Segundo Oliveira, a crítica vinda da internet rompeu uma série de armaduras, como o estrangulamento do espaço, o rebaixamento do teto do grau de aprofundamento e da densidade da discussão dos filmes, e o rebaixamento dos voos dos grandes textos críticos. "A internet reinventou um espaço crítico que estava exaurido, pudemos escrever textos enormes de filmes que nem estavam em cartaz, nos livramos das efemérides, e mergulhamos nos cineastas com olhares renovados. Foi um desbravamento”. Mas adverte: “Isso tudo entre 1998 e 2008. Nos últimos anos, porém, estamos tentando e não estamos conseguindo entender o papel do crítico, e estamos falando mais ou menos a mesma coisa há cinco anos”, diz Oliveira.
Filipe Furtado, crítico que mediou o debate, completou: “A internet cumpriu uma função muito importante de dar espaço a um tipo de crítica de cinema que não existia mais nos anos 90 e 2000, abrindo caminho para muita gente”.
Já Rodolfo Strancki, que escreve na revista eletrônica “A Escotilha”, fez uma autocrítica: “Não sei se me considero um crítico de cinema”, e lamenta o fato da crítica atual apenas “reproduzir a lógica de mercado ao exibir uma formatação muito mais de resenha que propriamente de crítica, muito mais preocupada com aspectos de produção que com a imagem e o olhar estético”. E disparou: “A crítica jornalística na verdade não é crítica. O consumidor de internet está dentro da lógica do cinema comercial. Quem vai às cabines de imprensa não está preocupado com a formação do olhar, pois o círculo vicioso de produção e consumo cinematográfico pode gerar um círculo vicioso de crítica cinematográfica. Talvez eu me enquadre nesta categoria de resenhista”, concluiu.
Oliveira, por sua vez, lembrou que se pegarmos como exemplo a geração da "Revista Cinética", hoje todos em torno de 35 a 40 anos, verificam que pouquíssimos estão atualmente atuando na crítica, dando continuidade a um trabalho cotidiano. "Há muitas revistas de internet formada por jovens, mas as três grandes referências na mídia online hoje já estão na terceira idade: Inácio Araújo, Jean-Claude Bernardet e Eduardo Escorel”.
O representante internacional da Mesa, francês Ariel Schweitzer, esclareceu que o veículo que ele trabalha, a prestigiada "Cahiers du Cinema", não tem e nem terá versão online. Schweitzer cita o texto “Camera Stilo”, escrito pelo crítico de cinema francês Alexandre Astruc em 1948. No artigo, Astruc diz que a câmera 16 mm, novidade na época, criaria um novo estilo de cinema, libertando o cineasta da dependência econômica, e lhe permitindo a utilização da câmera como uma caneta, de forma completamente independente, como um escritor usa sua caneta. A comparação, de acordo com Schweitzer, tem relação com a mídia digital, onde todos podem ser críticos de cinema.
“O Cahiers tem uma espécie de medo de se confrontar com esta democratização. Temos medo de perder a autoridade, temos medo de ser confrontados, mas admito que para mim tudo isso é um grande desafio”, concluiu.
O objetivo do Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba foi promover reflexões sobre o cinema e formar novos olhares, por meio de um destaque dado a curtas e longas metragens pouco comuns nas salas de cinema brasileiras. Abrangendo várias expressões culturais, o festival busca uma seleção de filmes que se comuniquem entre si. A intenção é que a combinação de novos talentos, diretores veteranos, convidados prestigiados e o público presentes num mesmo lugar seja a alma do festival.
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