terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

.: O Sentido, uma crônica de João Tavares Neto

O ideal seria estarmos preparados para adversidades na vida, mas não estamos. E, sinceramente, acredito que poucos seres humanos estão. Exceto aqueles que creditam na imortalidade passam por experiências traumáticas de forma serena. Essas pessoas especiais, mesmo tendo perdido aquilo que era a sua razão viver, ainda encontram forças para lutar e seguir em frente.

Maria Aparecida é um exemplo de pessoa que acredita piamente em vida após a vida. Não que ela tivesse formação religiosa ou fosse adepta da teoria Kardecista, apenas confiava. Ela passou por grandes provações. Primeiro foi seu filho, sua avó e depois o seu marido. No entanto, a morte de parentes próximos, num curto intervalo de tempo, não foi o bastante para abalar sua crença.

Conversei com ela pouco depois desses acontecimentos e a lucidez com que ela me explicou o motivo de continuar acreditando na vida me deixou impressionado.

- Eu teria tantos motivos para ficar em casa chorando, reclamando e lamentando, mas isso não traria as pessoas que eu amo de volta. Por isso, fui à luta.

Além da certeza de que a vida sempre continua, Maria sabia que sua missão ainda não estava completa e também precisa trabalhar para terminar de criar os outros seis filhos.

Sem direito a aposentadoria ela trabalhou, trabalhou e trabalhou ainda mais por dias e noites durante anos.

Mas apenas a labuta como costureira, profissão que exercia antes mesmo do casamento aos dezessete anos, não lhe completava. Então, decidiu fazer trabalhos voluntários para a Igreja.

Essa atividade beneficente ganhou destaque em sua comunidade. E, como tudo que se planta colhe, ela ganhou respeito e a oportunidade de trabalho para o filho mais velho. Os mais novos continuavam estudando.

Desde os acontecimentos traumáticos aquelas reações psicológicas inerentes a todos os normais – negação, revolta, barganha, depressão, – não existiram no pensamento e na vida de Maria. A aceitação foi à fase que sempre esteve presente.

- Seja feita a vossa vontade.

Com a certeza de que somente o amor nos conduz à vida eterna, Maria ampliou os limites de atendimento. Sem abandonar o trabalho, agora como professora de corte e costura, e pela certeza de ver os filhos criados, passou a dedicar o seu tempo e carinho onde quer que fosse chamada. De Alagoas, viajou para o Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo e demais Estados do Brasil ajudando necessitados com palavras de amor e ensinando pessoas a perdoar e a pedir perdão.

Mesmo jovem – na época em que seu marido partiu –, nunca mais teve outro romance. Vive, hoje, de forma altruísta, para seus filhos e o sentido da vida para ela é dedicar seu tempo para ajudar a quem precisa. 

- Sou feliz assim. Acredito que nunca estarei sozinha.

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