terça-feira, 23 de junho de 2015

.: Como fazer uma campanha de crowdfunding bem sucedida

*Por Vinicius Maximiliano

O crowdfunding (que em tradução livre seria “financiamento pela multidão”), transformou-se em um movimento com dimensões exponenciais. No Brasil, o sucesso se refletiu nos sites de compras coletivas, os quais ultrapassaram a casa dos milhares em menos de seis meses de existência.

Com isso, o crowdfunding se tornou atrativo e uma chance para realizar um sonho, ajudar as pessoas concretizar projetos ou lançar produtos.  Pessoas ou empresas podem obter o sucesso esperado através desta alternativa, cada vez mais viável e aceita. Entretanto, há uma pergunta que muitos ainda fazem. Por onde começar? Como organizar uma campanha?

Uma característica comum a projetos bem sucedidos é a simplicidade com que a ideia do projeto é transmitida. Contudo, simplicidade não deve ser confundida com amadorismo. Ser simples, significa dizer claramente o que se pretende, quem vai fazer, como e quando. Por isso abuse da criatividade, pois as pessoas quando analisam um projeto, buscam aquilo que elas gostariam de fazer por si mesmas, mas o farão através da janela do seu projeto. Então seja simples, porém ousado.

Não se pode esquecer que o financiamento coletivo de um projeto é um negócio! Mesmo quando se trata de questões filantrópicas, o que se propõe a ser feito é uma gestão profissional de fundos para uma causa em si. Portanto, é fundamental incluir no orçamento assessoria especializada para essa estruturação. Em um projeto de tudo ou nada, economizar nisso pode ser definitivamente negativo. Inclua esses custos no projeto e estruture-o de forma profissional. Afinal, você está fazendo uma “oferta” que outros validarão e colocarão algum dinheiro nela.

Quanto mais transparente o idealizador da campanha for, mais confiança terão no projeto. Muitos sites já oferecem essa assessoria de lançamento e criação. Além disso, o ideal é procurar um advogado e um contador. Números e leis (mesmo as que ainda não existem!) fazem a diferença em um pais como o Brasil. Pode ser que você nem saiba e exista algum benefício fiscal para quem doar fundos a um tipo específico de projeto, o que aumenta as chances de sucesso.

As pessoas estão cansadas de conviverem com “inatingíveis”. Financiadores de projetos coletivos buscam proximidade, facilidade de contato e possibilidade de opiniões. Ninguém quer um cara ou uma garota com quem sequer conseguem identificar ou que nunca responde e-mails de elogio ou crítica. O conceito de coletivo, ainda mais no Brasil onde somos naturalmente mais sociáveis, assume contornos quase que pessoais. Portanto, esteja preparado para interagir, e muito, com seus financiadores.

Credibilidade é tudo no mundo virtual. Em financiamento coletivo então, é 100% essencial escolher bem. “Diga-me sua plataforma e lhe darei um like!”. Bem por ai. Afinal, sites ou plataformas que não possuem o público alvo ideal para o seu projeto, simplesmente poderão frustrar suas expectativas.  Para isso é necessário pesquisar, conversar com os sites, com as plataformas, fazer levantamentos, verificar a credibilidade social da plataforma. Se o site é um veículo praticamente obrigatório, então tem que buscar o melhor modelo e o mais atualizado.

Algumas campanhas são bem longas, chegam a durar 60 dias. Haja material e motivação para todo esse tempo. Imagine o financiador que fez a doação no primeiro dia, todo empolgado com seu projeto. Ao final de 55 dias, por exemplo, ele muitas vezes nem vai lembrar que ajudou. A fatura do cartão de credito já vai ter sido paga 30 dias antes. Assim, é preciso usar a criatividade e manter seu público ativo, envolvido. As pessoas querem saber o que está acontecendo, a evolução, números alcançados. Se a campanha não estiver indo tão bem, o ideal é pedir ajuda. Conclame as pessoas a se movimentarem para alcançar o objetivo. Faça novos vídeos, mostre números, resultados, produtos em andamento. Enfim, apareça, mesmo durante a campanha! Quem só dá as caras no lançamento, dificilmente vai terminar com o total financiado.

Ter um cronograma claro, estruturado e organizado de todo o desenvolvimento do projeto é importante. Afinal, quem financia, quer acreditar que tudo será feito da forma como foi proposto. Uma dica é aplicar algumas regras e conceitos de Project Management (voltamos a figura da assessoria) para mostrar ao público que existe uma linha de ação para cada passo do projeto. E isso nada tem a ver com o tamanho da arrecadação. Tem relação direta com profissionalismo no trato do dinheiro de terceiros e que confiam em você.

