“Numa sociedade em que as imagens de choque
se proliferam, torna-se mais fácil e eficiente discutir algo atraindo o
expectador e não lhe causando repulsa”,
Sergio
Ranalli
Por Helder Miranda
Em maio de 2015
O foto jornalista Sergio Ranalli produziu
uma série fotográfica muito interessante: "Árvores". São 50 imagens
aérea feitas em vários cantos do Brasil , retratando árvores sobreviventes à
ação do tempo e do homem. As imagens, extremamente poéticas, levantam a questão
sobre até onde o ser humano será capaz de ir para explorar os recursos
naturais. Mais sobre a exposição clicando neste link.
As fotos foram "adotadas" por uma
fotogaleria de São Paulo, a Mirafoto, e atualmente são consideradas obras de
arte no mercado de fotografia autoral. Entre os mais respeitados
fotojornalistas brasileiros, Sergio Ranalli, conta que “Árvores” começou a ser
produzida em 2008, quando o fotojornalista saiu pelo Brasil retratando as
transformações do solo em diversas cidades brasileiras para reportagens.
Ranalli viajou pelos estados de Mato Grosso
do Sul, Paraná, Santa Cataria, Rondônia, Amazonas e Rio Grande do Norte
registrando a solidão de árvores que resistiram ao poder econômico de terras
férteis e promissoras.
No início, ele não enxergou as fotos como
uma série, mas sua percepção mudou com o tempo. “Quando fui rever estas imagens, percebi que elas dialogavam
visualmente e tinham uma linguagem suave, delicada, diferente de tantas fotos
de catástrofes que vemos. Esse olhar teve um impacto positivo sobre as pessoas,
que se intrigaram muito”.
Além da beleza poética, o fotógrafo ainda
admite o papel de conscientização que a série acabou ganhando. “Enquanto elas gastam mais tempo para
observar as árvores e a composição da fotografia, mais elas refletem sobre o
verdadeiro problema que estamos enfrentando, incluindo a escassez de alimentos”,
afirma o fotógrafo.
O projeto começou a ganhar forças em 2014,
quando Sergio Ranalli enviou algumas imagens da série para Rosana De Conti e
Soraya Montanheiro, da galeria de fotografia Mirafoto. “Elas enxergaram um potencial nessa linguagem fotográfica e prepararam
o material para venda. A resposta foi imediata e já estamos pensando em uma
exposição para este ano”. A resposta do público tem sido tão positiva que o
trabalho deverá ganhar uma exposição própria ainda este ano.
RESENHANDO
- Como surgiu a ideia de fotografar árvores que sobreviveram ao tempo e à ação
do homem?
SERGIO
RANALLI -
O projeto surgiu de forma despretensiosa em 2008 enquanto sobrevoava a região
do município de Manicoré, no Amazonas. Estava fotografando nas proximidades do
leito do Rio Madeira, quando me deparei com umas das cenas aéreas mais
interessantes que tive a oportunidade de fotografar: era uma castanheira caída
em meio a uma área coberta por vegetação rasteira. O mato não encobriu a
árvore, que já devia estar ali por meses; Essa combinação fez a cena parecer
uma grande fóssil de arvore em meio à Amazônia.
RESENHANDO
- Com que objetivo resolveu retratar as árvores?
S. R.
-
O simbolismo da imagem despertou a necessidade de discutir as questões
ambientais de uma forma mais lúdica e poética. Tendo como ponto de partida a
leveza, suavidade, beleza das linhas, cores e formas que as fotos aéreas
proporcionam. Numa sociedade em que as imagens de choque se proliferam,
torna-se mais fácil e eficiente discutir algo atraindo o expectador e não lhe
causando repulsa. Entretanto a discussão não visa somente abordar o
desmatamento, mais também atentarmos a crescente necessidade de produção de
alimentos e biocombustíveis, da eficiência do cuidado com o solo a fim de
ganhar em produtividade e evitar a abertura de novas fronteiras agrícolas e da
recuperação de áreas degradadas.
RESENHANDO
- Considera estas fotografias como um recado da natureza ao homem?
S. R.
-
Certamente é um importante aviso que elas dão ao homem. Acredito são um ponto
de partida para uma discussão mais ampla, que vão além das questões ambientais.
RESENHANDO
- Com isso, o que as árvores têm a dizer?
S. R.
- As
arvores captadas nessas imagens falam sobre força, perseverança, resiliência,
solidão, beleza, desmatamento, produção de alimentos, importância do campo
nesse grande celeiro mundial que somos. Enfim,
é um espectro tão grande quanto a imaginação e interpretação dos
espectadores.
RESENHANDO
- Como a fotografia entrou em sua vida?
S. R.
-
A fotografia entrou em minha vida quando tinha quando tinha apenas 17 anos, ao
acaso. Fui acompanhar uma amiga num desses cursos rápidos de fotografia, ela
iria montar uma loja de relação em uma hora e precisava conhecer um pouco mais
do assunto. Nas primeiras horas do curso já tinha decidido que faria isso para
o resto de minha vida. Foi um encontro, é uma paixão.
RESENHANDO
- O que a fotografia representa para você?
S. R.
- É
a minha vida, é tudo, é forma que encontrei de dialogar com o mundo.
RESENHANDO
- De qual trabalho você se orgulha mais?
S. R.
- Têm
alguns trabalhos pelos quais tenho enorme carinho. As populações ribeirinhas na
Amazônia, o dia a dia que uma tribo no Xingu e as incursões no Haiti.
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