Por Lino Rampazzo*
Em outubro de 2015
“Imigrantes mortos no mar; barcos que em vez de ser uma rota de esperança, foram uma rota de morte. Assim recitava o título dos jornais. Desde há algumas semanas, quando tive conhecimento desta notícia (que infelizmente se vai repetindo tantas vezes), o caso volta-me continuamente ao pensamento como um espinho no coração que faz doer. E então senti o dever de vir aqui hoje para rezar, para cumprir um gesto de solidariedade, mas também para despertar as nossas consciências, a fim de que não se repita o que aconteceu. Que não se repita, por favor!”
Com essas palavras o Papa Francisco iniciou sua homilia na ilha de Lampedusa, no dia 8 de julho de 2013. Localizada no sul da Itália, era um dos lugares mais procurados pelos africanos que fugiam da fome. Mas um grande número destes acabava morrendo durante a travessia, devido particularmente à fragilidade das embarcações.
De lá para cá a situação piorou, devido ao agravamento da guerra na Síria. Milhões de pessoas estão deixando seus países de origem e procuram um país da Europa onde refugiar-se. Mas, além do conflito da Síria, a violência constante no Afeganistão e na Eritreia, assim como a pobreza no Kosovo, têm levado pessoas dessas regiões a procurar asilo em outros países. Eis os países de origem da maioria dos refugiados: Síria, Afeganistão, Kosovo, Eritreia, Sérvia, Paquistão, Iraque, Irã, Nigéria e Rússia.
Voltamos ao caso mais grave, o da Síria, onde a guerra civil já desabrigou e deslocou 11 milhões de pessoas, em uma população de 20 milhões; ou seja, mais da metade do país não está vivendo em sua residência original.
A fuga do próprio país é apenas uma das “estações” de uma autêntica “via sacra”. Uma outra difícil “estação” é a “luta” para conseguir um lugar de abrigo. Os países da Europa, que nos últimos anos tinham conseguido um nível de vida de alta qualidade, entram em crise diante destes refugiados famintos, sem terra, sem nada, que pedem socorro.
Certamente o problema não é de fácil solução. Mas a fé religiosa de um lado e os defensores dos direitos humanos por outro, exigem uma resposta à altura dessa grave crise. Mais uma vez o surpreendente Papa Francisco falou a esse respeito, no último dia 6 de setembro, apontando um caminho para as comunidades cristãs: “Dirijo um apelo às paróquias, às comunidades religiosas, aos mosteiros e aos Santuários de toda a Europa para expressarem a concretude do Evangelho e acolher uma família de refugiados. Cada paróquia, cada comunidade religiosa, cada mosteiro, cada santuário na Europa hospede uma família, começando pela minha diocese de Roma”.
Gostaria de concluir esta reflexão retomando a parte final da citada homilia do Papa Francisco em Lampedusa, uma mensagem dirigida não apenas aos cristãos, mas a todos os homens “de boa vontade”: “Somos uma sociedade que esqueceu a experiência de chorar, de “padecer com”: a globalização da indiferença tirou-nos a capacidade de chorar!”.
A crise destes refugiados, e, para nós, aqueles que procuram acolhida também no Brasil, oriundos particularmente da Síria, da Colômbia, Haiti e vários países africanos, é um apelo para não esquecermos aquela forte palavra do Evangelho: “Eu era estrangeiro e vocês me receberam em sua casa” (Mt 25, 35).
* Prof. Lino Rampazzo é Doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Lateranense (Roma) e Coordenador do Curso de Filosofia da Faculdade Canção Nova.
quarta-feira, 28 de outubro de 2015
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