quarta-feira, 24 de junho de 2015

.: Entrevista com a escritora Débora Rubin, por Luiz Gomes Otero

"...não adianta só dizer “ler é bom, ler é importante, ler vai fazer você ser mais inteligente” porque isso é discurso vazio e chato",
Débora Rubin 

Por Luiz Gomes Otero
Em junho de 2015

Já diziam alguns autores que a vida imita a arte e vice-versa. Foi com esse conceito que a jornalista Débora Rubin decidiu escrever o romance "Eu Queria Ser Uma Mulher Normal", lançado no final de 2014 pela editora Saraiva, que vem obtendo críticas positivas e conquistando um segmento de leitores, em especial, do público feminino, que logo se identificam com a personagem Cecília e suas dúvidas sobre como ter uma vida normal nesse mundo louco e cada vez mais globalizado em que vivemos. Confiram a entrevista que a autora concedeu para o site Resenhando.


RESENHANDO - Como foi que surgiu o interesse e a oportunidade de investir no segmento literário?
DÉBORA RUBIN - Não foi planejado. Não acordei um dia e pensei: vou virar escritora! Na verdade, eu comecei a escrever uma história e achei que tinha cara de livro. Decidi continuar. Quando eu terminei, deixei na gaveta até ter coragem de mandar para uma amiga editora. Nesse intervalo de tempo, escrevi meu livro infantil, que acabou sendo lançado bem antes! Aconteceu, mas acho que era um processo natural. Eu já estava bem exausta de (só) fazer jornalismo...




RESENHANDO - Fale mais sobre essa obra infantil.
D. R. - “A Horta do Vovô Manduca” é meu xodó, meu amuleto. Porque foi o primeiro que publiquei, porque é sobre meu avô - minhas lembranças dele e da minha infância - e porque até hoje me põe em contato com o público mais fofo que existe. As crianças amam o vovô e o tratam com tanto carinho que sinto que meu vô está lá no céu todo feliz com isso.






RESENHANDO - O Livro "Eu Queria Ser Uma Mulher Normal" parece retratar cenas cotidianas muito próximas. De onde veio a inspiração?
D. R. - Das minhas vivências, das histórias que ouço desde pequena sobre minha bisavó, e de algumas histórias de amigas minhas (separações traumáticas sempre alimentam a ficção). Achei que ninguém ia gostar justamente por ser muito pessoal, mas o que mais recebo são mensagens de mulheres que dizem: “eu sou a Cecília! Como você sabia minha história?”. É como você falou, são as cenas cotidianas de todos nós, a tragicomédia da vida privada.

RESENHANDO - Apesar de toda a crise econômica, o segmento literário parece estar ganhando espaço, com novos nomes surgindo. Foi difícil ingressar nesse mercado?
D. R. - Difícil entrar não foi porque a minha sorte era ter conhecidos dentro de editoras, ou sejam, foi uma etapa a menos nesse processo. Difícil é seguir em frente. Tenho uns cinco livros engavetados. E é muito, mas muito mesmo, comum ouvir "nãos" em série - isso quando te respondem. A vantagem, hoje, é que existem outros caminhos: autopublicação, plataformas de crowdfunding, editoras pequenas e abertas ao novo, internet. Na pior das hipóteses, você cria um blog e alguém vai te ler. Mas, claro, todo mundo sonha em ver o livro no velho e bom formato: papel e tinta.

RESENHANDO - Quais são as suas referências na literatura?
D. R. - Minhas referências variam muito conforme o momento de vida, mas tendo a ler de tudo, de chick lit (gênero no qual meu livro está encaixado) aos clássicos. De poesia à biografia. Compro até livros desses caras que vendem de bar em bar, sabe? Gosto de saber o que se passa na cabeça das pessoas e a escrita de cada um revela muito sobre si. Os autores que mais me marcaram ao longo da vida foram essencialmente brasileiros: Érico Veríssimo, Guimarães Rosa, Zélia Gattai (amo!)... Nesse ano li muita coisa boa, como “O Filho Eterno”, do Cristovão Tezza, e Cinzas do Norte, do Milton Hatoum. Li também “Não Sou Uma Dessas”, da Lena Dunham, que definitivamente nunca quis ser uma mulher normal! Dei muita risada com ela.


RESENHANDO - Para você, o que poderia ser feito para incentivar a produção literária no País?
D. R. - Tem que começar lá no início, lendo para quem ainda não sabe ler. Mas não adianta só dizer “ler é bom, ler é importante, ler vai fazer você ser mais inteligente” porque isso é discurso vazio e chato. Fica parecendo obrigação. Eu cresci vendo minha mãe ler todas as noites e meu pai citar suas obras favoritas. Isso influencia muito. É preciso muita política pública (que não sejam apenas as robustas compras governamentais de livros paradidáticos) e empenho dos pais.

RESENHANDO - Há planos para uma continuação de seu romance ou você já pensa em escrever uma história diferente?
D. R. - Não sinto vontade de fazer isso, embora seja cobrada a fazê-lo (pelas leitoras, que sonham com um final feliz e tradicional para Cecília). Já tenho outro romance em andamento que é menos “engraçadinho”, um pouco mais dark, mas sem perder o humor. Chama-se “Glote”. Não sei se vão querer publicar. E nem se meus leitores vão querer ler porque é diferente da "Mulher Normal". Mas é o que me é possível fazer agora.


RESENHANDO - Afinal de contas, como é possível ser uma mulher normal?
D. R. - É possível? Acho que não! (risos). Brincadeiras à parte, acho que dá para fingir que você está na média, que você faz o que todo mundo faz. Enfim, jogar o jogo, incorporar o personagem. E isso vale para mulheres e homens. Se esse personagem não causa sofrimento, maravilha, vive-se muito bem na representação dessa normalidade. Mas se existe um "gap" (= lacuna) entre aquilo que se é e aquilo que você acha que tem que ser, aí entra o sofrimento. Eu "num" aguentei não! Nem a Cecília (risos).

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