quarta-feira, 13 de maio de 2015

.: “Carminha" virou "Nina” na nova "Babilônia", por André Araújo

Por André Araújo
Em maio de 2015

Em 16 de março último, parte do Brasil parou para assistir à estréia daquela que seria a “novela do ano”,”Babilônia”,o que costumava ser noticiado nos anos 1980/1990 quando Gilberto Braga era anunciado como autor de alguma “telelágrima” (era assim que as telenovelas eram chamadas antigamente!) prestes a estrear. De fato, a expectativa era enorme, uma vez que todas as novelas do escritor mais glamouroso do país carregavam consigo a marca do sucesso, principalmente à partir de  “Dancing Days”(1978) que  arrebatou todos os públicos da época,sendo lembrada até hoje como a novela mais popular da reta final dos anos 1970.


Mas se o capítulo de estréia de “Babilônia” animou os fãs do autor Gilberto Braga,os falsos moralistas não perderam tempo e  já antes do final do capítulo de estreia, recorreram às redes sociais para expressar seu desagrado com a trama “imoral” e “grotesca” que exibiu um beijo “homossexual” entre duas “vovós”,como se a novela tivesse exibido somente isso. E são falsos moralistas mesmo, pois antigamente, nem mesmo televisão alguns religiosos (?) poderiam manter em casa, pois o tal  aparelho doméstico era visto como “coisa do Demo”.


Em se tratando de apresentação da história e ritmo,”Babilônia” em nada deixou a desejar; pelo contrário, todo mundo que viu a estreia da novela, desligou a TV ao fim do capítulo já ansioso pelo episódio seguinte...E foi no segundo capítulo de “Babilônia” que o autor Gilberto Braga jogou por terra tudo que se viu na estréia. Exatamente ali, no segundo dia, a trama ágil começou a se perder...E se perdeu mesmo!


“Vaiada” pelo público,e despencando cada vez mais na audiência,”Babilônia” foi bombardeada por todos e, desde então, tem sofrido mudanças drásticas e em nada lembra o que se noticiou antes de sua estréia ou que se leu nas revistas especializadas. A “nova e eletrizante” super novela das 9 não tinha nada de top. E com isso, tudo começou a mudar, uma vez que a audiência só caía. Infelizmente, parece que é regra na Rede Globo não noticiar a verdade quando algo assim acontece.


“Em Família”,do Manoel Carlos, e (Graças a Deus!) a última “Helena” e última novela do autor, fracassou do começo ao fim,(tendo inclusive seu desfecho antecipado em quase sessenta capítulos),mas durante todo o período em que foi exibida,o que se lia da assessoria da emissora sobre a mesma era: “Está tudo bem. As alterações estavam previstas desde a sinopse”. De bolar de rir. O mesmo que lemos hoje quando alguém da produção de “Babilônia” se manifesta para falar sobre a  terrível crise que, segundo todos,”não existe”.O próprio Ricardo Linhares,que escreve a história ao lado de João Ximenes Braga, comandados por Gilberto Braga, manifestou-se dizendo que não houve mudança nenhuma. "O que está acontecendo estava previsto na sinopse,mas foi antecipado pra criar mais tensão entre Beatriz e Inês”


Mesma coisa que Gilberto Braga disse quando o público (até então fiel a ele),virou as costas para “O Dono do Mundo”, mais uma de suas tramas que seria “a novela do ano 1991”, o que não aconteceu.”O Dono do Mundo” não foi um "fracassão", mas  o que vimos na telinha não foi o que Gilberto Braga escreveu na sinopse. Além de alterar toda a estrutura da novela, a protagonista “Márcia”(Malu Mader), perdeu o posto para “Stella” (Glória Pires), e novos personagens e tramas  foram inseridos na história com o propósito de salvar a novela do desastre total.Ainda assim,a novela permaneceu no ar com aquele cheiro de feijão queimado;ou melhor,”escargot” em mesa de pobre.


Mas em “Babilônia”, talvez o erro não esteja exatamente na enxurrada de maldades gratuitas, eterna marca de Gilberto Braga,ou no excesso de tramas consideradas “imorais”,como “tara” sexual, relações homossexuais ou falta de escrúpulos; provavelmente, seja mesmo a falta de uma consistente história de amor o mote central de todo folhetim e um vilão asqueroso, até engraçado, disposto a separar o principal casal romântico da história em todos os capítulos.


Nessa novela, não há por quem torcer. A falta de carisma da atriz Camila Pitanga e a apatia do ator Thiago Fragoso não convencem como par romântico principal. Além disso, todas as armações criadas pelos autores para que o casal se separe e o público passe a torcer por eles já foi usada antes. E pelo mesmo Gilberto Braga; ou seja, é a velha mesmice que todo mundo já está cansado de ver. Sem contar o pior: não há química entre o casal que, afinal, deveria ser “rebaixado” e “fixado” no núcleo de coadjuvantes “importantes”, pois a história dos dois, juntos ou separados, tem esse perfil. 


