Daniel Siwek, ator e músico
Por Helder Miranda
Em novembro de 2015
Fortemente influenciado por seu irmão Nabade, ele o segue em tudo que faz. É ordenado sacerdote por Deus, tem a oportunidade de ver de perto a glória, mas peca contra o Senhor e é morto por Ele. A descrição não é sobre o entrevistado, mas do personagem defendido por ele, Abiú, em “Os Dez Mandamentos”, novela que acabou na última segunda-feira, 23 de novembro, deixando um rastro de destruição na audiência do horário nobre da Rede Globo.
Daniel Siwek continuará sendo o intérprete do Abiú na segunda temporada da novela no ano que vem, mas, além de ator... ele é psicólogo, locutor e músico que, recentemente, lançou um clipe na internet, “At the End”, do álbum “Entropy N.º 1”, que vem surpreendendo admiradores pelo país.
Gravado no final do ano passado por uma equipe de 30 pessoas, o clipe em preto e branco “At the End” se destaca pela qualidade e intensidade das imagens e conta a história de um casal apaixonado. Daniel Siwek é o protagonista do vídeo, que fala do momento em que as coisas acabam, mas não se pode voltar atrás e é preciso aceitar o destino.
A música abre o CD e traz uma balada com levadas suaves e pequenas intervenções de piano e violoncelo, dando uma dramaticidade delicada e forte à composição.
Nascido em Curitiba e formado em Psicologia pela Universidade Federal do Paraná, Daniel Siwek é reconhecido no sul do Brasil pelo trabalho de locutor na Rádio Mundo Livre FM. Fez trabalhos marcantes nos teatros paranaenses e participou de episódios de “Casos e Causos”, um conjunto de telefilmes produzidos pela RPC, afiliada à Rede Globo no Paraná.
Entre as minisséries que participou, destaca-se “Colônia Cecília”, produzida pela GP7 Cinema e RPCTV. O público também pode conferir o álbum “Entropy N.º1” nos sites de streaming Apple Music, Deezer e Spotify, além de lojas virtuais como iTunes, Google Play, Rdio e também no canal do YouTube DanielSiwekMusic.
RESENHANDO - Qual é o ponto que une o ator e o cantor. Aquele em que os dois são complementares?
DANIEL SIWEK - As artes se complementam. O ator precisa expressar emoções assim como o cantor. O cantor precisa tocar o ouvinte assim como o ator o espectador. No meu ponto de vista, o que une os diferentes artistas e suas diversas formas é a própria arte e a sua função: possibilitar os processos de percepção, sensibilidade, cognição, expressão e criação humana.
RESENHANDO - O que você tem de semelhanças e diferenças com o seu personagem em “Os Dez Mandamentos”?
D.S. - O Abiú viveu o conflito de ser influenciado pelo irmão Nadabe, que o leva para um caminho tempestuoso, e o de seguir o caminho de seus pais, um caminho mais correto, pautado pelos preceitos de Deus. Abiú não é um rapaz do mal, mas parece viver no limite entre a bondade e a transgressão. Eu me identifico com essa inquietude de alma que o Abiú tem.
RESENHANDO - Você imaginava que essa novela faria tanto sucesso?
D.S. - Ninguém imaginava que a coisa iria tomar a proporção que tomou, mas de alguma forma sabíamos que seria um produto de sucesso. Sabíamos do tamanho e da responsabilidade que essa produção teria. Imaginávamos que não seria "apenas" mais uma novela, mas realmente e felizmente as coisas superaram as expectativas de todos nós.
RESENHANDO - Como são os bastidores da novela? Com quem tem mais amizade?
D.S. - Os bastidores de uma novela como "Os Dez Mandamentos", que tem por volta de 170 capítulos, é praticamente como a nossa segunda casa. A gente vira família literalmente. Trabalhos juntos, comemos juntos, brincamos juntos, saímos juntos e por aí vai.
RESENHANDO - Com quem tem mais amizade?
D.S. - Claro que naturalmente acabamos tendo uma proximidade maior com certas pessoas (como é o caso dos meus irmãos e família na novela), mas o clima de amizade e parceria permeia todo o elenco e isso é muito bacana de se ver.
RESENHANDO - Depois de “Os Dez Mandamentos”, as pessoas perderam de vez o preconceito com tramas bíblicas?
D.S. - Mais do que perder um "preconceito" por tramas bíblicas, o sucesso dos "Dez Mandamentos" mostrou que as pessoas estão sedentas por boas histórias. E se a Bíblia é cheia de boas histórias e tramas, então qual o problema em contá-las?! Uma boa trama é boa por si só, sendo bíblica ou não.
RESENHANDO - Por estar atuando em uma novela de época, ter uma tatuagem representa algum tipo de empecilho?
D.S. - Não diria "empecilho" no sentido de impedir o trabalho do ator, mas com certeza deixa o trabalho do pessoal da maquiagem mais longo e trabalhoso. Eles não gostam muito de tatuagem (risos)... No começo, meu figurino era de manga curta e então eu passava uns 40 minutos até cobrir todas as minhas tatuagens, que não são pequenas. Com o tempo, o pessoal do figurino me colocou com as mangas maiores e assim pudemos cobri-las com as próprias roupas. É tudo uma questão de adaptação quando se pode fazer, caso contrário é esperar e maquiar mesmo.
