*Vinicius Maximiliano
Em agosto de 2016
Não é de hoje que as dúvidas e incertezas fazem parte do cenário das pessoas que pretendem adotar o financiamento coletivo como instrumento de financiamento de suas ideias e projetos, ou mesmo a pré-venda de produtos ou serviços. Até aí, nenhuma novidade e, em partes, essa é uma das essencialidades do sistema em todo o mundo.
Contudo, jamais deve-se subestimar a capacidade que os usuários (doadores) têm de discernir entre uma oportunidade, de um oportunismo de marketing. Explico.
Longe de mim criticar a ideia do "Zebeleo"… aliás, achei até que era boa, enquanto não tinha assistido os vídeos nem visto a campanha! Afinal, analisando friamente, três pessoas com altíssima exposição na mídia, jovens, talentosos e com uma ideia diferente para criar experiências aos usuários, certamente iriam explodir em mais uma arrecadação recorde durante a campanha. Só que não!
Em um mercado que ainda está engatinhando quanto a entender o que é financiamento coletivo, sem regulamentações legais, onde uma parcela pequena da população se arrisca a financiar algum projeto para "ver como é", soou muito mal oferecer recompensas "basiquinhas" e ofertas de experiências internacionais a preços fora do mercado.
Em mercados mais novos como o crowdfunding, não há pessoas ingênuas, pelo contrário! Geralmente os adeptos a novas tendências são pessoas viajadas, estudadas, com alguma grana extra e com várias opções de experiências e recompensas… iguais aos 3 que se propuseram a lançar a campanha. Eles não pensaram que, esse público, talvez não gastaria dinheiro daquela forma. E não estou nem falando do preço do hambúrguer…
Acredito que coisas desse tipo servem para duas lições: primeiro, não há gente tão tola no mercado disposto a ficar jogando dinheiro pela janela por nada; ou o idealizador do projeto oferece algo que realmente agrega valor ao doador, ou esqueça, nada de mão no bolso nem grana na mesa!
Segundo, isso mostra que o mercado de financiamento coletivo está amadurecendo, o que é muito positivo! As pessoas não estão participando dele apenas porque é um modismo, mas sim porque elas pretendem causar algum impacto ou viabilizar alguma super ideia… e não apenas custear os sonhos de quem não quis, pessoalmente colocar o próprio dinheiro para correr riscos.
Marcos Lemonis, do programa americano "O Sócio" costuma dizer o seguinte: "posso investir 1 milhão de dólares em um negócio, desde que o dinheiro do dono que me ofereceu a ideia igualmente esteja correndo o mesmo risco! Risco compartilhado significa ganhos compartilhados!".
Acredito que para os três idealizadores, ficou a dica: a simples exposição de mídia e marketing sobre os nomes deles, não seria suficiente para encobrir uma grande sacada… mas que na verdade só tinha uma finalidade: levantar dinheiro a custo zero de incautos doadores apaixonados por eles!
Mesmo que se tente, agora, depois que a campanha foi cancelada, dizer que era apenas pré-venda e tals, o estrago já foi feito! E olha que eu mandei um livro meu de presente para a Bel uma vez… e eu acho que ela não leu! Eles podem até não gostar da "pecha", mas os três simbolizam a classe média rica do país, ou seja, tinham grana suficiente para fazer crescer um bolo e dividir… não apenas ganhar.
Sobre Vinicius Maximiliano Carneiro
O autor é advogado e escritor. Com MBA em Direito Empresarial pela FGV, é especialista em Direito Eletrônico pela PUC/MG, atuou como advogado de Propriedade Intelectual no Brasil para a Motion Picture Association (MPA), Associação de Defesa da Propriedade Intelectual (ADEPI) e também para a União Brasileira de Vídeo (UBV). Foi gestor de projetos especiais na Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES) - e da Business Software Alliance (BSA). Também ocupou lugar na Comissão de Mercado de Capitais e Governança Corporativa da OAB/SP. Focado no mercado de financiamento coletivo nacional, apaixonado por Internet, novos mercados e Economia Digital, agora Vinicius se lança no mercado editorial com a obra “Dinheiro na Multidão – Oportunidades X Burocracia no Crowdfunding Nacional. O livro, on line, está disponível no site http://viniciusmaximiliano.adv.br/.
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