sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

.: Entrevista com Graziela Medori, por Luiz Gomes Otero

'Um artista independente tem que comer pelas beiradas e fazer seu trabalho acontecer",
Graziela Medori


Por Luiz Gomes Otero
Em janeiro de 2016
Fotos:
Thiago Dias


Partindo para o segundo disco solo, Graziela Medori calculou todos os passos com os dois pés no chão. Primeiro fez o lançamento de "Toma Limonada" em versão digital, para depois lançá-lo no formato CD convencional. Uma estratégia que já vem dando certo e mostra um amadurecimento artístico do rumo de sua carreira, além de se adaptar aos novos tempos da realidade do mercado fonográfico. 

Neste novo trabalho, com produção do musico e pai, Chico Medori, ela contou com participações de nomes como Seu Jorge e David Hubbard, que conferiram um toque de qualidade especial para o disco. Este é o segundo trabalho solo de Graziela, que também é vocalista do grupo "Os Brazucálias" e desenvolve uma carreira pautada pelo bom gosto musical e qualidade. Confira a entrevista que ela concedeu para o Resenhando.

RESENHANDO - Por que você optou por lançar primeiro o disco na versão digital?
GRAZIELA MEDORI - Nós pensamos muito em como lançar esse novo trabalho, entrei em contato com diversos selos, produtores, empresários, mas desde o primeiro disco, que foi lançado em 2011, para agora, muita coisa mudou. O fato é que, hoje, um artista independente tem que comer pelas beiradas e fazer seu trabalho acontecer, não adianta achar que alguém vai lhe descobrir e fazer você despontar. As plataformas são o melhor caminho atualmente. O streaming está em ascensão e as pessoas estão cada vez mais conectadas, exatamente pelo fato de ser uma nova fonte de descoberta com relação a sons, vídeos e estações de rádio. Vamos lançar o disco no físico, mas a experiência de soltá-lo primeiramente na versão digital está sendo muito positiva e estamos colhendo resultados imediatos.

RESENHANDO - Como foi o processo de criação desse trabalho e o que ele difere do disco anterior ("A Hora é Essa")?
G.M. - O processo de criação desse disco fluiu muito mais rápido. Eu sabia exatamente o que eu queria gravar, já tinha em mente um caminho e o meu pai (Chico Medori), que foi quem produziu o trabalho, captou a ideia com relação ao repertório e fez arranjos incríveis. Não pensamos muito e saímos gravando. O primeiro disco, por eu ser menos experiente, ficava na dúvida com relação a repertório. Sinto que demoramos para produzi-lo. Gosto muito do meu primeiro disco, mas sinto que, no segundo, existe um caminho mais consistente, mais maduro.

RESENHANDO - As rádios têm mantido uma predominância do estilo sertanejo, ao  mesmo tempo em que vemos vários artistas novos despontando com trabalhos criativos fora desse contexto. Na sua opinião, a que se deve esse estado de coisas?
G.M. - Acredito que a melhor forma de se expressar na arte, é se expressando com a sua verdade, no que você acredita e no que lhe representa. Acho "furada" você se adequar a um estilo só porque está em alta. Fico feliz que existem pessoas se destacando em outros estilos musicais e que aconteça mais essa movimentação, precisamos de novidade. Não sou contra ao estilo A, B ou C. Só acho que deveriam abrir os espaços para todos, como na época da minha mãe, que existia a turma da bossa nova, da jovem guarda, do brega. Todos trabalhavam, tocavam nas rádios e faziam televisão. É preciso abrir o leque para que as pessoas tenham a oportunidade de conhecer novos sons e músicos.

