quarta-feira, 21 de setembro de 2016

.: "Supermax", o reality show metafórico que faz paródia da Globo

Por Helder Miranda
Em setembro de 2016

CONTÉM SPOILERS

"Quem não tem pecado, que atire a primeira pedra". Essa máxima bíblica resume a premissa de "Supermax", um reality show fictício em que brilham as veteranas conhecidíssimas do público Cléo Pires, a Sabrina, uma mulher aparentemente "durona", e Mariana Ximenes, uma enfermeira que possivelmente praticou em alguém a eutanásia, proibida no Brasil - colocadas na produção porque qualquer atração de TV precisa de grandes nomes. 


Entre vários rostos de atores desconhecidos ou praticamente anônimos do grande público, está Erom Cordeiro, cujo papel mais marcante é o de Zeca da novela das 21h "América" (para quem não se lembra, o rapaz que protagonizaria com o Júnior de Bruno Gagliasso o primeiro beijo gay da TV brasileira) que é um ex-policial que assassinou alguém e, dentro do confinamento, dá de cara com um traficante, ou um viciado, não fica claro. 


A cena da caixa balançando vista do lado de fora pela ótica dos participantes, que como o público não sabem o que está acontecendo lá dentro, apenas supondo que os dois estão se agredindo em uma caixa que é uma espécie de sauna, é a mais forte de todo o episódio. 

Não se sabe quem venceu a briga, mas um dois dois sai enquanto o outro fica desacordado. A última mulher a abandonar a "sauna" avisou: "Eles vão se matar lá dentro". Ali fica claro que não é uma luta de sobrevivência, mas de classes entre o bem e o mal, ou o bem e o bem, ou o mau e o mau, não importa - existem dois lados, talvez até de uma mesma moeda. 


O seriado trata de 12 pessoas isoladas e um presídio de segurança máxima, algumas regras, como a que os participantes têm de voltar à cela em cinco minutos, caso contrário serão desclassificados. Alguém duvida de que, no meio de algum episódio, terá alguma celeuma, ou sabotagem, e  alguém precisará deixar o confinamento? 

Pedro Bial, sendo ele mesmo, anunciou que todos terão os crimes revelados e contarão, ou não, com o perdão da audiência. O primeiro a ser mostrado foi na sorte, quando a da ex-garota de programa Diana Almeida Miranda pegou o palitinho menor. Em uma espécie de flashback, é divulgado que ela matou o marido abusivo, com direito a reconstituição e tudo. Foi o último "reality" de Pedro Bial, como anunciou o diretor. E é verdade. 


Temos um reality show que bebe muitíssimo da água de "Lost" e temos Cléo Pires, muito boa como a "Kate" (Evangeline Lilly) brasileira, e Mariana Ximenes, ambas nos papéis de suas vidas. Para quem está com saudade do "Big Brother", esse é um prato cheio para se deleitar. Há todos os ingredientes dessa fórmula, como participantes exalando sexo por todos os poros, atores pagando bundonas, intrigas, paqueras e até participantes com profissões inusitadas, como um ex-padre criminoso. 

Para quem rejeita esse tipo de programa, pode ser que não queira assistir ou que goste dessa metáfora em que absurdos são propostos a participantes que se prestam a fazer tudo sem questionamento porque têm alguma satisfação a dar à sociedade. "Supermax" é a Globo parodiando a si mesma com um olhar crítico, ou distanciado, e tirando-se do patamar em que se colocou.

Isso é ótimo, mas é um teste da própria emissora querendo audiência e, ao que tudo indica, passar a exportar cada vez mais. A abertura, à lá "True Blood" comprova que, apesar de inovadora para os parâmetros brasileiros, é, também, uma cópia bem formulada do formato americano, até o trailer do próximo episódio foi divulgado logo após o término do primeiro capítulo. Não deixa de ser muito melhor do que tudo o que está sendo exibido na TV nacional e merece uma chance.

Sobre o autor
Helder Miranda é editor do Resenhando.com há 12 anos. É formado em Comunicação Social - Jornalismo e licenciado em Letras pela UniSantos-Universidade Católica de Santos, e pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela USP. Atuou como repórter em vários veículos de comunicação. Lançou, aos 17 anos, o livro independente de poemas "Fuga", que teve duas tiragens esgotadas.

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