domingo, 18 de setembro de 2016

.: A existência de Deus comprovada por um filósofo ateu

Professor e filósofo francês Dany-Robert Dufour articula diversos campos do conhecimento, como antropologia, história, filosofia política e psicanálise, para analisar a propensão humana a crer em Deus.

Para os que pensaram que o filósofo Dany-Robert Dufour era um ateu que se converteu à crença divina, ele explica logo nas primeiras páginas do livro que até hoje não sentiu nenhum sinal prenunciador de uma conversão. Sua intenção com “A Existência de Deus Comprovada por Um Filósofo Ateu” é trazer para o campo da discussão filosófica a forma e o lugar da presença do divino na modernidade e na pós-modernidade.

Ao tratar dos muitos nomes, vidas e mortes de Deus ao longo dos tempos, Dufour defende que a existência Dele na cabeça dos homens é uma necessidade de estrutura. O filósofo baseia sua argumentação na neotenia humana, tese neodarwiniana que vê o homem como um ser inacabado. Por essa lógica, Dufour afirma que as instituições que constituem a cultura suprem uma carência nativa e levam à necessidade de invenção de um par sobrenatural.

O autor discorre também sobre um novo sujeito filosófico que se define por formas antes reservadas a Deus e analisa como o aniquilamento da figura divina gera consequências políticas, sociais e clínicas para a humanidade. Ele questiona se, eliminada a existência do “outro sobrenatural”, o homem não estaria condenado ao radicalismo, à depressão diante de um mundo menos simbólico, à tentação de se recriar com o apoio das tecnociências ou até mesmo à sua própria extinção: “Não se trata mais, para nós, de fixar a história das diferentes tribos antes que elas desapareçam para sempre. Hoje, é a história da estranha tribo humana em seu conjunto que devemos relatar, antes que seja tarde demais”, declara.  “A Existência de Deus Comprovada por Um Filósofo Ateu”  chega às livrarias neste mês de setembro pela Civilização Brasileira.

Sobre o autor 
Dany-Robert Dufour é filósofo e professor aposentado da Université Paris VIII e ex-diretor de pesquisa do Collège International de Philosophie. Ministra com regularidade aulas no exterior, especialmente no Brasil, na Colômbia e no México. Pela Civilização Brasileira, publicou também “A Cidade Perversa: Liberalismo e Pornografia”.

Trecho:

“Espero que a construção desse personagem conceitual novo, o neotênio, e seu lançamento no palco do teatro da filosofia ocidental tenham permitido contar toda a História, do início ao fim, de outra maneira. E com efeito terá bastado empurrar o pequeno neotênio para esse palco para que tudo mude: a relação com o Ser, a relação com a linguagem, a relação com a religião, a relação com o Outro, a relação com os outros, a relação consigo mesmo... É evidente que, com ele, nada mais pode ser escrito como antes. As defasagens significativas que ele provoca em todos os terrenos decorrem da introdução no pensamento filosófico de um dado antropológico que nunca havia sido sistematicamente integrado. Um dado neodarwiniano que nos obriga a retomar toda a história de outra maneira para reescrevê-la, não do ponto de vista de um rei da criação que nunca existiu, mas do ponto de vista de um ser excluído da primeira natureza que foi obrigado a suprir sua carência com a invenção de uma segunda natureza.Acontece que esse ser débil teve êxito além de toda medida. Excluído do mundo, ele hoje domina a Terra inteira. De tal maneira que se encontra, atualmente, no limiar de uma nova América. Deveria então, num violento ato de renegação, recriar-se pela autoatribuição de uma nova primeira natureza, ou seria o caso de se apaixonar por esse fundamento indeterminado que o tornou infinitamente disponível a todas as aberturas?”

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