sexta-feira, 8 de maio de 2015

.: Os “Amores Urbanos” de Renato De Lone - uma crítica

Por Helder Miranda
Em maio de 2015

A arte se apresentou ao artista plástico Renato De Lone quando ele tinha cinco anos. Foi quando ele pintou um crocodilo, ou talvez um jacaré, em uma das paredes de sua casa e foi repreendido pela mãe. A partir daí percebeu que a arte percorre caminhos tortuosos, arriscados e é passível de crítica e desaprovação.


Esse mesmo crocodilo, ou jacaré, ou ainda uma réplica deste desenho, pode ser vista até este sábado, dia 9 de maio, no Espaço Vip da Galeria de Arte Braz Cubas. E tudo o que está lá é de uma beleza que comove os olhos mais desavisados. Aliás, se algo eu aprendi nesta última semana, quando me atrevi a mergulhar no controverso e alucinante mundo das artes plásticas, é que esta arte está disponível e não faz distinção entre leigos e conhecedores. As artes plásticas querem ser vistas por todos os olhos, dos mais atentos aos detalhes até aqueles que olham por olhar, mas não vêem. E quer ser acessível a todos, sem aquele ranço dado às artes gráficas. 


"Amores Urbanos", de Renato De Lone, tem um significado especial. Ele andou declarando que a exposição significa representa a retomada de seu trabalho como artista visual depois de trabalhar 14 anos como publicitário. Eu, particularmente, que tive a sorte, e o prazer de trabalhar com ele em dois projetos de livro, mais efetivamente, ou afetivamente, no livro "Almanaque Social", um relato do colunismo social assinado pela colunista Clara Monforte, vejo nisto algo especial que me faz acreditar um pouco mais no mundo. 

Porque a  notícia importante é que o publicitário não engoliu o artista, mesmo em um mundo tão mercadológico quanto o que vivemos. Mesmo ele se dedicando a projetos gráficos, edições, revistas, festivais de arte: o artista só estava adormecido, mas, mesmo assim, havia em cada criação dele, algo de diferente, de inusitado. Como nesta exposição.


“Amores Urbanos” resgata a relação entre De Lone, a pessoa física, e a pintura. Ele tem a liberdade do usar as tintas em uma tela umedecida, usando a técnica da aquarela. E o que se pode ver são grafismos de traço irregular pretos e definidos. Manchas irregulares formam expressões. Inspirações que vão e vem e dão a sensação de linearidade. 

Na Mostra, há o Renato De Lone que lembra. Que observa. Que reflete. Que quer ser simples e está nas telas e nas cores como a criança que faz castelos de areia enquanto um barco de papel transita num mar azul abaixo de um céu amarelo. 

Ou na pele de crianças que seguem em direção a uma bola vermelha enquanto um casal de senhores, na direção opostas, se encaminham para uma bola azul. Ou o menino no semáforo que equilibra as cores do sinaleiro com mais destaque para as bolas vermelhas, que remetem a: PARE! PARE! PARE! De Lone está em cada obra dele, como está o cotidiano para as cenas observadas pelos nossos olhos. Em comum entre todos, o artista que requer atenção, com obras que pedem esclarecimento pela profundidade que transparecem: eu quero morar num país em que De Lone pinte sempre.


Também estão nas telas dele o menino nostálgico, outro que compara as bolas de gás com o balão que está próximo. Está nos companheiros animais de estimação, ou seriam grandes ursos de pelúcia os observadores de nosso tempo? Está até no homem que ama as mulheres a partir de uma área isolada que retrata o sexo feminino de maneira picante. Mas até nisso há linearidade: a exposição é dedicada a uma mulher, a mãe do artista, talvez. A mostra apresenta 17 pinturas sobre tela, em comum na maioria delas, a presença de pombos em cima de fios elétricos e, em algumas imagens, bolas vermelhas. 


“Eu vejo os pombos ou pássaros nos fios como expectadores dessa nossa vida corrida, cheia de problemas, lutas, desespero e etc... Eles estão num plano superior, de um ponto de vista diferente. Mas não nos abandonam. Embora teimamos em aprisioná-los quando podemos,  quando se cansam da cena, batem asas e voam para outro lugar... Isso eu chamei de ‘Amores Urbanos’. A bola vermelha significa um ponto de fuga disso tudo. A vida, a diversão, a alegria. Certa coisa de infância... uma lembrança, uma saudade...”, explicou ele, brilhante. Se eu fosse você, eu não perderia.

Serviço
A exposição "Amores Urbanos" fica aberta ao publico até este sábado, 9 de maio, na área Vip da Galeria de Arte Braz Cubas, na Av. Pinheiro Machado, 48. Nesta sexta-feira, das 10h às 20h, e no sábados das 13h às 18h. 

É uma realização da Prefeitura de Santos, com o patrocínio da Universidade Santa Cecília, o apoio cultural da DC Realizações, do Atelier Nova Arte, Xis Design Comunicação Visual, JF Sun Polarizados, André Monteiro Fotografia e Eikones Escritório de Arte. 

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