Em "Poder & Manipulação", uma síntese de "O Príncipe", de Maquiavel, Jacob Petry analisa a obsessão humana pelo poder e como nos valemos da manipulação para conquistá-lo.
“O leão tem força, mas lhe falta esperteza. Seu poder assusta a todos, mas ele não consegue defender-se das armadilhas. A raposa é esperta, mas não tem força. Ela tem facilidade de livrar-se das armadilhas, mas não consegue defender-se dos lobos. Dessa forma, é preciso ter a natureza da raposa para descobrir e defender-se das armadilhas e a do leão, para amedrontar e defender-se dos lobos”.
Essa é uma das muitas lições analisadas pelo filósofo e pesquisador gaúcho Jacob Petry em seu novo livro “Poder & Manipulação - Como Entender o Mundo em 20 lições Extraídas de 'O Príncipe', de Maquiavel” (Faro Editorial). Em capítulos curtos, o livro segue os passos da obra-prima do filósofo italiano para explorar a obsessão humana pela busca de poder e mostra como a manipulação se torna a principal arma nessa busca.
"Para qualquer pessoa, a sensação de não ter poder é insuportável e geralmente resulta em rebeldia contra as forças que anulam esse poder. Essa rebeldia pode ser contra si mesmo, o outro, uma instituição ou mesmo contra uma circunstância", observa o pesquisador. "Isso ocorre tanto no governo que suprime a vontade do povo, na empresa que aniquila a liberdade de seus funcionários, nos pais que tentam controlar ou proteger demais os filhos, quanto no marido inseguro que anula a autonomia da esposa para mantê-la sob seu domínio".
Ao contrário de muitos estudiosos de Maquiavel, Pétry não se atém muito a teoria política ou ao contexto histórico da obra do filósofo. Seu objeto de estudo é outro: os elementos da natureza humana capturados pelo florentino em sua obra-prima.
"Por séculos a humanidade condenou Maquiavel pelo que ele escreveu em 'O Príncipe', isso foi um equívoco. Afinal, ele não criou as táticas e estratégias que hoje conhecemos por maquiavelismo, ele simplesmente as detectou no comportamento humano e as relatou com extrema precisão. Mas elas não nasceram em Maquiavel, elas fazem parte da nossa natureza humana, e estão presentes tanto nos textos bíblicos como nos jornais e revistas dos dias atuais", argumenta o autor.
Por que o Brasil é o país da corrupção?
Petry encontra a origem da manipulação e da própria corrupção na necessidade humana de obter poder sobre aqueles que estão ao nosso redor.
"Maquiavel considera que, em geral, as pessoas são ingratas, volúveis, dissimuladas, insolentes e querem tirar vantagem em tudo por causa de suas ambições, e que a única coisa que pode detê-las é o temor do castigo, que vem da força física ou do rigor da lei. Isso era verdade nos tempos de Maquiavel e continua sendo verdade nos tempos atuais", afirma o autor.
Para Pétry, esses dois fatores - nossa necessidade natural de tirar vantagem de tudo e a falta de temor do castigo em virtude da impunidade -, são a principal causa da corrupção e da manipulação que se revela diariamente nos mais altos escalões do poder no Brasil.
"De um lado, temos essa obsessão natural pela busca do poder e, de outra, a liberdade de manipular os meios que nos levam a realização dessa obsessão. No Brasil, a corrupção é exagerada não porque somos um povo corrupto, mas pela falta de uma legislação dura e pela ausência da força necessária para fazer cumprir essa legislação, o que elimina o medo da punição pelos atos corruptos que se comete".
O autor, que é radicado nos Estados Unidos, onde vive há mais de uma década, afirma que não vê diferença no nível de ambição entre americanos e brasileiros, por exemplo. O que distingue os dois povos, ele diz, são as regras e punições estabelecidas pelas convenções sociais, muito mais sérias lá, do que aqui, o que reprime os americanos onde os brasileiros avançam sem cautela.
"O desejo de corromper e manipular é universal, porque ele é uma consequência da natureza humana, o que faz com que uma pessoa dê mais liberdade a essa natureza do que outra é a sua consciência de impunidade".
Sobre o autor:
Jacob Petry é jornalista, filósofo e pesquisador brasileiro radicado nos Estados Unidos. Profundo apaixonado pela natureza do comportamento humano, estuda psicologia da cognição aplicando-a a resultados práticos da vida há mais de vinte anos. É autor de inúmeros livros de destaque, dentre eles: "O Óbvio que Ignoramos", "A Lei do Sucesso", "Singular" e "Grandes Erros", estes, escritos em co-autoria.
quarta-feira, 29 de junho de 2016
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