sexta-feira, 5 de junho de 2015

.: “MasterChef Brasil” e assédio moral, uma crítica ao 1º episódio


“Todos vocês sairão transformados daqui”. É a promessa que os participantes da segunda temporada de “MasterChef” recebem antes de, realmente, entrarem no programa. E parece piada pronta escrever o primeiro texto sobre o programa depois de três episódios seguidos. 

Na verdade, não entendi a correria dos episódios, com duração de quase duas horas cada, mas que teve a eficácia de separar os 18 participantes, ou o joio do trigo – aqueles que realmente sabem cozinhar do que os que apenas gostam. 

Mas acho perigoso, não considero ninguém, por mais renomado que seja, autoridade em julgar paladar. Cada um responde pelo seu. O que é ruim para mim, pode ser bom para os outros. No terceiro episódio, por exemplo, a chef argentina Paola Carosella elogiou um dos participantes que fez uma farofa de vísceras de frango... gente, que nojo!  Mas ainda estamos aqui para falar sobre o início de tudo, o episódio demasiadamente longo que foi separado em duas partes imensas em que os chefs distribuíram humilhações.

A versão brasileira do programa estreou sua segunda temporada com a promessa de grandes personagens. “Há dois tipos de comida: a boa e a ruim”, disse o chef francês Érick Jacquin. “Seja o melhor, ou volte para casa”, pontuou o tatuado Henrique Fogaça. “Parabéns, você fez o pior prato do dia”, condenou a chef argentina, numa das muitas frases desnecessárias do programa até então. Para procurar um novo talento culinário, em meio a tanta truculência, sobreviverá não o melhor, mas quem souber administrar de uma maneira menos traumática toda a sorte de assédio moral que irão receber ao longo deste programa. 

Mas o que me intriga é que se fosse um emprego de verdade, não um reality de televisão – e não estou considerando nem o prêmio em si – muitos dali teriam jogado a toalha ou, nesse caso, o avental e esfregado na cara de um desses cretinos que julgam e condenam sem a menor necessidade. Mas quem assiste não está ali por isso? O que está por trás de todo esse sadismo de ver pessoas, de todas as classes sociais, sendo humilhadas? Seria isso uma catarse coletiva? Ana Paula Padrão é, para mim, a personificação do sadismo. 

Totalmente desnecessário quando ela aborda alguém que está nervoso, com pressa... e o seu tom de voz entrega certa malícia, aparentemente quer mais é que o circo pegue fogo mesmo.

Em nome de R$ 150 mil em dinheiro, o valor de mil reais por mês durante um ano no cartão de uma rede de supermercados, um carro com capacidade de carga de 650 quilos para carregar tudo para um restaurante, um curso na Le Cordon Bleu, a mais prestigiada escola de gastronomia do mundo, em Paris e o troféu do programa, conhecido e prestigiado no mundo inteiro, os participantes enfrentarão, durante semanas de muita tensão, desafios e toda a sorte de humilhações até restar um por um.

Os gerente de projetos Fernando, de São Paulo, e o capoeirista baiano, Cristiano, como já foi mostrado numa espécie de sneak-peek do programa, prometem render barracos. Um prato cheio para um programa culinário em que a truculência e o sadismo de ver a comida feita pelos outros sendo debochada. Imaginei Rita Cadillac chorando – lembra que ela fazia isso na sexta edição de “A Fazenda”, quando falavam mal das comidas dela?

A blogueira e estudante Clara, a que fez hambúrguer mineiro, foi a primeira das grandes injustiças que serão cometida ao longo desses episódios. Quando a chef argentina questionou se ela trouxe o frango caipira vivo de Minas Gerais, convenhamos, uma pergunta imbecil, Clara teve uma reação automática: “não, tá doida?”. 

Depois destilaram uma série de injustiças – de que o prato serviria umas quatro pessoas, aonde, no restaurante deles que deve servir bem pouquinho? Eu comeria aquilo ali sozinho e, com certeza, iria querer mais. “Isso não é comida mineira”, disse a chef argentina. Aliás, quem é ela, uma estrangeira, para falar o que é, ou não, comida mineira? Só porque, teoricamente, tem um restaurante de sucesso em São Paulo?

Ao longo do programa eu imaginei o que se passa na mente das pessoas que se inscreveram e passaram ao longo dos testes, quando estão fazendo aquele caminho para apresentar o prato aos chefs. Nisso, a baiana Mima me provocou uma espécie de dejavu  - talvez as lágrimas dela durante todo o caminho e a execução do prato, o que tornou uma participante extremamente engraçada e carismática naqueles poucos minutos de tela, fossem as minhas. Outra perda irreparável, mas eles não estavam avaliando a comida? Por esse ponto, sim, ela não apresentou nada memorável.

Mas por outro lado, a história de Lane, a jogadora de voleibol adaptado foi mais levada em conta do que os seus dotes culinários. Ela, que foi elogiada pela própria apresentadora, Ana Paula Padrão, por não ter autopiedade de si mesma, só faltou esfregar na cara dos jurados que não tem uma das mãos. Será uma grande participante, sim, tem carisma o suficiente para levar o programa e angariar uma série de torcedores, também, mas foi muito menos cobrada do que outros que apresentaram pratos melhores e não ganharam o avental do programa.

Outra que se destacou foi Ariela, a filha de Oscar Maroni, que se destacou por ser... a filha do Oscar Maroni? Não achei nada demais, mas promete alguma coisa – ela mesma já afirmou que matava bois e propôs isso em uma prova para testar essa habilidade... bem maluquete. E a última participante, a gordinha Cássia, que afirmou que não gosta de nada. Dava para ver que, para ela, o peso da aprovação seria muito maior para qualquer outro, por, talvez, sempre ter sido nivelada por baixo, mesmo com tão pouca idade: 18 anos. Será que ela segura a onda, a pressão, e chefs insuportáveis sem meter a mão na cara de um deles? Acreditava, sinceramente, que sim... mas ela foi uma das primeiras eliminadas. 

Para o primeiro “MasterChef Brasil”, eles precisavam que alguém com imagem para tal. Não estou colocando nenhum demérito na vitória da primeira “MasterChef” brasileira (alguém tem notícias se algum brasileiro participou de uma edição internacional), Elisa Fernandes, que lançou até livro. Mas acredito que, desta vez, qualquer um possa ganhar, bonitos ou feios. Porque o primeiro vencedor é sempre o mais visado. Agora, a ideia deles é mostrar que todos podem vencer.

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