Akim Rohula Neto, psicólogo, autor de "Psicoterapia em Gotas"
Por Helder Miranda
Em abril de 2015
Desde 2012, o psicólogo Akim Rohula Neto criou um blog com a intenção de levar ao conhecimento dos internautas a psicoterapia na prática a partir de transcrições de sessões, mostrando momentos em que os clientes aprendem algo, tocam suas emoções, realizam mudanças e desenvolvem a individualidade.
O objetivo sempre foi o de mostrar que a psicoterapia é um processo simples, dinâmico e enriquecedor, que pode servir para qualquer pessoa que esteja interessada em desenvolver o seu eu de maneira saudável e realista. Depois de algum tempo tornou-se evidente com as crescentes visualizações, que a ideia poderia ter outro formato e, no final de 2013, o autor resolveu transformar o blog em um livro, “Psicoterapia em Gotas”.
O livro apresenta relatos verídicos extraídos de diversos atendimentos a pacientes. "Eu apresento o caso e depois explico o que foi feito como tratamento para o mesmo", destaca Akim. A publicação também apresenta diálogos que o autor manteve com seu terapeuta. "Todos os dados foram alterados com o intuito de não identificar as pessoas que confabulam comigo, porém a estrutura do problema é real", conclui Akim.
Muito além do blog, o livro é fruto de dez anos de trabalho de Akim, ouvindo pacientes relatarem seus problemas, ajudando-os a compreenderem a estrutura de suas condições e a criarem soluções para mudarem suas realidades. "A psicoterapia é simples, concreta e muito poderosa, mas este livro não é uma obra técnica, trata-se de um guia, com várias ideias e exercícios que deram certo para muitos clientes, nada mais do que isso", explica o autor.
Akim diz que a psicoterapia tem a ver com responder a pergunta: "como viver quem sou?". Ele ainda relata que as pessoas percebem quando estão vivendo suas próprias experiências ou quando deixam-na de lado e vão apenas "empurrando com a barriga" e que o processo de terapia ajuda a tornar isso evidente e concreto o que propicia a mudança. Há alguns outros conceitos, como por exemplo, quando há necessidade de magoar pelos motivos corretos – será que isto existe? Ele esclarece!
Nascido em 27 de setembro 1981, em Curitiba, no Paraná, Akim é graduado em Psicologia na PUC-PR em 2004, e completou sua formação com os cursos de Psicologia Corporal, Programação Neurolinguística PNL e Psicologia Sistêmica. Seu trabalho abrange psicoterapia, palestras, workshops e treinamentos nas áreas de desenvolvimento pessoal e relacionamentos interpessoais.
Atua desde março de 2004 com psicoterapia. Atende adolescentes, adultos, casais e famílias. Ministra palestras e cursos sobre a temática do desenvolvimento humano. É membro da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática, onde aperfeiçoa seus estudos sobre a relação mente-corpo, no entendimento dos processos de doença e saúde.
AKIM ROHULA NETO - Em primeiro lugar é importante deixar claro que o conteúdo não é literal, ou seja, eu faço um arranjo para que não exista identificação. Resolvi fazer isso como uma maneira de divulgar o fazer terapia. Muitas pessoas tem curiosidade sobre terapia e o blog é uma tentativa de aproximar a pessoa do universo da terapia sem ter que necessariamente estar fazendo terapia.
RESENHANDO - Tendo em vista que os conteúdos de uma sessão de terapia deve ser mantido em segredo, escrever sobre eles não é ultrapassar algum dilema ético?
A. R. K. - Se eu passasse o conteúdo literalmente seria um problema ético, porém não é isso que faço. Modifico sexo, profissão, situação apresentada, mantendo apenas a estrutura do problema. Desta maneira, não exponho o cliente com o conteúdo literal de sua sessão. Além disso, existem muitos livros na Psicologia que expõe na íntegra o conteúdo, isso é possível de ser feito desde que exista a autorização do cliente ciente de tudo o que será apresentado, embora não seja o caso do blog, essa possibilidade também existe e, neste contexto, não se caracteriza como falta de ética.
RESENHANDO - Qual a melhor maneira de "como viver quem sou"?
