segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

.: Impressões sobre a bola, por João Tavares Neto

Por João Tavares Neto
Em fevereiro de 2015

Dizem que o mundo é uma bola. Eu não sei se é verdade, mas o fato é que os habitantes da Terra não param de se movimentar. Isaac Newton, o cientista inglês, afirmava que “tudo que sobe um dia desce”, atraído pela força da gravidade. E é verdade. Mesmo que viagem dure por anos e anos, todos os foguetes que são lançados ao espaço, um dia retornam. Voltam para manutenção e recarga de suas baterias e, muitas vezes, para sua merecida aposentaria.

Não é muito diferente do que aconteceu e ainda acontece com muitos homens e mulheres. Eles eram e ainda são atraídos - hoje em proporção infinitamente menor - pela força da gravidade para um lugar no Sudeste do Brasil chamado São Paulo.

Sem perspectivas de uma boa colheita, pela ausência de chuvas, nordestinos acostumados a dividir, sol, sede e fome, acreditavam que a "Terra da Garoa" era um lugar de muitas oportunidades e muita água. Infelizmente, hoje, sair do Nordeste e vir para o Sudeste, tentando fugir da seca, é trocar seis por meia dúzia.

Eu me lembro que os pioneiros desta aventura em busca de um oásis foram Cícero Tavares, Chicão, Cícero Caladinho e Zé de Mauro e muitos outros. Não posso afirmar a ordem desses acontecimentos, mas acredito que as primeiras viagens foram feitas no início da década de 1970. É claro que antes deles outras pessoas da nossa região, via São Geraldo ou Itapemirim, tenham feito a mesma trilha.

Recordo com nitidez a imagem de alguns deles, no Bar do Sr. Plácido, à beira de uma estrada que ligava o Riacho Grande (Senador Rui Palmeira) ao povoado de Caboclo, contando suas aventuras da cidade de São Paulo. Isso, entre uma dose e outra de cachaça, Pitú, Palhinha ou vinho Gengibre.

Enquanto isso, na vitrola tocava mais um recente sucesso de Amado Batista ou Carlos Alexandre. Havia também gente jogando sinuca, mas a multidão mesmo, que hoje acredito não ultrapassava 200 pessoas, aguardava o tão esperado início de mais uma partida de futebol:

— Curitiba de Passagem do Roque x Aguazinha Futebol Clube.

Para fugir do calor, todos esperavam na sombra de uma árvore em frente ao bar, que devido à influência religiosa, chamava Padre Cícero e tinha um desenho do Camarão Pitú na parede.

Porém, antes de a bola rolar, às vezes, travava-se um duelo, proporcionalmente comparado a batalha entre Davi e Golias, por causa do físico dos atletas (Arlindo André x Carlos Marin). 

Mas, fiquem tranquilos. Não havia tiros como no Velho Oeste, nem morte como nos personagem bíblicos. Tudo girava em torno de uma bola. A disputa era em cobrança de pênaltis, melhor de cinco. No entanto, o que me intrigava não era a força potente de cada chute, nem o montante em dinheiro envolvido nessas disputas. A impressão que eu sentia era que a bola podia girar, girar, e girar até se perder para sempre entre as plantações.

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