Por Helder Miranda
Em setembro de 2016
CONTÉM SPOILERS
Há em “Catfish” uma espécie de estereótipo machista em que "princesinhas" elegem verdadeiros "sapos" como "príncipes" mesmo sem saber quem eles são por trás da tela de um aparato tecnológico. Essas vítimas sempre são tão indefesas que precisam recorrer a "heróis", no caso os apresentadores, para resolverem por ela uma história mal-resolvida.
Quando a vítima é um homem, ele é "pego" porque se encantou com a figura feminina das fotos que lhe foram apresentadas e sempre tem o "poder" de escolher se ficam ou não com as farsantes. Se eles quiserem, a história pode ter um final feliz. Mas parece que as mulheres nunca têm esse poder de escolha na versão brasileira porque sempre são descartadas pelos tipos mais errados do mundo, em que só a mais baixa autoestima daria uma chance.
Em dois dos programas exibidos há casos em que as moças foram bem enganadas e, mesmo assim, tendem a aceitar os rapazes – completamente diferentes do que se apresentaram nas fotografias. Num desses episódios, e não vou dizer em qual, o rapaz tem traços bem evidentes de psicopatia - isso se não for um ator contratado para fazer aquele papelão.
O programa também demonstra um reflexo de nossos tempos: o sentimento por alguém virtual e que nunca existe, como podem comprovar todos os quatro casos exibidos até agora nesta versão brasileira. O elenco desse programa é formado por gente tão carente - ou desesperada por afeto - que se deixa iludir por uma série de enganações e que passam por cima disso para se sentirem amados.
No quarto episódio, conhecemos Milena, uma moça de Aimoré, em Minas Gerais, que troca mensagens há quatro anos com um rapaz que lhe mente o tempo todo. QUATRO. ANOS. E, mesmo assim, ela o aceita quando descobre quem ele é... e se despende para Fortaleza, no Ceará, para conhecê-lo e, mesmo que tente disfarçar, fazer planos para os dois.
O rapaz, que se apresentou como Higor - com H mesmo - chegou a fugir quando os apresentadores do programa falaram do que se tratava, para depois olhar a “vítima da vez” com olhar apaixonado quando tudo estava esclarecido: história da carochinha, quem ainda acredita em "Papai Noel" para dar crédito a esse cara? Talvez a própria Milena, que tinha a mão segurada por ele, que a olhava nos olhos sem demonstrar que era tudo encenação. Eu falo em "que acredita nesse cara" mas cheguei a pensar que ele estava sendo verdadeiro.
Mas ele era apenas um enganador compulsivo e possivelmente só tentou mostrar que os sentimentos eram verdadeiros porque estava diante das câmeras. Os motivos de ele não ter levado a relação adiante, sendo que a moça queria - isso estava na cara e nas atitudes dela - são várias. Ele pode não ter considerado ela tão bonita quanto na tela de um telefone celular ou, simplesmente, é daqueles que brinca com os sentimentos dos outros, coleciona aventuras e consegue dormir tranquilamente depois de iludir alguém que, cedo ou tarde, irá sofrer. Milena, ainda uma adolescente, é presa fácil porque é jovem e tem pouco repertório para o aprendiz de cafajeste profissional mostrado diante das câmeras.
No mais, os apresentadores de sempre, com atitudes calculadas e pouco naturais. O que foi aquela batidinha da mão quando encontram uma pista? Há falta de sincronia e espontaneidade entre eles, mas, principalmente, falta algo que nos faça acreditar que eles estão ali porque se importam - o que passa, sempre, e em todos esses quatro programas, é um ar de superioridade de quem se coloca acima dos outros participantes. Parece que quem se inscreve no programa é só uma escada para que eles apareçam.
E sobre a facilidade com que eles investigam as coisas, eu gostaria de encontrar estabelecimentos que levantam a ficha de alguém tão rapidamente, e por telefone, como fazem para o programa. Quanta eficiência! E se eu, aluno da faculdade que informou meus dados, ou da academia de um programa anterior, não quisesse que minhas informações fossem divulgadas - ainda mais na televisão? Cá entre nós... você acredita nisso?
O programa vai ao ar toda quarta-feira, 21 de setembro, às 22h.
