segunda-feira, 20 de junho de 2016

.: Biel e a ignorância que entende o feminismo como "coisa de mulher"

Por Helder Bentes*
Em junho de 2016

Quando fiquei sabendo do que esta sociedade controladora fez com o cantor Biel, condenando-o como "machista que assedia mulheres", fiquei refletindo sobre essa ignorância generalizada que entende o feminismo como "coisa de mulher" e o machismo como seu oposto. 

Cara, será que essas criaturas metidas a "moderninhas", como a repórter do IG que se vitimou pelo "machismo" do Biel, e o imbecil do Felipe Neto, que reproduz como originais as opiniões do senso comum, não veem que suas atitudes são um tiro no pé do feminismo? Ser feminista não é sair por aí criminalizando os homens que desejarem as mulheres, quando você achar que o cara não soube chegar na menina. 

Sentir-se constrangido só deixa de ser algo exclusivamente subjetivo quando o constrangimento acontece em circunstâncias objetivas que neutralizam tuas reações. 

Uma feminista de verdade poderia reagir de várias maneiras: "Olha aqui, garoto, você está tomando uma liberdade que não convém. Estou aqui a trabalho. O que estou te perguntando não é o que me interessa pessoalmente. É o que está na pauta. E você está confundindo as coisas". Ou então chamaria a assessoria de comunicação ou o empresário do cantor e diria: "Por favor, ensine seu cliente a se comportar numa entrevista". Ou ainda poderia levantar-se e ir embora, mandando-o se foder.

Precisamos ficar espertos, porque o preconceito - TODO "pré-conceito" - é histórica e culturalmente determinado. Isso faz com que as pessoas nem se toquem de que estejam sendo preconceituosas. 

Já imaginou se cada vez que eu ouvir uma piadinha de gay eu for procurar uma delegacia? Tenho consciência de que preconceito é uma coisa que a gente mesmo desconstrói, em nossas interações com o racista, o machista, o homofóbico, o fundamentalista, etc.. As leis são importantes aliadas na mudança da mentalidade social, propiciam o debate e trazem os preconceitos ao plano consciente. Mas minha experiência social como cidadão homossexual tem revelado que contrariar as expectativas preconceituosas dos outros, desde que isso não se torne uma neura também, é mais eficaz e pedagógico no combate ao preconceito. 

Até porque as maiores ocorrências de segregação ocorrem de maneira velada. Já é consenso que ser preconceituoso está fora de moda. Todo mundo que quer parecer moderninho afirma no social que não tem preconceito. Ele se esconde em atitudes como a de classificar como assédio o interesse de um homem por uma mulher e reduzir as mulheres a uma categoria de "coitadas incapazes de fazer escolhas". Isso sim é machismo, coitadismo, mau-caratismo, oportunismo, provincianismo, falso modernismo, pedantismo, revanchismo, tudo... Menos feminismo.

Esse tipo de confusão reproduz a psicologia do controle, que é a célula-mãe de todo preconceito, inclusive do machismo: Idealizar a conduta alheia com base num padrão "certo", recompensar ou punir o outro conforme ele se ajuste ou não ao padrão "certo", e aí se cria outro "pré-conceito", no caso, contra o homem que "não sabe" chegar numa mulher, contra a mulher que "não sabe" reagir às cantadas de um homem, e toma-lhe rótulo: machista, estuprador, assédio, pedófilo, tarado, burra, besta, pateta, mal comida, despeitada, invejosa, babaca e blábláblá... 

Cara, na boa, o feminismo não acontece pra destruir a natureza das relações sociais. Mas para libertar a mapozada (quer dizer, a mulherada) de um jugo opressor, como, por exemplo, de permanecer casada com um "fdp" abusado, por não poder se sustentar sozinha, por medo de perder seus filhos, de sofrer outros tipos de abusos ou de morrer. Não vamos banalizar o movimento que é muito mais sério!

Sobre o autor
Helder Bentes* é escritor, professor e jornalista. Formado em Letras e Comunicação Social na  UFPA - Universidade Federal do Pará. Sua escrita clama pela igualidade de direitos e pela inclusão das minorias. É um militante das causas que acredita mas, acima de tudo, da vida e dos temas que falam ao coração.

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