Em setembro de 2016
CONTÉM SPOILERS
"Catfish Brasil" segue o formato de sua matriz norte-americana, mas sem o carisma dos apresentadores Nev Schulman e Max Joseph. Inclusive acredito que participei involuntariamente da ideia de a "MTV" fazer uma versão "brazuca", quando Max, casado com uma brasileira nascida em Santos, no litoral de São Paulo, veio para o "Cine Roxy", tradicional cinema da cidade com mais de 80 anos, lançar o filme "Música, Amigos e Festa" - crítica neste link.
No dia, enquanto respondia perguntas em seu português quase fluente - mais sobre o "Catfish" do que pela estreia como diretor do filme protagonizado por Zac Efron - Max gravou um vídeo em que nós, os brasileiros santistas, pedíamos para Nev vir ao Brasil gravar alguns episódios do programa. Penso que a ideia de fazer uma versão brasileira pode ter surgido daí.
Assistindo, na noite desta quarta-feira, 14 de setembro, o terceiro programa constatei alguns pontos. Pensei que o que me incomodava nos dois primeiros episódios seria uma espécie de falta de familiaridade dos apresentadores, Ciro Sales e Ricardo A. Gadelha. O tom é de um peso desnecessário às histórias que os apresentadores norte-americanos não dão.
Enquanto os apresentadores do original tentam dar um ar de leveza, os brasileiros dão ênfase demais a detalhes que passariam despercebidos, deixando um nítido sensacionalismo proposital que ajuda a contar a história, mas torna tudo exaustivamente forçado. Parece um episódio aleatório de "Brothers & Sisters", aquele protagonizado por Sally Field no início dos anos 2000, em que o "chororô" corre solto, ou aquelas entrevistas nada sutis da Xuxa nas tardes de sábado da Globo, em que ela tentava a todo o custo arrancar lágrimas de algum entrevistado.
Nem a conversa dos apresentadores soa real diante das câmeras. A pronúncia de "Catfish" por Ciro - algo em torno de "Két feeeesh", que ele sempre enche a boca para falar (e sempre me lembra alguém falando "arrasa beeeeeeesha") - ou no segundo episódio, quando chamou uma Jéssica de "Djéssica" torna tudo um pouco mais engraçado, mas dá um ranço menos palatável ao programa e dificulta a aceitação dos apresentadores.
Enquanto Nev, que passou pela situação de ser enganado por uma pretendente na internet parece se envolver e se emocionar de verdade com cada caso, Ciro parece se sentir infinitamente superior às pessoas que ele "tenta" ajudar. A entonação do rapaz, para lá de empostada, dá a impressão de que ele sempre está tentando ser um sedutor, e soa arrogante. Há alguns detalhes que simplesmente não encaixam, como a academia que dá detalhes de uma cliente - quem se matricularia lá? - ou a invasão de um salão de beleza em que a proprietária nem sequer fica assustada, só para citar o segundo episódio.
Mas, desta vez, no terceiro caso transmitido pela "MTV Brasil", o telespectador fica diante de algo um pouco mais leve. É sobre Leonardo, um poeta mineiro de 20 anos que pensava viver um relacionamento virtual com uma moça chamada Mariana que, na verdade, era uma "digital-influencer" cheia de seguidores no Instagram (a ver quem ele almejava como relacionamento, podemos dizer que o rapaz não é nada bobo). Ingênuo, Leonardo nunca desconfiou que a moça das fotos, que ganhou o status de "musa inspiradora", não era a mesma com quem ele conversava.
Leonardo criou um no perfil no Instagram para postar poemas curtos escritos por ele em homenagem à essa jovem. No final, quem estava por trás do perfil fake uma amiga que disse que, sem demonstrar algum ciúme mas devendo ter uma pontada, acusava o amigo de se abrir mais com a personagem criada do que com ela mesma. Pela reação do rapaz, óbvio que ficou feliz por ser a mocinha que contou a verdade e, se ela desse "uma bolinha", ele não teria dúvidas em começar um relacionamento.
Sobre a jovem escondida atrás do perfil, uma espécie de perereca que aos olhos do público se torna uma princesa ao ser descoberta, cá entre nós... Ninguém mantém uma farsa de seis anos se não estiver minimamente interessado na outra pessoa. Afinal, é muita humanidade manter a conta telefônica só para criar e ter um número de WhatssApp desconhecido (apesar que tem gente que se dispõe a tudo)...
Além disso, ouvir em duplicidade o mesmo blá-blá-blá de um rapaz aparentemente cheio de dúvidas existenciais, mesmo se você tiver a mesma idade... Convenhamos, é um saco, até se você estiver um pouquinho a fim. Não há amizade, nem muito menos boa vontade, que resistam... não é possível! Mas estas histórias mal-contadas, salvas por uma boa edição, é que fazem do "Catfish Brasil" o que tem para hoje. O programa é legal, mas prefira a versão norte-americana que, em todos os sentidos, soa mais original.
Sobre o autor
Helder Miranda é editor do Resenhando.com há 12 anos. É formado em Comunicação Social - Jornalismo e licenciado em Letras pela UniSantos-Universidade Católica de Santos, e pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela USP. Atuou como repórter em vários veículos de comunicação. Lançou, aos 17 anos, o livro independente de poemas "Fuga", que teve duas tiragens esgotadas.
Quando o Max veio divulgar o filme dele aqui no Brasil, a MTV BR já estava em pré produção da versão BR tinha quase 1 ano já. Gostei da sua resenha.
ResponderExcluir