sábado, 9 de abril de 2016

.: Entrevista com André Leahun, que retorna com "Amor Por Anexins"

"Foi fácil a minha trajetória? Lógico que não! Nunca é para ninguém", André Leahun. 

Em abril de 2016

O ator André Leahun está no elenco de "Amor Por Anexins", que retorna a partir deste sábado após 25 anos de estreia, em temporada que pode ser assistida gratuitamente  até 30 de abril, aos sábados, às 18h, no Casarão Santa Cruz, em Santos. 

Ele iniciou a carreira artística em 1985 e é um polivalente: ator, iluminador, diretor e arte-educador. Realizou diversos trabalhos com a assinatura consagrada dos mais diversos diretores, como Neyde Veneziano, Dagoberto Feliz, Roberto Marchese, Antonio do Valle, Francisco (Pancho) Garcia, Marco Antonio Rodrigues, entre outros. 

Como ator, esteve nos espetáculos "A Maldição do Vale Negro", "Bataclã" (co-produção com a Cia. Hubert de Blanck de Havana-Cuba), "O Céu do Mandacaru", "A Revolta dos Perus", entre outros. Também foi professor de interpretação e montagem na Escola de Artes Cênicas da Secretaria de Cultura de Santos, entre 1999 a 2009, e no Senac Santos, em 2014. 

Dirigiu diversas peças teatrais, como "Bailei Na Curva", "Bodas de Sangue", "A Revolta dos Perus", "Projeto Carne de Segunda", "O Fantástico Mistério de Feiurinha", "O Que Terá Acontecido a Rosemary", "Dama da Noite", espetáculo indicado ao premio "Aplauso Brasil" nas categorias "Diretor", "Ator" e "Figurino", e selecionado para participar do "Festival MIX Brasil" (edições São Paulo, Rio de Janeiro e Acre) no ano de 2012, e indicado como "Melhor Espetáculo" no "Prêmio Papo Mix da Diversidade", no mesmo ano.

Artisticamente, foi diretor de eventos específicos junto a Secretaria de Cultura de Santos, como: performances, autos e concertos de Natal, "Carnabonde", entre os anos de anos de 2004 a 2015.  Como produtor cultural, realizou trabalhos no "Festival Santista de Teatro", "Curta Santos – Festival de Cinema de Santos" e "Sansex – Mostra da Diversidade". Possui 45 prêmios como ator, diretor, iluminador e cenógrafo em festivais municipais, estaduais e nacionais.

Agora ele retorna aos palcos com o grande sucesso na década de 90, "Amor Por Anexins", montado pela Confraria Produções Artísticas, contracenando com as atrizes Angélica Magenta, Camila Baraldi e Pri Calazans. É a primeira peça teatral escrita por Artur Azevedo no século XIX, e promove uma reflexão bem humorada sobre amor, dinheiro e casamento por conveniência.

RESENHANDO - 25 anos de "Amor por Anexins". O que mudou da primeira até a atual montagem?
ANDRÉ LEAHUN - Tirando o fato de não ter que usar tanta maquiagem quanto na época da primeira estreia (risos)? Na montagem atual, nós nos sentimos mais maduros, tanto artisticamente quanto como seres humanos. O que nos fez vislumbrar dentro do texto certas sutilezas que passavam despercebidas. Na atual montagem, muita coisa mudou: cenários, figurinos e a inclusão de canções compostas por mim para o espetáculo, sob a supervisão de Rosy Padron. Também incorporamos a montagem a figura do pianista-sonoplasta-diretor de cena que passa o tempo inteiro da apresentação interagindo conosco, além de realizar a técnica do espetáculo.