A. R. K. - Não sei. A "melhor maneira" implica que existe uma forma melhor que as outras, mas como posso afirmar que uma forma é melhor do que outra quando lido com um fenômeno que muda? O que serve como "o melhor" para um adolescente ainda serve para um adulto pai de filhos pequenos? Acredito que não. Viver quem sou não se trata de um "melhor ou pior", mas sim de estar atento à sua percepção de "eu", seus desejos, sua realidade e seus objetivos. Fazer escolhas e com isso ver se você está de fato expressando-se da maneira que deseja. Colher os frutos - positivos, negativos, à "favor" ou "contra" a sua experiência e desejo - e aprender com eles. Creio que a nossa vida é uma história e cabe à nós interpretarmos ela dando o devido valor ao que ocorre nela, isso é o mais importante.
RESENHANDO - Como se libertar dos vampiros emocionais?
Apenas se aprisiona a um vampiro emocional quem, de alguma, forma, concorda com a vampirização. Alguns dão valor ao fato de serem vítimas deste tipo de comportamento porque de alguma forma sentem-se valorizados com isso. O papel de mártir, por exemplo, é muito comum em nossa cultura e ele combina perfeitamente com um vampiro emocional. De outra maneira, temos a pessoa que por ser muito submissa termina por satisfazer as necessidades de um vampiro emocional que precisa sentir-se por cima o tempo todo. Assim sendo, a libertação ocorre quando a pessoa vampirizada muda o seu próprio comportamento e avalia a sua relação com o vampiro entendendo que ela não é útil. Este é o primeiro passo, o segundo é começar a agir de acordo com novas regras de comportamento e visando novos tipos de relação. A pergunta: "o que você quer de uma relação?" se faz muito importante aqui.
RESENHANDO - Por que o título "Psicoterapia em Gotas"?
A. R. K. - Psicoterapia em gotas vem da ideia de fazer algo sucinto para as pessoas lerem. O oceano de experiências da vida humana vivida em pequenas doses, pequenas gotas. Uma tempestade, assim como o oceano, são apenas gotas. Em geral, nós, psicólogos, gostamos de textos longos e profundos, mas isso não serve bem ao público de hoje, então busquei fazer as gotinhas, curtas e com conteúdo para chamar o interesse e, então, buscar mais profundidade. Inclusive ao final do livro aparece uma série de referências comentadas para quem deseja buscar mais. Achei muito interessante que várias pessoas entraram em contato comigo dizendo que adoraram em especial essas recomendações.
RESENHANDO - Quais os principais problemas que as pessoas trazem até você em seu consultório?
A. R. K. - Os que exponho no livro. Problemas de autoestima, relacionamentos, depressão, falta de objetivos, decepções amorosas. É interessante observar que o motivo específico que leva a pessoa à terapia muitas vezes não é o "problema" real dela. Ou seja, muitas vezes o problema de uma relação conjugal pode estar alicerçada sobre um problema de baixa autoestima. Assim, é muito comum que a pessoa procure a terapia olhando apenas o sintoma e lá descobre a causa. Em terapia sistêmica, chamamos isso de problema de primeira e de segunda ordem.
RESENHANDO - Quando é necessário magoar, pelos motivos corretos?
A. R. K. - A pergunta colocada desta maneira implica que o ato de magoar se faz necessário. Não concordo com isso. Entendo que em algumas situações uma pessoa pode acabar se magoando com outra, porém isso é uma consequência e não o desejo inicial. O término de uma relação, por exemplo, é comum que quando uma pessoa quer terminar e a outra não, aquela que não deseja sinta-se magoada com quem deseja. O intuito de quem quer terminar não precisa - para falar sobre o termo "necessário" - ser magoar o outro, porém pode ser que venha a ter que lidar com isso. Se entendermos que existem "motivos corretos" estaremos justificando o ato de magoar e isso pode ser perigoso. Mágoa é mágoa, ela dói independente de ser "certa" ou "errada". A questão é se a pessoa que promove este sentimento irá conseguir lidar com isso ou não. Não é algo fácil, voltando aos relacionamentos, em geral quem termina sente uma espécie de culpa ao ver o sofrimento do outro e porque não sentiria? No entanto, não creio que seja o caso da pessoa se destruir por esta culpa, mas sim entendê-la como parte do processo de ver o outro com dor por algo que ela desejou fazer.
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