sábado, 11 de julho de 2015

.: Inéditas do fotógrafo Alair Gomes em exposição

Curador Eder Chiodetto seleciona 293 ampliações de pequenos formatos do fotógrafo notabilizado pelas séries de conteúdo homoerótico e voyeurista realizadas entre 1960 e 1980 no Rio de Janeiro. Inclui série inédita realizada na Praça da República, em São Paulo, em 1969


A Caixa Cultural São Paulo exibe de 25 de julho a 04 de outubro a mostra “Alair Gomes: Percursos”. Organizada pelo pesquisador e curador de fotografia Eder Chiodetto, a individual traz a público uma seleção de 293 ampliações de pequenos formatos das séries “Sonatinas, Four Feet”, “Symphony of Erotic Icons”, “The Course of the Sun”, “Beach Triptychs”, “A New Sentimental Journey”, além de uma série inédita de fotografias de atletas do surf, futebol, canoagem e natação no Rio de Janeiro e a série que realizou na Praça da República em 1969, no auge do movimento hippie na cidade de São Paulo.

Considerado um dos precursores da fotografia homoerótica no Brasil, Alair Gomes era engenheiro de formação. Notabilizou-se a partir dos anos 1960 pelas fotografias que enfocam o corpo do homem belo e jovem, seguindo a tradição da história da arte, mais notadamente das esculturas greco-romanas. Com forte acento voyeurista, muitas das fotografias realizadas entre 1960 e 1992 foram feitas a partir da janela e também no perímetro de seu apartamento na orla da praia de Ipanema, no Rio de Janeiro. Desde então, sua produção tem sido estudada por renomados críticos brasileiros e estrangeiros e vem sendo exibida em livros, revistas, galerias e museus. Sua última grande mostra foi realizada na 30a Bienal de Arte de São Paulo.

Séries e temas
“Alair Gomes: Percursos” é aberta com uma série inédita de 32 fotografias da Praça da República, em São Paulo , em 1969, auge do movimento hippie no Brasil. Chiodetto se surpreendeu ao encontrar essa série em sua pesquisa no acervo da Biblioteca Nacional: "essas imagens ajudam a entender a pulsão da obra de Alair como um desdobramento da revolução comportamental ocorrida após maio de 1968, é uma ode ao hedonismo, aos prazeres sem culpa possibilitada pelo sexo livre e pela regressão de certos dogmas”, diz o curador.

Em “Sonatinas, Four Feet” (1966-1986), o ponto de vista fotográfico é ortogonal, ou seja, Alair retrata os rapazes na praia. Organizada em pequenas composições de seis até 21 fotografias feitas em uma única sessão, pode ser entendida como sketch fotográfico, pequena narrativa de rapazes anônimos que se exercitam à beira-mar. Está disposta junto de “Beach Triptychs”, série de trípticos focada em banhistas e nadadores realizada entre 1967 e 1969 nas praias do Arpoador, Ipanema e durante as competições esportivas.

Realizada entre 1977 e 1980, a série “The Course of the Sun” apresenta 25 fotografias feitas a partir do apartamento à beira-mar em Ipanema, onde Alair morava. Usando lentes de longo alcance, ele fotografava rapazes indo e vindo da praia de sunga. A sombra dos corpos se alonga no chão criando uma tensão entre a figura e sua projeção.  

Na sala reservada do espaço expositivo, por sua vez, estão fragmentos da série “Symphony of Erotic Icons” (1966-1978), realizada ao longo dos anos no estúdio caseiro do fotógrafo. Não raro, Alair mostrava aos garotos da praia as fotos que realizava furtivamente e os convidava para seu estúdio, onde promovia sessões fotográficas mais íntimas, explorando diferentes ângulos e sombras de seus corpos nus. Chiodetto complementa a série com “A New Sentimental Journey”, espécie de diário textual-imagético que trata da viagem do artista para a Inglaterra, França, Suíça e Itália em 1969, no qual Alair revela seu apreço pela estatuária clássica greco-romana.

Alair de Oliveira Gomes (Valença, RJ 1921 – Rio de Janeiro, RJ 1992)
Formado em Engenharia Civil e Eletrônica pela Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro ) em 1944, abandona a profissão para dedicar-se à crítica de arte e ao estudo da filosofia da natureza, da física, da matemática, da biologia e da neuropsicologia. 

Entre 1962 e 1963 é professor-visitante de Filosofia da Ciência na Yale University (EUA). Ainda nos anos 1960, leciona no Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro . Começa a fotografar em 1965, desenvolvendo em segredo durante muitos anos um trabalho pessoal de caráter homoerótico que veio a obter consagração internacional apenas após seu cruel assassinato em 1992. 

Alair produziu um conjunto de mais de 170 mil negativos em 26 anos e teve papel determinante na afirmação da fotografia como expressão artística ao criar e coordenar a Área de Fotografia da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, entre 1977 e 1979. Foi agraciado com uma bolsa da Fundação Guggenheim em 1962; e foi tema do filme “A Morte de Narciso”, de Luiz Carlos Lacerda, em 2003.

Serviço: 
Exposição “Alair Gomes: Percursos”
Abertura para convidados e visita guiada com curador: 25 de julho de 2015 (sábado), às 11h
Data: de 25 de julho a 4 de outubro de 2015 (terça-feira a domingo)
Horário: das 9 às 19h
Local: CAIXA Cultural São Paulo
Endereço: Praça da Sé, 111 – Centro – São Paulo (SP)
Entrada: Franca
Classificação etária: 16 anos
Informações: (11) 3321-4400
Acesso para pessoas com necessidades especiais
Patrocínio: Caixa Econômica Federal

Palestra com o curador e Lançamento de Catálogo
Data: 29 de agosto de 2015 (sábado)
Horário: 11h

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