E mesmo menos discursiva, a protagonista “Regina” tornou-se a personagem mais chata de toda a trama.que já era desde o início. Mais insossa, não existe, nem mesmo o Marcos Palmeira,que se supera na “canastrice” a cada vez que aparece e abre a boca.E as mudanças (“que mudanças?”,perguntaria Gilberto Braga) estão aí,para todo mundo que tem acompanhado a novela,ver. E quem não acompanhou e decidir dar uma olhadinha, vai “estranhar” a o burburinho que se fez sobre a história, que pouco lembra o que se viu no começo.


“Alice” (Sophie Charlotte),que entraria no mundo da prostituição (e amaria o “trabalho”), vai acabar se desidratando de tanto chorar. De filha submissa, tornou-se uma espécie de “gata borralheira” e, até onde já se sabe, não vai mais disputar o amor e a fortuna do milionário “Evandro”(Cássio Gabus Mendes) com “Inês” (Ou seria “Carminha”?),como previsto na sinopse original. A rivalidade entre mãe e filha seria uma terrível briga de foice, fazendo a vilã levar a melhor, claro, mesmo porque, qual o objetivo de a personagem de Adriana Esteves senão levar tudo que pertencia à “Beatriz”(Glória Pires), tal qual fez “Laura”(Cláudia Abreu) com “Maria Clara Diniz”(Malu Mader), em “Celebridade”(2003), do mesmo Gilberto Braga? 


E como ficam mesmo as personagens “Teresa” (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathalia Timberg),”responsáveis” pelo repudio à novela e o novo casal gay da trama,”Carlos Alberto”(Marcos Pasquim) e “Ivan”(Marcello Melo)?...As cenas onde o casal lésbico troca qualquer espécie de carinho explícito,desapareceu; aliás, até surgiu do nada a morte do filho da advogada, o ”Lauro” (Dennis Carvalho), com o pretexto de tirarem o casal do ar por algum tempo, uma vez que ambas levam o corpo do falecido à Itália,onde decidem ficar por alguns dias,digo,capítulos. 


E segundo vazou, quando voltam, o casal  entra em atrito por conta de “Beatriz”, que será acusada por Teresa, já que a grande vilã da novela tentou matar “Inês” depois que esta publicou na Internet o vídeo da filha de “Estela” no maior amasso com o pai de “Regina,”Cristóvão”(Val Perré),dando aí o pontapé inicial para que o motorista de “Evandro” acabasse assassinado pela vilã, hoje “ex-ninfomaníaca”.Quanto ao possível casal “Carlos Alberto” e “Ivan”,divulgam na rede que eles não serão mais um casal e que os capítulos onde existe a “nuance” de um possível romance,foram totalmente reescritos. É...Isso vai ficar tão estranho...Quem sabe nessa novela,que ficou totalmente desfiguarada, não aparece a primeira cura gay? Do jeito que a coisa vai... Eu não duvido mais de nada!


E o que está por vir está bem claro: “Inês” deve se tornar uma espécie de “justiceira” (“Carminha" virou "Nina”?) e “Beatriz” fará de tudo para acabar com a mãe de “Alice”,num eterno duelo entre cobras muito venenosas.


E a protagonista “Regina”,como deve ficar em meio a tudo isso? Bem,pelo andar da carruagem, seu lugar é na praia mesmo, vendendo seus sanduíches e falando sobre o tempo. Ou enfiar sua viola sua saco e mudar de ponto. Essa mocinha chata e  discursiva, acreditem, não agradou mesmo. Ainda que  ela se transforme na mais injustiçadas de todas as heroínas que Gilberto Braga criou, nem mesmo sofrendo mais que a “Escrava Isaura” (Lucélia Santos), vai conseguir a simpatia do público.Mas quem sabe? Telenovela é uma obra aberta...E o controle remoto é quem diz aonde vamos.


As “reviravoltas” na novela são evidentes, mas os autores vão conclui-la dizendo que deu tudo certo, que foi maravilhosa e que a história será para sempre inesquecível.Talvez seja mesmo inesquecível, mas como aquela novela “que foi sem nunca ter sido”.A não ser no capítulo de estreia,que arrasou mesmo e nunca vamos nos esquecer do que vimos ali.De lá para cá,o que se tem visto ali é um samba de crioulo doido. Quem xingava agora fala palavras doces, e quem chorava agora ri.


Enfim,a “nova” “Babilônia” pode até agradar, mas nunca vamos saber o que de fato a novela teria nos mostrado se não fosse a “tesoura” dos mais conservadores(?) e,claro, dos falso moralistas.

***

André Araújo é um apaixonado por novelas. Tanto que ele escreve algumas por aí e publica pela internet, arrebatando fãs e distribuindo inspiração. Da cabeça dele já saíram grandes personagens. Entre as novelas virtuais, é autor de "Uma Vez Na Vida! e "Flor de Cera", que será lançada em breve e tem até grupo no Facebook - neste link.

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