chamativas. Com “Salva Pelos Bolos”, não é diferente. O livro é todo em papel couché, ricamente ilustrado com fotos coloridíssimas das receitas, que dão água na boca e uma espécie de encorajamento para fazer o que está sendo ensinado.
O que posso dizer sobre as receitas? Fiz o teste de algumas e... dá certo. O que posso dizer é que como homem sem jeito para a cozinha, e inexperiente no ramo de doces, consegui fazer o “Bolo de Aniversário de Cola da Rita Anne”, a “Pavlova de Gengibre e Abacaxi da Shirley” e os “Corações Lebkuchen”. Quem provou, disse que estava ótimo. Claro que, nas primeiras vezes, não ficou tao bonito quanto nas fotos, mas sei, pelos realities culinários que assisto, que cozinha é treino, é dia, é estado de espírito.
Marian Keyes, para variar, cumpre sua função terapêutica de seus livros sem apelar para a autoajuda sem sutileza. Pelo contrário, ela é tao generosa que compartilha seus dramas pessoais sem medo nenhum de se expor. Deveria haver mais professoras de culinária como Marian Keyes.
Além disso, é um livro literalmente gostoso de ler, ver e, depois, saborear. Mas é de Marian Keyes, a maior escritora da atualidade e, só por isso, você deveria prestar atenção. Mesmo que não queira cozinhar, ou que não possa com a glicose, ou esteja de dieta. No final das contas, Marian descobre que o “colapso nervoso” que contou no início do livro era medo, muito medo, e que isso estava envenenando o cérebro dela. E isso não é spoiler, é vida real.
"Salva Pelos Bolos"
Marian Keyes
Tradução: Marina Slade
Páginas: 232
Editora: Bertrand Brasil/Grupo Editorial Record
Classificação: Excelente *****
Sobre o autor
Helder Miranda é editor do Resenhando.com há 12 anos. É formado em Comunicação Social - Jornalismo e licenciado em Letras pela UniSantos-Universidade Católica de Santos, e pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela USP. Atuou como repórter em vários veículos de comunicação. Lançou, aos 17 anos, o livro independente de poemas "Fuga", que teve duas tiragens esgotadas.
Helder Miranda é editor do Resenhando.com há 12 anos. É formado em Comunicação Social - Jornalismo e licenciado em Letras pela UniSantos-Universidade Católica de Santos, e pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela USP. Atuou como repórter em vários veículos de comunicação. Lançou, aos 17 anos, o livro independente de poemas "Fuga", que teve duas tiragens esgotadas.
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