segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

.: "O novo" em análise comparativa e intertextual

O produto resultante do produto
Por: Mary Ellen Farias dos Santos*
Em janeiro de 2015*


Em análise, trechos de Sandra Nitrini e Dialogismo, Polifonia, Intertextualidade, de Diana Luz Pessoa de Barros e José Luis Fiorin, os quais têm como tema principal a relação com o sujeito, o inconsciente e a ideologia, isto é, a intertextualidade, a qual foi concebida por Julia Kristeva e recebida por comparatistas “como um instrumento eficaz para injetar sangue novo no estudo dos conceitos de ‘fonte’ e de influência”. 

De acordo com Bakthin, “o texto, portanto, situa-se na história e na sociedade. Estas por sua vez, também constituem o texto que o escritor lê e nas quais se insere ao reescreve-las”. De fato, escrevemos aquilo que vemos, lemos e ouvimos, isto é, hoje somos o resultado da experiência do “ontem” e “amanhã” seremos o resultado do “hoje”. Somos complexos. Logo o que produzidos é também complexo. 

Exemplo disto é este texto escrito. É por meio deste que resumirei o que foi assimilado e darei o meu ponto de vista sobre o tema: intertextualidade. Tal produção é o resultado da leitura dos textos indicados em sala de aula, o qual também terá contribuições da minha experiência de vida e de outros textos que li até o presente momento.

Talvez, seja por isto que no Dicionário Enciclopédico Focus, escrever está definido como: redigir, compor. De fato ao re-digir algo, nós compomos, principalmente os artistas que tanto gostam de inovar, isto é, fazer a sua releitura de algo que marcou uma determinada época.

A releitura seria uma maneira de aproximar a obra de uma época distante para os dias atuais e seus conflitos. É seguindo o pensamento de Bakthin que melhor pode-se explicar este pensamento: “A diacronia se transforma em sincronia, e à luz dessa transformação, a história linear surge como uma abstração”.

Embora Kristeva diga que a intertextualidade no sentido estrito não tenha relação com a crítica das “fontes”, o estudioso Laurent Jenny define esta máxima contestando tal afirmação da melhor maneira: “A intertextualidade não é uma adição confusa e misteriosa de influências, mas o trabalho de transformação e assimilação de vários textos operado por um texto centralizador que mantém o comando do sentido”.

Tendo esta afirmativa em vista, pode-se chegar à conclusão de que a “sua” produção, seja esta expressa nas mais diferentes áreas da arte, ela, de certa forma, não é “sua”. É apenas o resultado do que já se viveu. Exemplo bastante próximo é a atividade de Criatividade, logo abaixo. 

Canção ao sabiá, foi criada, após a leitura e análise dos poemas Canção do Exílio, de Gonçalves Dias e Nova Canção do Exílio, de Carlos Drummond de Andrade, ou seja, é o resultado do produto primeiro, o qual originou o produto segundo. No entanto, o produto primeiro também foi gerado a partir das experiências de Gonçalves Dias.

Enfim, gera-se sempre um produto de um outro produto, e assim, por diante. Resultado: “Tudo que nos parece inovador é um subproduto”.





*Trabalho originalmente realizado para o módulo Literatura Comparada, do curso de Pós-graduação em Literatura, da Universidade Católica de Santos, em 16 de novembro de 2005.
* Mary Ellen é editora do site cultural www.resenhando.com. É jornalista, professora e roteirista. Twitter: @maryellenfsm

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