RESENHANDO - Uma tatuagem é uma marca sua, não dos personagens que interpreta. Isso, de alguma maneira, o atrapalha?
D.S. - Nunca deixei de pegar algum trabalho por conta de tatuagem. Bom, não que eu saiba... (risos). Não sou contra atores se tatuarem, mas acho que deve ser uma decisão muito pessoal de cada um. Conheço inúmeros grandes atores que tem tatuagens e isso nunca os impediu de nada.
RESENHANDO - O que pode dizer sobre o processo de criação do CD "Entropy N.º 1"?
D.S. - O "Entropy N.º 1" nasceu de uma catarse emocional. Ele foi composto num período de seis meses e levou dois anos e meio para ficar pronto. Tive anos e acontecimentos difíceis na minha vida e, ao invés de sair fazendo mal às pessoas, preferi me trancar no quarto e compor. Botar as minhas dores e aprendizados na forma de música. "Entropy N.º 1" trata disso, das dúvidas e acertos, do bem querer, mas também da liberdade do compor, dos traços que definem histórias já vividas por muita gente.
RESENHANDO - Há alguma razão para o clipe “At the End” ter sido gravado em preto e branco?
D.S. - Isso foi uma decisão do diretor de fotografia do clipe, Felipe Meneghel. Eu dei total liberdade para ele escolher a forma que queria trabalhar e a técnica que gostaria de usar. Preto e branco juntamente com a filmagem em slow foram as escolhas.
RESENHANDO - A música fala do momento em que as coisas acabam, em que não se pode voltar atrás, senão aceitar o destino. Já aconteceu isso com você?
D.S. - Não só comigo, mas com todo mundo que está vivo ou alguma vez viveu de verdade. Muitas vezes, as coisas não acontecem como nós queremos, elas nem mesmo acontecem como não queríamos, as coisas simplesmente não pedem nossa opinião.
RESENHANDO - Acredita que a arte é, de alguma maneira, autobiográfica?
D.S. - Com certeza. Não há como o artista se desvencilhar de si mesmo ou de partes de si mesmo no processo criativo que a arte pede. Claro que existem obras de ficção, mas mesmo elas contêm traços pessoais da vida de seus autores.
RESENHANDO - Como um psicólogo acaba se tornando ator e cantor?
D.S. - Minha história acadêmica é longa e cheia de curvas... (risos). Meu primeiro curso na faculdade foi Filosofia. Cursei dois anos e tranquei para morar fora do país. Quando voltei, transferi para Psicologia e me formei. Nunca cheguei a trabalhar realmente com Psicologia. Fui novamente morar fora do país e, quando voltei, cursei dois anos de Jornalismo, chegando a trabalhar um pouco na área da comunicação.
RESENHANDO - Quando percebeu que queria viver da arte, e não da psicologia?
D.S. - A música sempre esteve presente na minha vida. Independente de onde eu estivesse, ou seja lá fazendo o quê, a música sempre esteve ao meu lado. No caso de ser ator, sempre digo que não me "tornei" ator, mas me "descobri" ator. Digo isso porque "torna-se" implica se transformar, vir a ser algo. Enquanto que "descobrir-se" implica se revelar. Por isso faz mais sentido pra mim. O ator já existia dentro de mim, ele só foi descoberto, revelado.
RESENHANDO - Você é nascido em Curitiba. Como surgiu a oportunidade de fazer sucesso no Rio de Janeiro?
D.S. - Tudo começou através de um registro feito em Curitiba com o produtor de elenco Marcos Reis, da Record, para "Os Dez Mandamentos". Depois de um tempo, fui chamado para outro teste aqui no Rio de Janeiro com o diretor geral da novela, Alexandre Avancini. Mais um tempo se passou até eu receber a ligação com o convite para fazer parte do elenco da novela.
RESENHANDO – Como explicar o sucesso da novela?
D.S. - O sucesso é resultado do trabalho e do empenho de todos que estão envolvidos em "Os Dez Mandamentos". Eu me sinto feliz e honrado por poder estar vivendo e aprendendo com tudo isso que está acontecendo.
RESENHANDO - No sul, você também é conhecido como locutor. O que essa experiência agregou, para você, como artista?
D.S. - A rádio me ensinou muita coisa, mas principalmente a pensar rápido, a ter dinâmica, a driblar problemas com bom humor e rir dos meus erros. Tive a sorte de ter um cara chamado Edson Jansen como chefe, uma das pessoas mais espetaculares que já conheci, e que foi um grande professor e exemplo de profissional e pessoa. Entre os colegas, tive grandes locutoras como Margot Brasil, Adri Neves e Marielle Loyola, que foram essenciais no meu desenvolvimento dentro do ofício. Aprendi muito com elas sobre o que é parceria de verdade no trabalho.
0 comments:
Postar um comentário
Deixe-nos uma mensagem.