RESENHANDO - No "Toma Limonada", há participações especiais de Seu Jorge e de David Hubbard. Como surgiram essas oportunidades?
G.M. - Com o Seu Jorge eu fui atrás dele, sem saber o que podia acontecer. Meu pai me mostrou a música e eu disse a ele que era a cara do Seu Jorge e que eu o via cantando “Toma Limonada”. Um dia achei um anúncio de um show dele na internet e resolvi fazer a loucura de ir ao local, sem ingresso. Mas a tentativa foi ótima, pois no final deu tudo certo. Aquele dia foi engraçado, estava tão sem esperanças. Saí sem nenhuma roupa especial, de coque e tênis, chovia "paca", peguei um táxi, entrei toda atrapalhada no local, com guarda-chuva, um casaco do tipo grosso. Foi incrível como tudo aconteceu, uma experiência da qual eu nunca esquecerei. Eu já era fã do cara, fiquei mais fã ainda da pessoa dele! Conheci o David através do técnico que gravou o disco, ele também é um grande músico e um cara de coração gigante, tudo fluiu na gravação. Tive muita sorte de tê-los nesse trabalho!

RESENHANDO - Sua formação musical parece ter sido natural, por ser filha de músicos consagrados (Claudya e Chico Medori). Fale sobre a influência deles.
G.M. - Influência total! Cresci ouvindo música, rodeada de músicos, alguns que tocam comigo hoje, me conheceram pequenininha, pois já tocavam com meus pais. É muito louco você poder compartilhar música com pessoas que lhe viram crescer. Qualquer reunião em casa tinha música boa, até nas minhas festas de criança, tinha o momento Xuxa, mas depois rolava Ivan (Lins), Tom Jobim, Sarah Vaughan, Ella Fitzgerald, Bill Evans, Marcos Valle na vitrola ou ao vivo, pois minha mãe sempre tocou piano também. Ainda tenho muito o que aprender, tenho toda uma estrada, mas essa vivência para mim é um dos pontos mais altos nesse minha formação autodidata.

RESENHANDO - Na era atual, ainda cabe pensar em vendagem de discos ou isso virou apenas coisa do passado por conta da nova realidade virtual presente?
G.M. - Virou coisa do passado. Eu não penso nas vendagens, penso que os meus discos são cartão de visita e que com eles podemos nos divulgar e fazer shows. Estamos definitivamente em outra era, em outro momento e esse momento é totalmente digital. Amo tudo o que foi produzido de forma analógica, essa coisa pura, de ser real, porque também se perde muito sendo tão digital. Se perde na realidade das fotos tão tratadas, dos vídeos mega produzidos. Sinto que muita coisa feita de forma mais simples, pega mais na alma das pessoas, apesar de estarmos vivendo outros tempos. Isso aconteceu nas vendagens de discos também, afetou o mercado, mas temos que nos adequar a essa nova era.

RESENHANDO - Como estão os planos para os shows para divulgação desse novo trabalho?
G.M. - Estamos a mil, trabalhando com uma galera criativa, que está agregando muito nesse novo projeto. Não é fácil ser um artista independente, nós ralamos muito e temos que lidar com uma série de desafios, mas é isso que nos move e que nos faz seguir em frente. Vem muita novidade bacana esse ano!

RESENHANDO - Como o público pode adquirir o "Toma Limodada"?
G.M. - Por enquanto nas plataformas digitais: Itunes, Deezer, Spotify e Google Play. Logo lançaremos o físico. É só aguardar e tomar muita limonada!

Teaser de "Toma Limonada"

"Um Girassol da Cor do Seu Cabelo" (faixa do novo disco)

"Ou Bola ou Búlica" (vídeo da faixa do primeiro disco)

"A Hora É Essa" (faixa título do primeiro disco)


Sobre o entrevistador
Luiz Gomes Otero é jornalista formado em 1987 pela UniSantos - Universidade Católica de Santos. Trabalhou no jornal A Tribuna de 1996 a 2011 e atualmente é assessor de imprensa e colaborador dos sites Juicy SantosLérias e Lixos e Resenhando.com. Recentemente, criou a página Musicalidades, que agrega os textos escritos por ele.

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