quinta-feira, 31 de março de 2016

.: Uma crítica impiedosa de "Velho Chico", por André Araújo

Por André Araújo
Em março de 2016


Entre os anos 70 e 80,o aclamado autor Benedito Ruy Barbosa reinou absoluto no horário mais ingrato da TV brasileira: o começo da noite, abrindo espaço para a chegada do famoso “horário nobre”, aquele em que todo mundo já chegou em casa do trabalho e se esparrama diante da televisão após o jantar, disposto a se entreter com alguma história interessante. Mas sem concorrência, a emissora do falecido jornalista Roberto Marinho reinava mesmo em qualquer horário e, na Rede Globo, todos os horários eram “nobres”, independente da baboseira que estava no ar.

E se Janete Clair era a dona absoluta do horário das oito, o "bambambam" do horário das seis era Benedito Ruy Barbosa que, em 1979, bateu todos os recordes de audiência com sua novela “Cabocla”, inspirada no romance homônimo de Ribeiro Couto, fazendo com que o livro até fosse relançado. Sucesso total!

Mas o sonho que o autor de novelas rurais almejava era mesmo o horário das oito, oportunidade que lhe era negada todas as vezes em que ele cogitava uma chance. Cansado da espera, o dito autor foi parar na Band para escrever “Os Imigrantes”, revolucionando o horário das 18h30, uma vez que essa trama foi exibida para concorrer com as novelas das 18h da Rede Globo, e com grande sucesso. Mas como quem nunca comeu melado quando come se engasga, a saga dos “Antonios” arrastou-se por quase dois anos, totalizando quase 500 capítulos, tendo sido encerrada sem o mesmo sucesso de seu começo e com autores diferentes.

Antes mesmo do término de “Os Imigrantes”, Benedito voltou para a Rede Globo em 1982 para escrever “Paraíso”, “Voltei Pra Você”(1983), que era uma espécie de remake de “Meu Pedacinho de Chão” (1971), ”Sinhá-Moça”(1986), e o mesmo tema de “Os Imigrantes” na novela “Vida Nova” (1989), último folhetim do ator Lauro Corona, que saiu da história alguns capítulos antes de seu término para cuidar da saúde.

Com o fim de “Vida Nova”, Benedito Ruy Barbosa apresentou à Rede Globo a sinopse daquela que seria sua primeira novela das oito: “Amor Pantaneiro”, que foi recusada. A emissora acreditou que seria inviável gravar a trama no pantanal. O autor se estressou, tornou pública sua indignação e a Rede Manchete interessou-se pelo projeto, o que resultou no maior sucesso televisivo de 1990. 

“Pantanal” deu tão certo que o criador de Juma Marruá (Cristiana Oliveira) e parte do elenco da novela, a maioria ex-Rede Gobo, voltou para a Vênus Platinada a peso de ouro e com uma “exigência”: o horário das oito também seria dele. Foi assim que nasceu “Renascer” (sua primeira fase merece uma chance na telona!), o grande sucesso de 1993, seguida de “O Rei do Gado”(1996), outro super sucesso, e “Terra Nostra”(1999), levando o famoso autor às capas de todas as revistas, como "a Janete Clair de calças", devido à popularidade de seus personagens. 

Tudo favorável? Até ali, sim, mas com o final mal-sucedido de “Terra Nostra”(choveram críticas pelo desfecho absurdamente inesperado, tanto que a reprise ninguém quis ver), o autor ainda teve outra oportunidade para o mesmo horário nobre e, em junho de 2002 (após “O Clone”,de Gloria Perez), ele voltou à carga comum a nova leva de imigrantes italianos... Mas desta vez, debalde!... “Esperança”, que mais parecia uma sequência de sua novela anterior e com gosto de “esse filme eu já vi”, a novela acabou sendo passada para as mãos de Walcyr Carrasco, que não tinha mais o que fazer para salvar a história do fracasso total. E assim o tal de “novo mago das oito” saiu do ar e acabou sendo rebaixado para o velho horário das seis, de onde ele saiu acreditando que nunca mais voltaria! 

E o horário ingrato acabou destinado a ele para que remakes de suas antigas novelas. “Cabocla”,”Sinhá-Moça”,”Paraíso” e “Meu Pedacinho de Chão” voltaram ao ar mas não necessariamente pelas mãos de Benedito Ruy Barbosa como autor-titular e sim como supervisor de texto (isso é que posso chamar de rebaixamento mesmo!).

“Velho Chico”, inédita criação de Benedito Ruy Barbosa, que criou a sinopse em fins de 2002, seria exibida no horário das 18h, mas acabou indo parar no horário nobre, com a tarefa de resgatar a audiência perdida desde a estreia de “Em Família”(de fevereiro de 2014), a novela “incestuosa” do Manoel Carlos que todo mundo virou as costas. 

Com o fim de “A Regra do Jogo”, trama mediana de João Emanuel Carneiro, criador de “Avenida Brasil” , ”Velho Chico” estreou “causando” na audiência e arrancando elogios até mesmo dos mais exigentes telespectadores... Mas passado o entusiasmo da primeira semana de estreia (de 14 a 19 de março de 2016), o que temos visto na telinha nada mais é que uma história chata, lenta e com o mesmo "lenga-lenga" do coronelismo e quengas que o autor de “Meu Pedacinho de Chão” sempre colocou em suas tramas. Ninguém merece um marasmo desses! É de dar sono! 

Cenário bucólico e trilha sonora bem colocados não salvam novela assim como os elogios da crítica “especializada” não favorecem em nada! A crítica pode dar nota dez à tal novela, mas o interesse do público tem despencado à medida que a trama avança, o que ocorre em marcha de tartaruga. Direção belíssima, paisagens de encher os olhos, trama a trama é batida e em menos de um mês já está cansando!

Se a segunda parte de “Os Dez Mandamentos” agradar ao mesmo público que fez a novela da Rede Record tornar-se um grande sucesso em 2015, ”Velho Chico” despencará cada mais, talvez até se “afogando” no rio São Francisco que costuma arrastar tudo na época de suas enchentes! Assim como imagem não salva texto, elogio de crítica não alavanca audiência! Que venha Maria Adelaide Amaral com sua “Lobo do Amor”!

***

André Araújo é um apaixonado por novelas. Tanto que ele escreve algumas por aí e publica pela internet, arrebatando fãs e distribuindo inspiração. Da cabeça dele já saíram grandes personagens. Entre as novelas virtuais, é autor de "Uma Vez Na Vida! e "Flor de Cera", que será lançada em breve e tem até grupo no Facebook - neste link.

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