terça-feira, 5 de maio de 2015

.: Entrevista com Sergio Ranalli, fotógrafo da série "Árvores"

“Numa sociedade em que as imagens de choque se proliferam, torna-se mais fácil e eficiente discutir algo atraindo o expectador e não lhe causando repulsa”,
Sergio Ranalli


Por Helder Miranda
Em maio de 2015


O foto jornalista Sergio Ranalli produziu uma série fotográfica muito interessante: "Árvores". São 50 imagens aérea feitas em vários cantos do Brasil , retratando árvores sobreviventes à ação do tempo e do homem. As imagens, extremamente poéticas, levantam a questão sobre até onde o ser humano será capaz de ir para explorar os recursos naturais. Mais sobre a exposição clicando neste link.

As fotos foram "adotadas" por uma fotogaleria de São Paulo, a Mirafoto, e atualmente são consideradas obras de arte no mercado de fotografia autoral. Entre os mais respeitados fotojornalistas brasileiros, Sergio Ranalli, conta que “Árvores” começou a ser produzida em 2008, quando o fotojornalista saiu pelo Brasil retratando as transformações do solo em diversas cidades brasileiras para reportagens. 

Ranalli viajou pelos estados de Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Cataria, Rondônia, Amazonas e Rio Grande do Norte registrando a solidão de árvores que resistiram ao poder econômico de terras férteis e promissoras.

No início, ele não enxergou as fotos como uma série, mas sua percepção mudou com o tempo. “Quando fui rever estas imagens, percebi que elas dialogavam visualmente e tinham uma linguagem suave, delicada, diferente de tantas fotos de catástrofes que vemos. Esse olhar teve um impacto positivo sobre as pessoas, que se intrigaram muito”.

Além da beleza poética, o fotógrafo ainda admite o papel de conscientização que a série acabou ganhando. “Enquanto elas gastam mais tempo para observar as árvores e a composição da fotografia, mais elas refletem sobre o verdadeiro problema que estamos enfrentando, incluindo a escassez de alimentos”, afirma o fotógrafo.

O projeto começou a ganhar forças em 2014, quando Sergio Ranalli enviou algumas imagens da série para Rosana De Conti e Soraya Montanheiro, da galeria de fotografia Mirafoto. “Elas enxergaram um potencial nessa linguagem fotográfica e prepararam o material para venda. A resposta foi imediata e já estamos pensando em uma exposição para este ano”. A resposta do público tem sido tão positiva que o trabalho deverá ganhar uma exposição própria ainda este ano.


RESENHANDO - Como surgiu a ideia de fotografar árvores que sobreviveram ao tempo e à ação do homem?
SERGIO RANALLI - O projeto surgiu de forma despretensiosa em 2008 enquanto sobrevoava a região do município de Manicoré, no Amazonas. Estava fotografando nas proximidades do leito do Rio Madeira, quando me deparei com umas das cenas aéreas mais interessantes que tive a oportunidade de fotografar: era uma castanheira caída em meio a uma área coberta por vegetação rasteira. O mato não encobriu a árvore, que já devia estar ali por meses; Essa combinação fez a cena parecer uma grande fóssil de arvore em meio à Amazônia.


RESENHANDO - Com que objetivo resolveu retratar as árvores?
S. R. - O simbolismo da imagem despertou a necessidade de discutir as questões ambientais de uma forma mais lúdica e poética. Tendo como ponto de partida a leveza, suavidade, beleza das linhas, cores e formas que as fotos aéreas proporcionam. Numa sociedade em que as imagens de choque se proliferam, torna-se mais fácil e eficiente discutir algo atraindo o expectador e não lhe causando repulsa. Entretanto a discussão não visa somente abordar o desmatamento, mais também atentarmos a crescente necessidade de produção de alimentos e biocombustíveis, da eficiência do cuidado com o solo a fim de ganhar em produtividade e evitar a abertura de novas fronteiras agrícolas e da recuperação de áreas degradadas.


RESENHANDO - Considera estas fotografias como um recado da natureza ao homem?
S. R. - Certamente é um importante aviso que elas dão ao homem. Acredito são um ponto de partida para uma discussão mais ampla, que vão além das questões ambientais.


RESENHANDO - Com isso, o que as árvores têm a dizer?
S. R. - As arvores captadas nessas imagens falam sobre força, perseverança, resiliência, solidão, beleza, desmatamento, produção de alimentos, importância do campo nesse grande celeiro mundial que somos. Enfim,  é um espectro tão grande quanto a imaginação e interpretação dos espectadores.


RESENHANDO - Como a fotografia entrou em sua vida?
S. R. - A fotografia entrou em minha vida quando tinha quando tinha apenas 17 anos, ao acaso. Fui acompanhar uma amiga num desses cursos rápidos de fotografia, ela iria montar uma loja de relação em uma hora e precisava conhecer um pouco mais do assunto. Nas primeiras horas do curso já tinha decidido que faria isso para o resto de minha vida. Foi um encontro, é uma paixão.


RESENHANDO - O que a fotografia representa para você?
S. R. - É a minha vida, é tudo, é forma que encontrei de dialogar com o mundo.


RESENHANDO - De qual trabalho você se orgulha mais?
S. R. - Têm alguns trabalhos pelos quais tenho enorme carinho. As populações ribeirinhas na Amazônia, o dia a dia que uma tribo no Xingu e as incursões no Haiti.

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