Quando a vítima é um homem, ele é "pego" porque se encantou com a figura feminina das fotos que lhe foram apresentadas e sempre tem o "poder" de escolher se ficam ou não com as farsantes. Se eles quiserem, a história pode ter um final feliz. Mas parece que as mulheres nunca têm esse poder de escolha na versão brasileira porque sempre são descartadas pelos tipos mais errados do mundo, em que só a mais baixa autoestima daria uma chance.
Em dois dos programas exibidos há casos em que as moças foram bem enganadas e, mesmo assim, tendem a aceitar os rapazes – completamente diferentes do que se apresentaram nas fotografias. Num desses episódios, e não vou dizer em qual, o rapaz tem traços bem evidentes de psicopatia - isso se não for um ator contratado para fazer aquele papelão.
O programa também demonstra um reflexo de nossos tempos: o sentimento por alguém virtual e que nunca existe, como podem comprovar todos os quatro casos exibidos até agora nesta versão brasileira. O elenco desse programa é formado por gente tão carente - ou desesperada por afeto - que se deixa iludir por uma série de enganações e que passam por cima disso para se sentirem amados.
No quarto episódio, conhecemos Milena, uma moça de Aimoré, em Minas Gerais, que troca mensagens há quatro anos com um rapaz que lhe mente o tempo todo. QUATRO. ANOS. E, mesmo assim, ela o aceita quando descobre quem ele é... e se despende para Fortaleza, no Ceará, para conhecê-lo e, mesmo que tente disfarçar, fazer planos para os dois.
O rapaz, que se apresentou como Higor - com H mesmo - chegou a fugir quando os apresentadores do programa falaram do que se tratava, para depois olhar a “vítima da vez” com olhar apaixonado quando tudo estava esclarecido: história da carochinha, quem ainda acredita em "Papai Noel" para dar crédito a esse cara? Talvez a própria Milena, que tinha a mão segurada por ele, que a olhava nos olhos sem demonstrar que era tudo encenação. Eu falo em "que acredita nesse cara" mas cheguei a pensar que ele estava sendo verdadeiro.
Mas ele era apenas um enganador compulsivo e possivelmente só tentou mostrar que os sentimentos eram verdadeiros porque estava diante das câmeras. Os motivos de ele não ter levado a relação adiante, sendo que a moça queria - isso estava na cara e nas atitudes dela - são várias. Ele pode não ter considerado ela tão bonita quanto na tela de um telefone celular ou, simplesmente, é daqueles que brinca com os sentimentos dos outros, coleciona aventuras e consegue dormir tranquilamente depois de iludir alguém que, cedo ou tarde, irá sofrer. Milena, ainda uma adolescente, é presa fácil porque é jovem e tem pouco repertório para o aprendiz de cafajeste profissional mostrado diante das câmeras.
No mais, os apresentadores de sempre, com atitudes calculadas e pouco naturais. O que foi aquela batidinha da mão quando encontram uma pista? Há falta de sincronia e espontaneidade entre eles, mas, principalmente, falta algo que nos faça acreditar que eles estão ali porque se importam - o que passa, sempre, e em todos esses quatro programas, é um ar de superioridade de quem se coloca acima dos outros participantes. Parece que quem se inscreve no programa é só uma escada para que eles apareçam.
E sobre a facilidade com que eles investigam as coisas, eu gostaria de encontrar estabelecimentos que levantam a ficha de alguém tão rapidamente, e por telefone, como fazem para o programa. Quanta eficiência! E se eu, aluno da faculdade que informou meus dados, ou da academia de um programa anterior, não quisesse que minhas informações fossem divulgadas - ainda mais na televisão? Cá entre nós... você acredita nisso?
O programa vai ao ar toda quarta-feira, 21 de setembro, às 22h.
Sobre o autor
Helder Miranda é editor do Resenhando.com há 12 anos. É formado em Comunicação Social - Jornalismo e licenciado em Letras pela UniSantos-Universidade Católica de Santos, e pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela USP. Atuou como repórter em vários veículos de comunicação. Lançou, aos 17 anos, o livro independente de poemas "Fuga", que teve duas tiragens esgotadas.
Helder Miranda é editor do Resenhando.com há 12 anos. É formado em Comunicação Social - Jornalismo e licenciado em Letras pela UniSantos-Universidade Católica de Santos, e pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela USP. Atuou como repórter em vários veículos de comunicação. Lançou, aos 17 anos, o livro independente de poemas "Fuga", que teve duas tiragens esgotadas.
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