RESENHANDO - E as mudanças em relação a você e o Brasil atual?
A.L. - Na época em que o montamos pela primeira vez, sob a direção de Egbert Mesquita, estávamos no governo Fernando Collor. A Lei de Incentivo à Cultura - Lei Rouanet, era muito recente. Os "fazedores de arte" e mais especificamente os "de teatro" eram quase artesãos. O aspecto cultural da cidade era outro. Os locais para apresentação eram escassos, restando apenas os teatros municipais. Na época, contávamos apenas com o Teatro de Arena Rosinha Mastrângelo e o Teatro Municipal Brás Cubas, que sempre tinham agendas lotadas. O que fez com que buscássemos outras frentes para a apresentação de nosso trabalho. A escolha mais óbvia foram as escolas. Apresentamos em inúmeros pátios e salas de aula adaptadas. Tanto de escolas públicas quanto de particulares. Lembro-me que fizemos uma temporada de um mês no Guarujá, apresentando nos três períodos em quase todas as escolas da cidade diariamente. Isso nos fez amadurecer, claro, por isso o espetáculo hoje em dia adapta-se a qualquer espaço, como foi o caso de nossas temporadas: na Pinacoteca Benedito Calixto, em 2013, e no Espaço Teatro Aberto, em 2014.

RESENHANDO -Como você justificaria a escolha de uma peça escrita por um autor de 15 anos do século XIX? 
A.L. - Ela é atual. "Amor por Anexins" é um clássico, e os clássicos se prestam a isso: serão sempre atuais. Pois trata da alma humana e suas inquietudes. O fato de ter sido escrito pelo jovem Artur Azevedo aos 15 anos de idade demonstra a sua sagacidade , tanto literária, pois o texto possui recursos linguísticos muito difíceis, como de observação da sociedade de sua época. Se o analisarmos a fundo sem o verniz do "teatro ligeiro", que o texto possui em uma primeira e superficial leitura, temos uma parábola sobre o "jeitinho brasileiro" e a relação corrupto/corruptor, tão em voga nos dias de hoje.

RESENHANDO - A que se deve o sucesso da peça?
A.L. - Acredito que pela identificação do publico com o texto. A platéia se vê e ri de si mesma. O real sucesso de uma peça e sua perpetuação dá-se com o público, o principal motivo pelo qual estamos em cena

RESENHANDO - Como é atuar com Angélica Magenta, um nome bem conhecido do teatro santista?
A.L. - A partir da montagem de "Amor por Anexins", criamos uma relação fraternal. São muitos anos de convivência. Sou padrinho de casamento dela. Fazemos parte da família um do outro e, artisticamente, nós nos completamos. Na atual montagem, a Inês é interpretada às vezes pela atriz Camila Baraldi, que foi minha aluna quando eu ministrava aulas de teatro pela Secretaria de Cultura de Santos. Ela tem a mesma sagacidade e entrega cênica que Angelica Magenta possui.

RESENHANDO - O que o personagem que interpreta na peça tem de você?
A.L. - As características mais marcantes que o Isaías possui e que também tenho, acredito que sejam o deboche e o bom-humor. Ele leva tudo na brincadeira - não confundir com inconsequência, por favor. Para ele, tudo é motivo de riso: seja ele mesmo o alvo, ou a situação em que se encontra, ou o outro, no caso a personagem Inês.

RESENHANDO - Como o teatro entrou em sua vida, e por quê não saiu mais? 
A.L. - Pode parecer clichê, mas desde pequeno sempre tive a vontade de atuar. Sempre que podia, na escola, as coisas viravam uma encenação. Aos 15 anos, eu me inscrevi em um curso de teatro no Clube de Regatas Vasco da Gama, que possuía um grupo teatral na época: o TVG. Fiz o curso com feras do teatro santista como Paulo Maurício, Yara Nascimento e Dagoberto Costa. Deixar o teatro, para mim, está fora de possibilidade. Mesmo que transversalmente é por meio dele que me sustento e tenho conseguido sobreviver todos estes anos. Sou além de ator... diretor, iluminador, cenógrafo e produtor. Foi fácil a minha trajetória? Lógico que não! Nunca é para ninguém. Mas quando você se realiza naquilo que se gosta como profissão, como dizem por aí: "Você não precisa trabalhar o resto da vida!".

Serviço:
Peça Teatral "Amor Por Anexins"
Data: de 9 a 30 de abril - sábados- as 18h
Local: Casarão Santa Cruz - Espaço de Arte 
Endereço: rua Almeida de Morais, 45 (próximo ao Canal 3, em Santos, litoral de São Paulo)
Entrada gratuita


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