Em frente ao espelho do banheiro eu sou surpreendido dando bom dia a mim mesmo. E para minha surpresa, ouço que alguém responde. Devo estar delirando? Estou com febre? Para tirar a prova, ponho a mão em meu pescoço e percebo que ainda tenho os sintomas. Sinto que os comprimidos não fizeram o efeito esperado e a gripe teima em deixar o meu nariz estranho, escorrendo às vezes, e o peito dolorido pelas inúmeras quantidades de espirros.
No entanto, tomado por um senso de responsabilidade que eu nem sabia se tinha, afirmo que uma simples gripe não é o fim do mundo.
— Vou tomar um banho. Quem sabe não melhore antes de sair para o trabalho.
É claro que o milagre não aconteceu, mas o banho cura, temporariamente, a sensação estranha de dor e a vontade de espirrar. Chego ao trabalho sem apresentar nenhum sintoma alérgico.
A quantidade de coisas pendentes, acumuladas, em cima da mesa, provoca um desânimo enorme, mas a lembrança dos dias em que fiquei em casa me recuperando da febre não deixa alternativa.
— Tenho que trabalhar – digo baixinho.
Textos e mais textos para revisar e a diagramação de uma revista inteira têm prioridade zero.
Mergulho de cabeça e quando percebo que já passa do meio dia. A sirene do jornal A Tribuna toca e eu quase nem ouço.
— Hora do almoço.
Vou almoçar e volto quase que imediato. Nesse intervalo, penso nela e deixo que as palavras falem por mim.
— Queria tanto conversar com você sobre a noite passada. Tentei ligar, coração, mas não consegui.
Recordo que mais uma noite vou dormir sozinho e depois decido que o melhor a fazer para esquecer é trabalhar. Tento terminar o máximo de pendências possíveis quando o relógio marca 18 horas.
Todos os textos estavam corrigidos e metade da diagramação também. Cansado, muito mais pela gripe do que pelo trabalho, decreto que o que ficou será terminado no dia seguinte.
Volto para casa e, enquanto o sono não chega, debaixo do meu cobertor, termino o diálogo de delírio que comecei pela manhã.
quarta-feira, 22 de abril de 2015
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