segunda-feira, 11 de maio de 2015

.: Entrevista com Fabiana Cozza, cantora

"Penso sempre na responsabilidade e no prazer que é fazer Música e Arte num mundo que não escuta mais, não se entende mais, não se respeita mais".
Fabiana Cozza


Por Helder Miranda
e André Azenha

Em maio de 2015

Considerada pela crítica e pelo público uma das mais importantes intérpretes da música brasileira contemporânea, a paulistana Fabiana Cozza é vencedora do Prêmio da Música Brasileira 2012 – Melhor Cantora de Samba.

Ela atuou em musicais com temática brasileira no início da vida artística, aprimorando sua expressão cênica e interpretação, qualidades que saltam aos olhos de qualquer expectador.

Sonoridades africanas
Do Brasil com a janela aberta para o mundo. Assim é o sentimento e a sonoridade de “Partir”, quinto disco de Fabiana. A produção das 14 faixas é assinada pelo violonista Swami Jr. e as composições são predominantemente de autores da geração de Cozza: é o caso dos cariocas João Cavalcanti Moyseis Marques e Vidal Assis, entre outros.  

A inspiração de Fabiana para este “partir” é a Bahia, solo onde aportaram os primeiros navios negreiros no Brasil. "Minha procura começa na Bahia e segue para outras Áfricas – Cabo Verde, Congo, Angola. É um disco que busca a diáspora africana no mundo. Sugere onde somos iguais em nossas diferenças", explica.



Sobre Fabiana Cozza
No currículo, a experiência de cantar ao lado de nomes respeitados como Elza Soares, Leny Andrade, João Bosco, Zimbo Trio, Francis Hime, Ivan Lins, Leci Brandão, Dona Ivone Lara, Luiz Melodia e Orquestra Jazz Sinfônica.

E também talentos jovens e de sua geração como Emicida, Rappin Hood, Aloisio Menezes, Sergio Pererê, Karynna Spinelli, Thiago Delegado, Antônio Loureiro, Yaniel Matos, Adriana Moreira, Luciana Alves, Renato Braz, Quinteto em Branco e Preto entre tantos outros.

No exterior, tem sido convidada por grandes personalidades do jazz internacional como o saxofonista Sadao Watanabe (Japão) e se apresentado em diferentes países e festivais do gênero em: Israel, Alemanha, França, Canadá, EUA, Bulgária, Chile.

Fabiana Cozza tem quatro CDs lançados e dois DVDs. Em 2004, fez sua estreia com “O Samba É Meu Dom” cujo título do CD é uma música de Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro.

Em 2007, lançou “Quando o Céu Clarear”, título de uma canção de Roque Ferreira para, no ano seguinte, fazer o DVD deste trabalho contando com as participações da cantora Maria Rita e do rapper Rappin Hood. O DVD foi lançado em parceria com a TV Cultura e apresentou um documentário contando a trajetória da artista, sua relação com a música, suas influências e as pessoas que participam de sua estrada.

Em 2011, lançou o terceiro CD, “Fabiana Cozza”, com o qual é agraciada com o Prêmio da Música Brasileira 2012, na categoria “Melhor Cantora de Samba”. Em 2013, lançou o CD/DVD “Canto Sagrado – Uma homenagem a Clara Nunes”, gravado ao vivo em São Paulo, que conta com um documentário realizado em Caetanópolis/MG, cidade natal da cantora.

RESENHANDO - Como é ser considerada uma das principais intérpretes da música contemporânea?
FABIANA COZZA - Penso sempre na responsabilidade e no prazer que é fazer Música e Arte num mundo que não escuta mais, não se entende mais, não se respeita mais. É nisso e é este o meu compromisso.


RESENHANDO - O que a música representa para você?
F. C. - A música é a forma pela qual me relaciono e me expresso com as pessoas e com o universo.



RESENHANDO - Sua trajetória artística inclui teatro, dança e música. O que essa mistura pode dizer a respeito de você e sua arte?
F. C. - Não compactuo da ideia excludente de arte. Ou você é cantor, ou ator, ou... acredito que as linguagens são complementares, interdisciplinares e tudo isso pode lhe ajudar a construir um lindo caminho artístico, uma trajetória que diga da sua verdade.


RESENHANDO - Ser a Melhor Cantora de Samba do Prêmio da Música Brasileira em 2012 interferiu, de alguma maneira, nos rumos de sua carreira?
F. C. - Fiquei feliz com o prêmio e segui focada no meu aprimoramento, no meu trabalho, nas parcerias e novos caminhos que a arte tem me presenteado.



RESENHANDO - O quinto disco de sua carreira tem o nome de “Partir”. Por que este nome?
F. C. - Porque literalmente é uma partida para novas descobertas, novas sonoridades, um repertório novo, portos novos, muitas vozes de mim que se manifestam a partir daqui.


RESENHANDO - Você vê semelhanças entre a sonoridade da Bahia e de outras Áfricas, como Cabo Verde, Congo, Angola?
F. C. - Muitas. Somos todos descendentes da África e nos criamos e delineamos de forma diferente, de acordo com a cultura e a geografia de cada lugar. Mas todos nós com a mesma matriz.



RESENHANDO - Você acredita que a música pode minimizar as diferenças e ser um ponto em comum entre as pessoas?
F. C. - Acho, sim, que a música aproxima as pessoas, a música apresenta as pessoas que podem ou não estabelecer parcerias. Não acho que ela é a "salvadora" de uma questão bastante profunda que é a desigualdade social.


RESENHANDO - Você já cantou com nomes respeitados da música. Qual parceria ficou na memória? 
F. C. - Todas foram muito especiais. Mas guardo com muito carinho o meu encontro com Dona Ivone Lara, com o Zimbo Trio, a Elza Soares, a Leny Andrade, a Banda Mantiqueira, o maestro Gilson Peranzzetta, Wilson Moreira, Nei Lopes e o João Bosco.


RESENHANDO - Em 2013, você lançou um CD em homenagem à Clara Nunes. O que ela contribuiu para música brasileira?
F. C. - Clara foi uma luz importante pra cultura do país. Emprestou muito de sua brasilidade à música e colocou um refletor sobre a tradição e a cultura negra, apresentou compositores e músicos fabulosos, chamou a atenção para a questão afro-religiosa com muito respeito. 

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