Em 2008, publicou sua primeira novela, "Órfãos do Eldorado", e em 2013 teve suas crônicas reunidas em "Um Solitário À Espreita". Sua obra já foi traduzida em 12 línguas e publicada em 14 países. Para comemorar o aniversário deste super leonino, nascido neste 19 de agosto, que tal ler dois livros inesquecíveis dele? A Companhia das Letras sugeriu logo dois, confira!
Relances da experiência vivida, recolhidos em tramas brevíssimas, de dicção enxuta em que tudo ganha nitidez máxima e máximo poder de iluminação - assim são as histórias que Milton Hatoum reuniu em seu primeiro volume de contos, "A Cidade Ilhada".
As sementes das histórias de Hatoum não poderiam ser mais diversas: a primeira visita a um bordel em "Varandas da Eva"; uma passagem de Euclides da Cunha em "Uma Carta de Bancroft"; a vida de exilados em "Bárbara no Inverno" ou "Encontros na Península"; o amor platônico por uma inglesinha em "Uma estrangeira da nossa rua". Com mão discreta e madura, Hatoum trabalha esses fragmentos da memória até que adquiram outro caráter: frutos do acaso e da biografia pessoal, eles afinal se mostram como imagens exemplares do curso de nossos desejos e fracassos.
Desejos e fracassos, aliás, respondem pela rede subterrânea que amarra os contos de "A Cidade Ilhada". Se o desejo, a literatura ou a viagem levam os personagens a expandir o raio de sua ação e a transpor as barreiras da infância e da moral, da classe e da província, estes mesmos elementos não se dão por vencidos e, mais cedo ou mais tarde, recaem sobre os heróis como uma fatalidade que os traz de volta a um centro imóvel: "para onde vou, Manaus me persegue".
Onze anos depois da publicação de "Relato de Um Certo Oriente", Milton Hatoum retoma os temas do drama familiar e da casa que se desfaz. "Dois Irmãos" é a história de como se constroem as relações de identidade e diferença numa família em crise.
O enredo desta vez tem como centro a história de dois irmãos gêmeos - Yaqub e Omar - e suas relações com a mãe, o pai e a irmã. Moram na mesma casa Domingas, empregada da família, e seu filho. Esse menino - o filho da empregada - narra, trinta anos depois, os dramas que testemunhou calado. Buscando a identidade de seu pai entre os homens da casa, ele tenta reconstruir os cacos do passado, ora como testemunha, ora como quem ouviu e guardou, mudo, as histórias dos outros. Do seu canto, ele vê personagens que se entregam ao incesto, à vingança, à paixão desmesurada.
O lugar da família se estende ao espaço de Manaus, o porto à margem do rio Negro: a cidade e o rio, metáforas das ruínas e da passagem do tempo, acompanham o andamento do drama familiar. Prêmio Jabuti 2001 de Melhor Romance.
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