segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

.: "Além do Tempo" será para sempre um folhetim encantador

Por André Araújo
Em janeiro de 2016

No segundo semestre de 1990 a Rede Globo colocou no ar a tão aguardada novela “Barriga de Aluguel”, que Gloria Perez havia criado sete anos antes e,claro,engavetada,devido o “excesso” de “absurdos” que seriam abordados na trama. Inclusive, seu título original era “Novos Tempos”.

Visionária, mergulhada no universo de sua mestre Janete Clair (1925 - 1983), Gloria Perez sabia mesmo do que estava falando e sua novela em 1990 deu mesmo o que falar. Era a novela “das oito” no horário das seis. "Barriga de Aluguel” não fez feio nem mesmo quando a emissora adiou sua substituta, e a autora teve de espichar a história em mais 70 capítulos, fechando a novela com 243 capítulos, a mais longa novela do horário, o que poderia ter esvaziado a história, o que de verdade não aconteceu.

E o público, além de continuar ligado na trama, não só via a novela como também a discutia em todas as rodas de conversas quando o assunto era alguma coisa ligada ao mundo da TV. Não teve jeito! Todo mundo se ligou no drama das duas mães que queriam ficar com a criança gerada num barriga alugada! Foi um drama atual e inteligente! E que drama! Sucesso igual só foi visto e debatido três anos mais tarde,com o “remake” de “Mulheres de Areia”, de Ivani Ribeiro (1916 - 1995), recorde de audiência em todos os seus 180 capítulos exibidos.

Vinte e dois anos após seu grande “boom” no horário das 18h, a Rede Globo nos deu de presente uma novela chamada “Além do Tempo” em que a autora, Elizabeth Jhin, misturou o kardecismo tão bem usado por Ivani Ribeiro em algumas tramas, com as polêmicas típicas das histórias criadas por Gloria Perez, como a obsessão de Melissa (Paola Oliveira) em “salvar” seu casamento por “pura birra” e usar o filho para castigar o ex-marido, mostrando o que fato se entende por alienação parental, além de discutir o “racismo”, tão em evidência atualmente, quando negros são chamados de macacos em pleno século 21. Enfim, uma trama açucarada, mas bem atual e sem perder a força de um folhetim típico do horário das 18h que sempre teve público ingrato.Um primor de novela!

Embora o principal triângulo amoroso da trama fosse a história de “Melissa-Felipe-Lívia", o que de fato cativou a todos os telespectadores foi o “eterno duelo” entre as personagens de Ana Beatriz Nogueira e Irene Ravache, que roubaram para si todas as cenas em que atuaram. O público sabia que Emília sofreu nas mãos de Vitória no século 19 e presenciou a vingança que ela impôs, na atualidade, à sua antiga rival. Como epílogo, o acerto de contas e o perdão.Quem foi mau na vida passada pagou pelos seus pecados nessa existência e se redimiu. Para fechar, o amor tomou de conta de todos os corações e todas as cenas foram, de fato, lindas.

Ah! Nem tudo foi interessante em cada capítulo? Foi, sim. Ao final de cada um, um gancho que nos fazia pensar em como seria o capítulo seguinte. E lá se vinha uma nova leva de emoções e suspenses inteligentes que nos faziam esperar pelo outro. A autora soube dosar cada “episódio” e a novela, em momento algum, se esvaziou, mesmo que no começo da segunda fase o público tenha se questionado sobre a qualidade da história: mas afinal, o que é uma novela senão um novelo que vai se desenrolando aos poucos? Elizabeth Jhin conseguiu a proeza de cativar seu público. E com a vantagem de nos dar de presente apenas uma trama simples, nada mais. Trama simples e ao mesmo tempo ousada, pois tivemos duas novelas em uma só. Parabéns à autora e toda a equipe da novela, que foi maravilhosa do começo ao fim.
Enfim,"Além do Tempo" será para sempre um folhetim encantador.

***

André Araújo é um apaixonado por novelas. Tanto que ele escreve algumas por aí e publica pela internet, arrebatando fãs e distribuindo inspiração. Da cabeça dele já saíram grandes personagens. Entre as novelas virtuais, é autor de "Uma Vez Na Vida! e "Flor de Cera", que será lançada em breve e tem até grupo no Facebook - neste link.



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