Caso o projeto tenha como foco um novo produto, maravilha! Mas é preciso ter algo para mostrar. Quem vem pra rede buscando vender somente uma ideia, pode se queimar no mercado brasileiro. Nossa cultura é bem diferente da norte americana ou inglesa, onde as pessoas são educadas desde cedo para um conceito de “risco de investimento” em ideias. Aqui, somos naturalmente conservadores, desconfiados e céticos. Existe todo um pano de fundo econômico por trás disso, mas o importante é perceber que, se o seu financiador não perceber algo “palpável” ele vai relutar para financiar seu projeto do que se você tivesse pelo menos um protótipo, por mais amador que seja.

Querendo ou não, crowdfunding e financiamento coletivo é um novo e bonito nome para falarmos de investimento. Afinal, as pessoas se identificam com a causa ou projeto, e entregam o dinheiro para que o idealizador possa utilizá-lo. Agradeça, se possível diretamente, a cada doador. Não estou falando do e-mail automático dos sites. Estou falando de algo pessoal, único, diferente. As pessoas estão cofiando em você, não interessa quanto doaram ou qual o tamanho do seu projeto. E confiança não se compra: se adquire e se agradece.

Um erro comum é vermos projetos desenhados e estruturados para os “conhecidos” – amigos, familiares, parentes, colegas de trabalho – ou seja, aquelas pessoas que tendem a nos apoiar independente da solidez da ideia. É natural. Por isso, os projetos têm de ser sempre desenhados “para fora”, ou seja, para pessoas que nunca viram você na vida, não sabem nada sobre você e que terão que acreditar e confiar no que está falando em um vídeo de três minutos. Portanto, crie projetos para fora, nunca para dentro. Salvo se sua família e amigos, sozinhos, conseguirem financiar tudo... ai é bem diferente!

Toda forma de ganhar dinheiro e atuar na sociedade é válida. Porém, há algumas pessoas com muita gana nos valores a serem arrecadados. O projeto e a arrecadação têm que ser suficientes para sua realização, não para tornar seu criador rico ou pagar as contas atrasadas dele. O cuidado precisa ser ainda maior quando falamos de campanhas parciais, ou seja, aquelas em que o idealizador, mesmo que não atinja o total pleiteado, vai levar as doações com ele. Se for esse o seu caso, não esqueça que um projeto com custos mal equacionados pode simplesmente ser inviável se não atingir a meta de financiamento... e todos os que apostaram na ideia podem ficar muito decepcionados com sua postura caso não entregue o prometido, com muito menos dinheiro.

*Este artigo é parte integrante do e-book Vinicius Maximiliano Carneiro “Dinheiro na Multidão” – Oportunidades x Burocracia no Crowdfunding Nacional. A obra tem como missão ser a primeira do segmento no país, destacando-se pela objetividade, pelos detalhes práticos e pela análise concisa de uma inovação financeiramente incomparável. Para ler na integra, acesse http://viniciuscarneiro.adv.br/.  Quem se cadastrar no site, gratuitamente, receberá informações sobre o mercado de crowdfunding e conferir vídeos explicando todo o funcionamento burocrático de uma transação de crowdfunding.

*Sobre Vinicius Maximiliano Carneiro
O autor é advogado corporativo, gestor contábil e financista. Possui MBA em Direito Empresarial pela FGV. É Especialista em Direito Eletrônico pela PUC/MG, atuou como advogado de Propriedade Intelectual no Brasil para a Motion Picture Association (MPA), Associação de Defesa da Propriedade Intelectual (ADEPI) e também para a União Brasileira de Video (UBV). 

Em seguida, foi gestor de projetos especiais na Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES) - e Business Software Alliance (BSA). Também ocupou lugar na Comissão de Mercado de Capitais e Governança Corporativa da OAB/SP. Idealizador do projeto vencedor do Prêmio Sesi-Senai Inovação 2010 sustentável “Dinheiro Verde”. O Blog "No País da Fiscalização", de autoria do advogado, é focado no mercado de financiamento coletivo nacional. 

Empreendedor serial, é diretor executivo da Etecon Contabilidade, diretor financeiro da Mhydas Fomento Mercantil e presidente no Brasil da Mhydas North America. Apaixonado por Internet, novos mercados e Economia Digital, agora Vinicius se lança no mercado editorial com a obra “Dinheiro na Multidão” –Oportunidades x Burocracia no Crowdfunding Nacional.  O livro, on line, está disponível no site http://viniciuscarneiro.adv.br/ .  Desde dezembro até fevereiro, foram feitos mais de 2 mil downloads da obra. No portal é possível também conferir vídeos e artigos do autor.

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